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Recessão nem sempre traz queda longa nas ações
Impacto da crise dos EUA no Brasil ainda é incerto, afirmam analistas
Para alguns especialistas, recessão nos Estados Unidos deve ser curta e suave, mas seguida por período mais longo de baixo crescimento
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Recessão nos Estados Unidos nem sempre implica longos
períodos de queda das Bolsas.
Com a provável recessão nos
Estados Unidos, o mercado de
ações no Brasil pode sofrer
muito como aconteceu em
2001 ou nem tanto quanto em
1990 e 1991 ou em 1980.
Embora períodos de desaceleração econômica não se repitam da mesma forma, analistas
se perguntam que tipo de recessão poderá ser essa. Investidores devem se preparar para
um curto ou para um longo período de vacas magras nos mercados de capitais?
Para muitos especialistas, a
crise atual se assemelha à recessão vivida pelos Estados
Unidos em 1990 e 1991: um
boom imobiliário e maus empréstimos que machucaram os
balanços dos bancos.
O Federal Reserve (o banco
central dos Estados Unidos)
começou a cortar as taxas de juros antes mesmo de a recessão
começar. A desaceleração ocorreu, mas não foi tão terrível para as Bolsas.
"Nós ainda acreditamos que
a recessão será relativamente
curta e suave", afirma Sam Stovall, da área de mercado de
ações da agência de classificação de risco Standard & Poor's,
em Nova York.
Para Stovall, sem o pacote de
estímulo e o rápido afrouxamento da política monetária
pelo Fed, essa recessão se pareceria com a desaceleração de
1991. "Com essas ajudas, a recessão será mais leve, ainda que
mais profunda que a de 2001",
afirma.
O índice S&P 500 da Bolsa de
Nova York caiu 18,6% desde
seu último pico, em 9 de outubro de 2007 a 10 de março de
2008. O Ibovespa registra no
mesmo período queda de 3%.
Economia real
O mercado reage normalmente antes da recessão "oficial" e também se recupera antecipadamente antes do final
do período recessivo. A economia real é mais lenta que o mercado financeiro, lembra Walter
Mendes, do banco Itaú.
Nos três períodos de recessão entre 1980 e 1991, as ações
ficaram no terreno positivo antes de a recessão terminar.
Para Mendes, começa a surgir um sentimento de que a crise de crédito já passou pelo
pior, que os prejuízos totais já
foram apresentados pelos
grandes bancos estrangeiros.
"Ainda é difícil de mensurar
esse tipo de sentimento. Mas a
reação positiva do mercado aos
anúncios de capitalização do
UBS e do Lehman Brothers na
semana passada pode ser um
sinalizador dessa mudança de
sentimento."
O que mais se discute hoje
não é mais se haverá recessão,
mas qual será a sua duração.
Muitos analistas acreditam
que o segundo semestre de
2008 mostrará uma recuperação.
"O desempenho da economia
dos Estados Unidos no segundo
semestre é essencial para ver o
que vai acontecer nos outros
mercados", diz Mendes.
Mas a recuperação das instituições atingidas pode demorar
mais. "Até que voltem a ter volume de empréstimos, melhora
nos balanços, isso pode levar
dois anos", afirma.
1970, 2001
A pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial foi a de
1973 a 1975. O tombo do S&P
500 foi de 25%, considerando
do começo ao fim da recessão,
na definição do período pelo
National Bureau of Economic
Research.
Tanto na recessão dos anos
1970 quanto em 2001, os preços
estavam altos nos Estados Unidos, tanto nas Bolsas quanto
nos imóveis.
Os preços das Bolsas atualmente, porém, não estão tão altos quanto os registrados naqueles períodos.
No Brasil, a média do preço
das ações é inferior à média dos
emergentes. O que ocorre com
a economia, se ela se contrai ou
quanto cresce o desemprego,
não repercute necessariamente no mercado de ações.
"Não há relação entre PIB e
Bolsa", diz William Eid Junior,
coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV
(Fundação Getúlio Vargas).
"Há muitos fatores que afetam
a Bolsa, mas a relação PIB e
Bolsa não é estatisticamente
significativa."
Recessão em curso
Para alguns analistas, é possível que a recessão americana
já tenha começado no início
deste ano. "Foi a partir daquele
momento que renda, emprego
e produção começaram efetivamente a cair", diz Caio Megale,
economista da Mauá Investimentos.
Entre janeiro e fevereiro, os
Estados Unidos começaram a
apresentar taxas de crescimento negativas, e não taxas de
crescimento menores, como
ocorre quando a economia desacelera.
Tecnicamente, a recessão é
caracterizada pela queda da atividade econômica por dois ou
mais trimestres consecutivos.
Megale também acredita que
a recessão não será profunda,
mas que o período de baixo
crescimento tende a ser prolongado.
"Os motores do consumo e
do investimento, como crédito,
sistema financeiro, renda disponível, estão muito abalados e
não devem se recompor tão rápido", afirma o economista.
Com isso, não vê grandes
chances de alta nas Bolsas dos
EUA. "No Ibovespa, ações de
menor liquidez que sofreram
muito em 2007, podem voltar a
subir, refletindo a boa perspectiva de crescimento brasileiro."
Para o consultor Luiz Antonio
Vaz das Neves, o Ibovespa deve
acumular uma alta pouco expressiva ao final de 2008.
"É um típico mercado para
profissionais especularem e investidores assistirem."
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