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BC nega estimular crise com títulos públicos
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Criticado por gestores de fundos de investimento por não trabalhar em conjunto com o Tesouro para conter a crise dos títulos
públicos, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz
Augusto Candiota, argumenta
que o papel do BC é administrar a
quantidade de dinheiro em circulação na economia tendo em vista
o cumprimento da meta de inflação estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).
Para especialistas ouvidos pela
Folha, o BC tem "premiado" os
bancos que não querem comprar
os títulos do Tesouro ao oferecer
taxas atraentes para operações de
curtíssimo prazo realizadas diariamente pela instituição no mercado financeiro. "Os juros dessas
operações [de curtíssimo prazo]
têm de seguir a Selic [taxa básica
definida mensalmente pelo Comitê de Política Monetária do
BC]. Se desviássemos muito da taxa básica, não precisaríamos do
Copom", disse Candiota à Folha.
Quando o Copom estabelece a
Selic, determina uma meta de juros básicos da economia que deverá prevalecer por um mês. Para
garantir que os juros básicos efetivos de mercado acompanhem de
perto a meta da Selic, o BC tem de
realizar diariamente inúmeras
operações de compra e venda de
títulos públicos.
Eventualmente, no entanto, o
BC pode reduzir as taxas dessas
operações diárias para "punir" o
mercado. Isso ocorre sobretudo
quando há um excesso de recursos disponíveis na economia.
Como muitas instituições financeiras têm se desfeito de LFTs
(Letras Financeiras do Tesouro)
de prazo mais longo, tem havido
grande sobra de recursos. Estimativas de instituições financeiras
apontam para R$ 80 bilhões. Candiota fala em R$ 50 bilhões.
"Se há um excesso de liquidez
[sobra de recursos] no mercado, é
porque o mercado não quer alongar a dívida", disse.
Para gestores, o BC deveria reduzir os juros dessas operações
diárias para tornar os títulos do
Tesouro mais atraentes. "Temos
uma decisão de juros que é estabelecida pelo Copom. Não posso
desviar da Selic, porque a taxa básica é importante para o controle
da inflação", disse Candiota.
Anteontem, por exemplo, o BC
fez uma operação de compra de
títulos, com o compromisso de
revendê-los em 15 dias, pela qual
ofereceu taxa equivalente a 99,9%
da Selic (hoje em 16% ao ano).
Com essa transação, o BC retirou
do mercado R$ 14 bilhões.
Um dos maiores gestores de
fundos do país considerou a taxa
dessa operação muito alta para o
atual momento de mercado. Para
ele, ninguém irá comprar títulos
do Tesouro se o BC continuar a
oferecer taxas tão atraentes para
esse tipo de operação.
Candiota lembra que desde o
ano passado o BC tem praticado
nessas operações taxas próximas
à Selic. "Nem por isso os bancos
deixaram de comprar títulos do
Tesouro de longo prazo, até
quando a Selic estava mais alta do
que agora."
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