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Incerteza reduz ataques à política de juros
"Fogo amigo" do governo é atenuado por dúvidas sobre os efeitos da crise nos EUA no câmbio e o consumo em alta
Para analista, é preciso esperar desfechos para mexer novamente na taxa de juros, possivelmente
só em março de 2008
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de meses na mira do
"fogo amigo" dos críticos da política monetária dentro do governo, os diretores do Banco
Central que integram o Copom
(Comitê de Política Monetária)
vivem um momento de trégua
que pode durar até março do
ano que vem. Esse é o período
em que, estimam especialistas
dentro e fora do governo, a taxa
de juros deverá ficar estável à
espera dos desdobramentos de
questões essenciais para as decisões do comitê.
A indefinição em relação ao
reflexo da crise internacional
no mercado de câmbio, a pressão do aumento do consumo na
inflação e a prorrogação da
CPMF esvaziaram temporariamente os discursos contra a
atuação do BC. Isso apesar de o
grupo dos insatisfeitos com o
nível dos juros ter sido reforçado no governo com a entrada
do ministro Mangabeira Unger
(Assuntos Estratégicos) e do
presidente do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcio Pochmann.
"Não há nenhuma novidade
que possa justificar uma alteração do quadro nas próximas
reuniões", afirma o economista
Caio Megale, da MauáInvest.
"Ainda estamos num estágio
anterior, de avaliar melhor o
cenário para, depois, tentar traçar o próximo passo do Copom", diz Megale.
Para a economista Sandra
Utsumi, do Banco Espírito Santo Investimentos, dificilmente
o BC terá argumentos para mudar o discurso atual contra novos cortes dos juros. "Como as
incertezas são tantas, não há
quem questione isso agora".
Com isso, a chamada "tensão
pré-Copom" diminuiu.
Há muito tempo, um dia de
reunião do Copom não era tão
tranqüilo no mercado financeiro como ontem. Isso apesar do
cenário externo nublado. Dentro do governo, avalia-se que a
economia brasileira não foi afetada significativamente pela
crise do mercado imobiliário
nos EUA, mas ainda pode sofrer impactos.
Um canal de contágio identificado é a taxa de câmbio. Um
cenário de recessão na economia americana e fuga de investidores pode fazer com que o
real se desvalorize ante o dólar.
Se isso deixará satisfeito o empresariado que vende produtos
ao exterior, poderá ter reflexos
na inflação ao encarecer os importados. As projeções para o
IPCA (índice de referência) para 2008 estão em 4,10%, valor
próximo à meta de 4,50%.
Além disso, o aquecimento
da economia continua acelerado, e a perspectiva é que a recuperação da renda de parte da
população, o aumento do crédito e o efeito defasado das reduções da taxa de juros promovidas ao longo deste ano continuarão dando fôlego para o nível de atividade, pelo menos até
junho do ano que vem.
Outra questão delicada é o
impasse em relação à prorrogação da CPMF. Sem o imposto, o
governo pode ser obrigado a fazer cortes de gastos significativos que deverão ter impacto no
ritmo de crescimento da economia. Mas, se a contribuição
for aprovada no Congresso, a
expectativa é que a economia
brasileira tenha um crescimento forte caso os estragos da crise dos EUA no sistema bancário e no crescimento mundiais
não tenham grande magnitude.
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