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Petrobras tem "colchão" de R$ 2 bi
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A Petrobras usa um "colchão"
de R$ 2 bilhões, formado no ano
passado graças à prática de preços
dos combustíveis acima dos níveis do mercado internacional,
para evitar reajuste agora, quando
os seus preços estão defasados. O
cálculo é do consultor Adriano Pires Rodrigues, do CBIE (Centro
Brasileiro de Infra-Estrutura). Segundo ele, a empresa já "queimou" R$ 500 milhões para manter os preços estáveis.
A Petrobras admite que há defasagem nos preços, sem quantificá-la, mas informou que "não há
nenhuma expectativa de reajuste". De acordo com a empresa, da
mesma forma que há defasagem,
há realmente uma "gordura" acumulada na época que os preços
internacionais estavam baixos.
A empresa informou que tem
acompanhado as oscilações do
mercado e que não tomará decisões baseadas em situações de
curto prazo. Segundo técnicos da
empresa ouvidos pela Folha, não
há indício de que a estatal esteja
para aumentar a gasolina, o diesel
e o GLP (gás de cozinha).
Um deles disse que um reajuste
agora seria politicamente problemático, já que o governo está com
um anúncio na mídia ressaltando
que os combustíveis subiram
pouco na atual gestão, em comparação com os oito anos (1995-2002) do governo Fernando Henrique Cardoso.
Pelos cálculos de Rodrigues, ontem o preço da gasolina da estatal
estava com uma defasagem de
aproximadamente 30% em relação ao preço do mercado da área
do golfo do México. O diesel, segundo ele, está 10% mais barato, e
o GLP, 15%. Se não houver reajuste e o petróleo seguir em alta no
mercado, ele avalia que em três
meses a estatal terá queimado a
totalidade dos R$ 2 bilhões acumulados em 2003.
O analista considera o mercado
do golfo o mais adequado para
comparar os preços brasileiros
por entender que, no caso de necessidade, ele é o centro mais próximo em condições de fornecer
produtos nas quantidades necessárias ao abastecimento do país.
A estatal discorda da metodologia que compara seus preços com
os do golfo, preferindo compará-los com uma "cesta" de cotações
internacionais coletadas em vários pontos de negociação.
Para Rodrigues, a política de
compensar a defasagem atual
com o sobrepreço do ano passado
seria até correta se fosse feita de
dentro de regras previamente estabelecidas. Não sendo, ele avalia
que ela causa incertezas para o
mercado, na medida em que
compromete a previsibilidade.
A incerteza inibiria, por exemplo, decisões de investir em produtos que funcionam como alternativas à gasolina, como o álcool
combustível e o GNV (gás natural
veicular). Outro problema é que a
manutenção dos preços dos combustíveis, enquanto no mercado
internacional eles estão em alta,
gera prejuízos para os acionistas
da Petrobras, inclusive o governo,
que a controla.
Rodrigues disse estar claro que
os preços dos combustíveis não
são livres. Para ele, o governo administra os preços de acordo com
sua prioridade do momento.
Em 2003 a tendência foi de
mantê-los elevados porque a
prioridade era garantir um superávit fiscal de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto). Neste ano,
os preços devem ser mantidos
baixos para evitar pressões inflacionárias.
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