São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2008

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Recessão nem sempre traz queda longa nas ações

Impacto da crise dos EUA no Brasil ainda é incerto, afirmam analistas

Para alguns especialistas, recessão nos Estados Unidos deve ser curta e suave, mas seguida por período mais longo de baixo crescimento

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Recessão nos Estados Unidos nem sempre implica longos períodos de queda das Bolsas. Com a provável recessão nos Estados Unidos, o mercado de ações no Brasil pode sofrer muito como aconteceu em 2001 ou nem tanto quanto em 1990 e 1991 ou em 1980.
Embora períodos de desaceleração econômica não se repitam da mesma forma, analistas se perguntam que tipo de recessão poderá ser essa. Investidores devem se preparar para um curto ou para um longo período de vacas magras nos mercados de capitais?
Para muitos especialistas, a crise atual se assemelha à recessão vivida pelos Estados Unidos em 1990 e 1991: um boom imobiliário e maus empréstimos que machucaram os balanços dos bancos.
O Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) começou a cortar as taxas de juros antes mesmo de a recessão começar. A desaceleração ocorreu, mas não foi tão terrível para as Bolsas.
"Nós ainda acreditamos que a recessão será relativamente curta e suave", afirma Sam Stovall, da área de mercado de ações da agência de classificação de risco Standard & Poor's, em Nova York.
Para Stovall, sem o pacote de estímulo e o rápido afrouxamento da política monetária pelo Fed, essa recessão se pareceria com a desaceleração de 1991. "Com essas ajudas, a recessão será mais leve, ainda que mais profunda que a de 2001", afirma.
O índice S&P 500 da Bolsa de Nova York caiu 18,6% desde seu último pico, em 9 de outubro de 2007 a 10 de março de 2008. O Ibovespa registra no mesmo período queda de 3%.

Economia real
O mercado reage normalmente antes da recessão "oficial" e também se recupera antecipadamente antes do final do período recessivo. A economia real é mais lenta que o mercado financeiro, lembra Walter Mendes, do banco Itaú.
Nos três períodos de recessão entre 1980 e 1991, as ações ficaram no terreno positivo antes de a recessão terminar.
Para Mendes, começa a surgir um sentimento de que a crise de crédito já passou pelo pior, que os prejuízos totais já foram apresentados pelos grandes bancos estrangeiros.
"Ainda é difícil de mensurar esse tipo de sentimento. Mas a reação positiva do mercado aos anúncios de capitalização do UBS e do Lehman Brothers na semana passada pode ser um sinalizador dessa mudança de sentimento."
O que mais se discute hoje não é mais se haverá recessão, mas qual será a sua duração.
Muitos analistas acreditam que o segundo semestre de 2008 mostrará uma recuperação.
"O desempenho da economia dos Estados Unidos no segundo semestre é essencial para ver o que vai acontecer nos outros mercados", diz Mendes.
Mas a recuperação das instituições atingidas pode demorar mais. "Até que voltem a ter volume de empréstimos, melhora nos balanços, isso pode levar dois anos", afirma.

1970, 2001
A pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial foi a de 1973 a 1975. O tombo do S&P 500 foi de 25%, considerando do começo ao fim da recessão, na definição do período pelo National Bureau of Economic Research.
Tanto na recessão dos anos 1970 quanto em 2001, os preços estavam altos nos Estados Unidos, tanto nas Bolsas quanto nos imóveis.
Os preços das Bolsas atualmente, porém, não estão tão altos quanto os registrados naqueles períodos.
No Brasil, a média do preço das ações é inferior à média dos emergentes. O que ocorre com a economia, se ela se contrai ou quanto cresce o desemprego, não repercute necessariamente no mercado de ações.
"Não há relação entre PIB e Bolsa", diz William Eid Junior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getúlio Vargas). "Há muitos fatores que afetam a Bolsa, mas a relação PIB e Bolsa não é estatisticamente significativa."

Recessão em curso
Para alguns analistas, é possível que a recessão americana já tenha começado no início deste ano. "Foi a partir daquele momento que renda, emprego e produção começaram efetivamente a cair", diz Caio Megale, economista da Mauá Investimentos.
Entre janeiro e fevereiro, os Estados Unidos começaram a apresentar taxas de crescimento negativas, e não taxas de crescimento menores, como ocorre quando a economia desacelera.
Tecnicamente, a recessão é caracterizada pela queda da atividade econômica por dois ou mais trimestres consecutivos.
Megale também acredita que a recessão não será profunda, mas que o período de baixo crescimento tende a ser prolongado.
"Os motores do consumo e do investimento, como crédito, sistema financeiro, renda disponível, estão muito abalados e não devem se recompor tão rápido", afirma o economista.
Com isso, não vê grandes chances de alta nas Bolsas dos EUA. "No Ibovespa, ações de menor liquidez que sofreram muito em 2007, podem voltar a subir, refletindo a boa perspectiva de crescimento brasileiro." Para o consultor Luiz Antonio Vaz das Neves, o Ibovespa deve acumular uma alta pouco expressiva ao final de 2008.
"É um típico mercado para profissionais especularem e investidores assistirem."


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