São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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FINANÇAS

Secretário-adjunto reconhece pressão do mercado por papéis mais curtos, mas diz que não há fuga de fundos

Tesouro vê volatilidade acima do aceitável

SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Tesouro Nacional está recomprando títulos públicos do mercado financeiro para preservar a qualidade desses papéis, afirmou ontem o secretário-adjunto do Tesouro José Antonio Gragnani. "A volatilidade passou do patamar aceitável e estamos atuando para garantir a qualidade dos títulos. Não estamos ajudando ninguém", disse.
Nos últimos dias, os fundos de investimento perderam recursos e passaram a registrar rentabilidade negativa em alguns momentos por causa da desvalorização das carteiras que têm muitos títulos de longo prazo. A atuação do Tesouro tem sido a de recomprar esses títulos mais longos, geralmente LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) com vencimentos entre 2007 e 2009.
Gragnani disse que o governo não está cedendo às pressões dos fundos ao recomprar os papéis. "O Tesouro não recuou. Existem momentos em que temos que dar um passo atrás, mas isso é estratégico e medido. Ajuda o mercado a ter mais confiança no Tesouro."
O secretário explicou que a conjuntura atual não é semelhante à vivida em 2002, quando houve uma fuga de recursos dos fundos. De qualquer forma, lembrou que o governo está atuando de maneira preventiva. Em 2002, o governo passou a obrigar os fundos a registrarem o valor de seus títulos diariamente, a chamada marcação a mercado.
"Cota negativa é normal. Se você marca a mercado, é normal perder e ganhar", disse. Para Gragnani, a volatilidade atual é um reflexo das expectativas relacionadas ao mercado externo, como a possibilidade de alta nas taxas de juros norte-americanas.
A saída de dinheiro dos fundos, de acordo com Gragnani, não pode ser caracterizada como uma "fuga". "Saiu R$ 1,5 bilhão de um patrimônio superior a R$ 500 bilhões. É menos de 1%", disse. "A volatilidade existe, mas está sob controle. Não é crise."
Outro efeito do nervosismo do mercado foi o cancelamento do leilão de LTNs (Letras do Tesouro Nacional) desta semana. Os investidores pediram taxas muito altas e o governo desistiu de vender. Gragnani disse que as LTNs deverão ser ofertadas novamente na semana que vem.
"Se o mercado permitir, vamos vender. Caso contrário, vamos aguardar com tranqüilidade. Não tem ninguém desesperado para vender títulos", disse. Segundo o secretário, o Tesouro tem em caixa o equivalente a pelo menos três meses de vencimentos de títulos. Ou seja, não precisa de novas emissões para conseguir pagar a dívida que está vencendo.
Sobre as recompras de LFTs, ele afirmou que elas vão continuar. "Será um volume maior para dar ainda mais tranqüilidade ao mercado", disse. O secretário lembrou que em 2002 a dívida pública tinha um perfil bem pior que o atual, com 40% dos títulos corrigidos pelo câmbio -hoje, essa exposição é de 17%.
Técnicos do Tesouro dizem que os fundos estão se "reposicionando" desde abril. E o Tesouro, segundo o secretário, se preparou para cenários adversos quando a situação estava mais calma. Nos primeiros meses do ano, os vencimentos programados para maio eram superiores a R$ 40 bilhões. Hoje, eles são de R$ 35 bilhões porque uma parte já foi resgatada.
O Tesouro trabalha com a possibilidade de vender poucos títulos neste mês e usar mais os recursos em caixa para resgates. Em junho, os vencimentos de papéis são de apenas R$ 18,6 bilhões.


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