São Paulo, quinta-feira, 06 de dezembro de 2007

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Incerteza reduz ataques à política de juros

"Fogo amigo" do governo é atenuado por dúvidas sobre os efeitos da crise nos EUA no câmbio e o consumo em alta

Para analista, é preciso esperar desfechos para mexer novamente na taxa de juros, possivelmente só em março de 2008

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de meses na mira do "fogo amigo" dos críticos da política monetária dentro do governo, os diretores do Banco Central que integram o Copom (Comitê de Política Monetária) vivem um momento de trégua que pode durar até março do ano que vem. Esse é o período em que, estimam especialistas dentro e fora do governo, a taxa de juros deverá ficar estável à espera dos desdobramentos de questões essenciais para as decisões do comitê.
A indefinição em relação ao reflexo da crise internacional no mercado de câmbio, a pressão do aumento do consumo na inflação e a prorrogação da CPMF esvaziaram temporariamente os discursos contra a atuação do BC. Isso apesar de o grupo dos insatisfeitos com o nível dos juros ter sido reforçado no governo com a entrada do ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) e do presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcio Pochmann.
"Não há nenhuma novidade que possa justificar uma alteração do quadro nas próximas reuniões", afirma o economista Caio Megale, da MauáInvest. "Ainda estamos num estágio anterior, de avaliar melhor o cenário para, depois, tentar traçar o próximo passo do Copom", diz Megale.
Para a economista Sandra Utsumi, do Banco Espírito Santo Investimentos, dificilmente o BC terá argumentos para mudar o discurso atual contra novos cortes dos juros. "Como as incertezas são tantas, não há quem questione isso agora". Com isso, a chamada "tensão pré-Copom" diminuiu.
Há muito tempo, um dia de reunião do Copom não era tão tranqüilo no mercado financeiro como ontem. Isso apesar do cenário externo nublado. Dentro do governo, avalia-se que a economia brasileira não foi afetada significativamente pela crise do mercado imobiliário nos EUA, mas ainda pode sofrer impactos.
Um canal de contágio identificado é a taxa de câmbio. Um cenário de recessão na economia americana e fuga de investidores pode fazer com que o real se desvalorize ante o dólar. Se isso deixará satisfeito o empresariado que vende produtos ao exterior, poderá ter reflexos na inflação ao encarecer os importados. As projeções para o IPCA (índice de referência) para 2008 estão em 4,10%, valor próximo à meta de 4,50%.
Além disso, o aquecimento da economia continua acelerado, e a perspectiva é que a recuperação da renda de parte da população, o aumento do crédito e o efeito defasado das reduções da taxa de juros promovidas ao longo deste ano continuarão dando fôlego para o nível de atividade, pelo menos até junho do ano que vem.
Outra questão delicada é o impasse em relação à prorrogação da CPMF. Sem o imposto, o governo pode ser obrigado a fazer cortes de gastos significativos que deverão ter impacto no ritmo de crescimento da economia. Mas, se a contribuição for aprovada no Congresso, a expectativa é que a economia brasileira tenha um crescimento forte caso os estragos da crise dos EUA no sistema bancário e no crescimento mundiais não tenham grande magnitude.


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