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FINANÇAS
Secretário-adjunto reconhece pressão do mercado por papéis mais curtos, mas diz que não há fuga de fundos
Tesouro vê volatilidade acima do aceitável
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Tesouro Nacional está recomprando títulos públicos do mercado financeiro para preservar a
qualidade desses papéis, afirmou
ontem o secretário-adjunto do
Tesouro José Antonio Gragnani.
"A volatilidade passou do patamar aceitável e estamos atuando
para garantir a qualidade dos títulos. Não estamos ajudando ninguém", disse.
Nos últimos dias, os fundos de
investimento perderam recursos
e passaram a registrar rentabilidade negativa em alguns momentos
por causa da desvalorização das
carteiras que têm muitos títulos
de longo prazo. A atuação do Tesouro tem sido a de recomprar esses títulos mais longos, geralmente LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) com vencimentos entre
2007 e 2009.
Gragnani disse que o governo
não está cedendo às pressões dos
fundos ao recomprar os papéis.
"O Tesouro não recuou. Existem
momentos em que temos que dar
um passo atrás, mas isso é estratégico e medido. Ajuda o mercado a
ter mais confiança no Tesouro."
O secretário explicou que a conjuntura atual não é semelhante à
vivida em 2002, quando houve
uma fuga de recursos dos fundos.
De qualquer forma, lembrou que
o governo está atuando de maneira preventiva. Em 2002, o governo
passou a obrigar os fundos a registrarem o valor de seus títulos
diariamente, a chamada marcação a mercado.
"Cota negativa é normal. Se você marca a mercado, é normal
perder e ganhar", disse. Para
Gragnani, a volatilidade atual é
um reflexo das expectativas relacionadas ao mercado externo, como a possibilidade de alta nas taxas de juros norte-americanas.
A saída de dinheiro dos fundos,
de acordo com Gragnani, não pode ser caracterizada como uma
"fuga". "Saiu R$ 1,5 bilhão de um
patrimônio superior a R$ 500 bilhões. É menos de 1%", disse. "A
volatilidade existe, mas está sob
controle. Não é crise."
Outro efeito do nervosismo do
mercado foi o cancelamento do
leilão de LTNs (Letras do Tesouro
Nacional) desta semana. Os investidores pediram taxas muito
altas e o governo desistiu de vender. Gragnani disse que as LTNs
deverão ser ofertadas novamente
na semana que vem.
"Se o mercado permitir, vamos
vender. Caso contrário, vamos
aguardar com tranqüilidade. Não
tem ninguém desesperado para
vender títulos", disse. Segundo o
secretário, o Tesouro tem em caixa o equivalente a pelo menos três
meses de vencimentos de títulos.
Ou seja, não precisa de novas
emissões para conseguir pagar a
dívida que está vencendo.
Sobre as recompras de LFTs, ele
afirmou que elas vão continuar.
"Será um volume maior para dar
ainda mais tranqüilidade ao mercado", disse. O secretário lembrou que em 2002 a dívida pública
tinha um perfil bem pior que o
atual, com 40% dos títulos corrigidos pelo câmbio -hoje, essa
exposição é de 17%.
Técnicos do Tesouro dizem que
os fundos estão se "reposicionando" desde abril. E o Tesouro, segundo o secretário, se preparou
para cenários adversos quando a
situação estava mais calma. Nos
primeiros meses do ano, os vencimentos programados para maio
eram superiores a R$ 40 bilhões.
Hoje, eles são de R$ 35 bilhões
porque uma parte já foi resgatada.
O Tesouro trabalha com a possibilidade de vender poucos títulos neste mês e usar mais os recursos em caixa para resgates. Em junho, os vencimentos de papéis
são de apenas R$ 18,6 bilhões.
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