São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

O dinossauro se moveu de novo


A verdade é que a turma da bufunfa aprontou "brabo" nos EUA e na Europa; e ainda não há luz no fim desse túnel

EM ARTIGO publicado nesta coluna em outubro, tomei como mote uma declaração do ministro da Fazenda, Guido Mantega. "O dinossauro se moveu", disse ele aqui em Washington, durante a reunião anual do Fundo Monetário Internacional, a propósito dos primeiros sinais de que seria possível alcançar uma reforma adequada das quotas e do poder de voto da instituição, com aumento da participação dos países em desenvolvimento. A tirada tinha razão de ser, pois o Fundo tem traços jurássicos -é uma instituição pesada e antiquada em diversos aspectos. Demora muito a se adaptar à evolução do mundo, em especial à importância crescente das economias emergentes.
De lá para cá, o dinossauro continuou se movendo e começaram a surgir indicações mais claras de que a reforma do Fundo poderá avançar em 2008. Não pretendo falar desse tema das quotas hoje -volto a abordá-lo em momento mais oportuno.
Queria era comentar um outro movimento do dinossauro -as recentes manifestações do novo diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, sobre política fiscal contracícilica. Refiro-me às suas declarações em Davos e a um artigo publicado por ele no "Financial Times", que foi reproduzido pela Folha neste espaço no dia 1o de fevereiro. Strauss-Kahn defendeu a adoção de uma política fiscal expansiva, isto é, medidas de aumento de gastos públicos ou diminuição de impostos, como forma de combater a perigosa desaceleração global. Segundo ele, os países que tiverem espaço para tal, desenvolvidos e emergentes, devem proporcionar um estímulo fiscal agora.
As manifestações de Strauss-Kahn causaram surpresa. Foram bem recebidas por todos os que lamentam a rigidez e o caráter freqüentemente rotineiro das recomendações do Fundo. A defesa de políticas fiscais ativistas, de tipo keynesiano, não é o que normalmente se espera do FMI. O economista Larry Summers, ministro das Finanças no governo Clinton, observou: "É a primeira vez em 25 anos que o diretor-gerente do FMI pede um aumento dos déficits fiscais, e eu considero isso um reconhecimento da gravidade da situação que enfrentamos".
Há certo exagero na afirmação de Summers. O Fundo já apoiou políticas fiscais anticíclicas em certas situações, embora isso não seja muito comum. Parece claro, entretanto, que Strauss-Kahn deu outra ênfase ao tema, marcando diferença em relação a seus antecessores no comando da instituição.
Mas, como observou Summers, o ponto mais importante é o reconhecimento da gravidade da crise atual, que tem o seu epicentro nos mercados financeiros. Nesta semana, tivemos novas indicações de que o risco de uma recessão está aumentando nos EUA. As últimas projeções do FMI, recém-divulgadas, apontam para uma desaceleração significativa dos países desenvolvidos em 2008. Mesmo as economias emergentes e em desenvolvimento, que no seu conjunto não deram sinais de desaceleração até 2007, devem registrar queda na taxa de crescimento, de cerca de 8% em 2007 para 7% em 2008, segundo o FMI. Os técnicos do Fundo alertaram, além disso, que o risco é de que os resultados da economia mundial acabem ficando abaixo dessas projeções, principalmente por causa da turbulência nos principais mercados financeiros.
A verdade é que aqui nos EUA, e também na Europa, a turma da bufunfa aprontou "brabo"! E ainda não há luz no fim desse túnel.


PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net


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