São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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DIAS DE TENSÃO

Consumidores e empresas dos EUA já estão em condições de suportar a elevação, segundo presidente do Fed

Alta nos juros está à frente, diz Greenspan

DA REDAÇÃO

O presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, voltou a sinalizar ontem que a elevação da taxa de juros nos EUA está próxima. Em discurso ao setor bancário, ele afirmou que os consumidores e as empresas americanas já estão em condições de suportar financeiramente um aumento dos juros.
"Mesmo que as taxas de juros tenham que subir mais à frente, as conseqüências nos gastos das famílias serão aliviadas porque 80% da dívida é prefixada, com diversos vencimentos, e levará tempo até que as dívidas vençam e reflitam as taxas maiores", afirmou.
Greenspan disse ainda que as empresas fortaleceram seus balanços e que, mesmo com juros maiores, o mercado imobiliário não deverá quebrar.
A menção ao mercado imobiliário se deve ao fato de muitos analistas afirmarem que existe uma valorização dos imóveis no país, uma "bolha" que estaria sendo inflada pela atual taxa de juros, que é de 1% ao ano desde junho de 2003 e a menor em 46 anos.
Greenspan afirmou que, embora a alta dos aluguéis não acompanhe a dos imóveis, o que sugere um "desalinhamento de preços", uma implosão é improvável.
Em relação às empresas, ele disse que "a relação dívida/ativos está dentro de patamares históricos" e que a permanência dos juros de longo prazo em níveis baixos permitiu às corporações alongar os vencimentos de títulos.
As declarações de Greenspan ocorreram apenas dois dias após o Fed afirmar que poderá começar a aumentar os juros de maneira "moderada".
Na terça-feira, dia em que manteve o juro em 1% ao ano, o banco ainda deixou de afirmar que terá "paciência" para mexer na política monetária, termo que utilizava desde 2003 para tratar de uma possível alta.
Segundo analistas, as manifestações de Greenspan mostram que ele já está em "campanha" de preparação do mercado para uma mudança. A próxima reunião do Fed para decidir sobre os juros será no fim de junho.
Também ontem, o Fed divulgou a ata de sua reunião em março. Na ocasião, alguns membros de seu comitê de política monetária já demonstravam preocupação com os efeitos provocados pela manutenção dos juros baixos.
"Alguns membros estão preocupados com a manutenção da política monetária expansionista por tanto tempo, que poderá estimular o aumento de alavancagem [tomar emprestado para elevar o retorno] e dos riscos excessivos", aponta o documento.
O Departamento de Trabalho divulgou ontem novo dado que reforça a expectativa de que a recuperação econômica começa a atingir o mercado de trabalho. Os pedidos iniciais de seguro-desemprego caíram na semana encerrada em 1º de maio ao menor nível desde outubro de 2000, de 340 mil para 315 mil.
Hoje o departamento divulgará outro dado que será acompanhado pelos analistas, o nível de emprego e a criação de vagas.

Déficits e China
No mesmo discurso, Greenspan voltou a alertar sobre o perigo do déficit fiscal dos EUA, que deve ser o maior da história e superar US$ 500 bilhões neste ano, segundo estimativa da Casa Branca.
"Nossas perspectivas fiscais são, em meu julgamento, um obstáculo significativo para a estabilidade a longo prazo, pois o déficit orçamentário não está sujeito prontamente a correções pelas forças do mercado que estabilizam outros desequilíbrios", disse Greenspan, que não especificou como o déficit ameaçaria a economia.
O presidente do Fed também falou sobre a China. Segundo ele, a desaceleração do ritmo de crescimento do país irá puxar o preço das commodities para baixo, o que ajudará a restringir a inflação nos EUA.
"As autoridades chinesas têm trabalhado com freqüência para diminuir a taxa [de expansão]", afirmou.


Com agências internacionais

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