São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC nega estimular crise com títulos públicos

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Criticado por gestores de fundos de investimento por não trabalhar em conjunto com o Tesouro para conter a crise dos títulos públicos, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Augusto Candiota, argumenta que o papel do BC é administrar a quantidade de dinheiro em circulação na economia tendo em vista o cumprimento da meta de inflação estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).
Para especialistas ouvidos pela Folha, o BC tem "premiado" os bancos que não querem comprar os títulos do Tesouro ao oferecer taxas atraentes para operações de curtíssimo prazo realizadas diariamente pela instituição no mercado financeiro. "Os juros dessas operações [de curtíssimo prazo] têm de seguir a Selic [taxa básica definida mensalmente pelo Comitê de Política Monetária do BC]. Se desviássemos muito da taxa básica, não precisaríamos do Copom", disse Candiota à Folha.
Quando o Copom estabelece a Selic, determina uma meta de juros básicos da economia que deverá prevalecer por um mês. Para garantir que os juros básicos efetivos de mercado acompanhem de perto a meta da Selic, o BC tem de realizar diariamente inúmeras operações de compra e venda de títulos públicos.
Eventualmente, no entanto, o BC pode reduzir as taxas dessas operações diárias para "punir" o mercado. Isso ocorre sobretudo quando há um excesso de recursos disponíveis na economia.
Como muitas instituições financeiras têm se desfeito de LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) de prazo mais longo, tem havido grande sobra de recursos. Estimativas de instituições financeiras apontam para R$ 80 bilhões. Candiota fala em R$ 50 bilhões.
"Se há um excesso de liquidez [sobra de recursos] no mercado, é porque o mercado não quer alongar a dívida", disse.
Para gestores, o BC deveria reduzir os juros dessas operações diárias para tornar os títulos do Tesouro mais atraentes. "Temos uma decisão de juros que é estabelecida pelo Copom. Não posso desviar da Selic, porque a taxa básica é importante para o controle da inflação", disse Candiota.
Anteontem, por exemplo, o BC fez uma operação de compra de títulos, com o compromisso de revendê-los em 15 dias, pela qual ofereceu taxa equivalente a 99,9% da Selic (hoje em 16% ao ano). Com essa transação, o BC retirou do mercado R$ 14 bilhões.
Um dos maiores gestores de fundos do país considerou a taxa dessa operação muito alta para o atual momento de mercado. Para ele, ninguém irá comprar títulos do Tesouro se o BC continuar a oferecer taxas tão atraentes para esse tipo de operação.
Candiota lembra que desde o ano passado o BC tem praticado nessas operações taxas próximas à Selic. "Nem por isso os bancos deixaram de comprar títulos do Tesouro de longo prazo, até quando a Selic estava mais alta do que agora."


Texto Anterior: Finanças: Tesouro vê volatilidade acima do aceitável
Próximo Texto: Governo recompra os papéis de longo prazo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.