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FRAUDES DO CAPITAL
Órgão de fiscalização do mercado americano apura possível irregularidade nos negócios do banco no país
EUA investigam contas do Citi na Argentina
TIMOTHY L. O'BRIEN
DO "NEW YORK TIMES"
O Citigroup anunciou ontem
que a SEC (Securities and Exchange Commission, agência
norte-americana de atribuições
semelhantes à CVM brasileira) investiga possíveis irregularidades
relacionadas aos seus negócios
bancários na Argentina entre 2001
e 2003, período em que sofreu
imensos prejuízos com seus empréstimos e o país enfrentava séria crise política e econômica.
O Citigroup revelou a investigação ao divulgar relatório trimestral sobre seu faturamento apresentado ontem à SEC e disse que a
agência planejava começar audiências fechadas sobre o assunto
ainda neste mês -decisão que
sugere que o inquérito é mais que
um exame de rotina das práticas
contábeis do banco.
O Citigroup informou nos documentos apresentados que a investigação "tem sua origem no
tratamento contábil que a empresa deu aos seus investimentos e
atividades de negócios e provisões para perdas com empréstimos com relação à Argentina", no
quarto trimestre de 2001 e no primeiro trimestre de 2002.
A investigação examina "o momento e a documentação de
apoio para certos registros e ajustes contábeis", disse a empresa,
que informou que a SEC havia
"solicitado certas informações relacionadas à contabilidade e controles internos" de transações realizadas na Argentina em 2001,
2002 e 2003.
O Citigroup anunciou que estava cooperando com a investigação, mas se recusou a comentar o
assunto. A SEC também não falou
sobre o caso.
A Argentina vem há muito sendo o centro das operações latino-americanas do Citigroup. O banco desempenhou papel central
em diversos setores do país.
Depois que a economia e a moeda argentinas entraram em queda
livre, em 2001, o país decretou a
moratória parcial de sua dívida.
Para enfrentar a crise, a Argentina, que antes tentava combater a
inflação vinculando sua moeda ao
dólar, abandonou a paridade e
converteu parte de suas dívidas
denominadas na moeda dos EUA
ao peso. Por diversas semanas, o
sistema bancário ficou fechado e
o peso deixou de ser negociado.
A desaceleração da economia, a
moratória e a conversão cambial
causaram perdas de bilhões de
dólares aos credores da Argentina. O Citigroup era um deles. No
quarto trimestre de 2001 e no primeiro de 2002, o banco realizou
uma provisão de mais de US$ 1,2
bilhão, antes dos impostos, para
empréstimos não-pagos e outros
prejuízos nas suas operações argentinas. O banco, o maior do
mundo, terminou por contabilizar como prejuízo cerca de US$ 2
bilhões em empréstimos e investimentos na Argentina.
Planejamento ineficiente e empréstimos demasiado agressivos
de parte do Citigroup também tiveram influência sobre os prejuízos. Victor J. Menezes, que dirigia
as operações do Citigroup em
mercados emergentes àquela
época, perdeu o posto devido aos
prejuízos com a Argentina.
Em conversa telefônica com
analistas de Wall Street em abril
de 2002, Sanford I. Weill, o presidente do Citigroup na época, delineou a dimensão dos problemas
do banco na Argentina. "No final
do trimestre, teremos contabilizado como prejuízo ou constituído
provisões para cerca de dois terços de nossa carteira total de empréstimos corporativos e ao consumidor na Argentina." "Jamais
aconteceu algo dessa magnitude
em nenhum dos países de mercado emergente em que operamos."
A Argentina não foi a única área
em que o Citigroup enfrentou desafios financeiros entre 2001 e
2003. O banco ficou exposto a
prejuízos em empréstimos realizados a empresas de telecomunicações norte-americanas que sofreram investigações devido a
problemas em suas relações com
seus bancos de investimento e por
seu envolvimento no colapso da
WorldCom e da Enron.
Mas seus ganhos se recuperaram. No primeiro trimestre deste
ano, o Citigroup registrou lucro
recorde de US$ 5,27 bilhões. No
mês passado, o grupo anunciou
que suas operações na Argentina
já não estavam prejudicando sua
atuação nos emergentes.
Tradução de Paulo Migliacci
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