São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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Petrobras tem "colchão" de R$ 2 bi

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A Petrobras usa um "colchão" de R$ 2 bilhões, formado no ano passado graças à prática de preços dos combustíveis acima dos níveis do mercado internacional, para evitar reajuste agora, quando os seus preços estão defasados. O cálculo é do consultor Adriano Pires Rodrigues, do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura). Segundo ele, a empresa já "queimou" R$ 500 milhões para manter os preços estáveis.
A Petrobras admite que há defasagem nos preços, sem quantificá-la, mas informou que "não há nenhuma expectativa de reajuste". De acordo com a empresa, da mesma forma que há defasagem, há realmente uma "gordura" acumulada na época que os preços internacionais estavam baixos.
A empresa informou que tem acompanhado as oscilações do mercado e que não tomará decisões baseadas em situações de curto prazo. Segundo técnicos da empresa ouvidos pela Folha, não há indício de que a estatal esteja para aumentar a gasolina, o diesel e o GLP (gás de cozinha).
Um deles disse que um reajuste agora seria politicamente problemático, já que o governo está com um anúncio na mídia ressaltando que os combustíveis subiram pouco na atual gestão, em comparação com os oito anos (1995-2002) do governo Fernando Henrique Cardoso.
Pelos cálculos de Rodrigues, ontem o preço da gasolina da estatal estava com uma defasagem de aproximadamente 30% em relação ao preço do mercado da área do golfo do México. O diesel, segundo ele, está 10% mais barato, e o GLP, 15%. Se não houver reajuste e o petróleo seguir em alta no mercado, ele avalia que em três meses a estatal terá queimado a totalidade dos R$ 2 bilhões acumulados em 2003.
O analista considera o mercado do golfo o mais adequado para comparar os preços brasileiros por entender que, no caso de necessidade, ele é o centro mais próximo em condições de fornecer produtos nas quantidades necessárias ao abastecimento do país.
A estatal discorda da metodologia que compara seus preços com os do golfo, preferindo compará-los com uma "cesta" de cotações internacionais coletadas em vários pontos de negociação.
Para Rodrigues, a política de compensar a defasagem atual com o sobrepreço do ano passado seria até correta se fosse feita de dentro de regras previamente estabelecidas. Não sendo, ele avalia que ela causa incertezas para o mercado, na medida em que compromete a previsibilidade.
A incerteza inibiria, por exemplo, decisões de investir em produtos que funcionam como alternativas à gasolina, como o álcool combustível e o GNV (gás natural veicular). Outro problema é que a manutenção dos preços dos combustíveis, enquanto no mercado internacional eles estão em alta, gera prejuízos para os acionistas da Petrobras, inclusive o governo, que a controla.
Rodrigues disse estar claro que os preços dos combustíveis não são livres. Para ele, o governo administra os preços de acordo com sua prioridade do momento.
Em 2003 a tendência foi de mantê-los elevados porque a prioridade era garantir um superávit fiscal de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto). Neste ano, os preços devem ser mantidos baixos para evitar pressões inflacionárias.


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