São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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Tarifas de gás e de energia subirão

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, poderá anunciar um plano de reajuste das tarifas de gás e energia elétrica entre hoje e terça-feira, como parte das medidas que vão regulamentar o racionamento de energia divulgado na semana passada.
A Folha apurou que o aumento deverá ser escalonado, para diminuir o impacto do reajuste tanto na popularidade do governo, cujo índice de aprovação está cima de 60%, quanto na inflação.
Embora controlada, a inflação de abril chegou a 0,90% e foi a mais alta dos últimos 15 meses. No ano, está acumulada em 2%.
Se concretizado, o reajuste será o desfecho de uma queda-de-braço travada entre Kirchner e as empresas do setor, privatizadas nos anos 90. A crise de oferta de energia forçou o governo a considerar a demanda das empresas por aumento de preços. Ao subir as tarifas, o governo diminui a demanda e estimula os investimentos.
Kirchner argumenta que o país chegou ao racionamento porque as empresas não fizeram investimentos e as acusa de terem remetido lucros em dólares ao exterior enquanto durou a conversibilidade (um peso valia um dólar).
As empresas alegam que não investiram nos últimos três anos porque não houve aumento de tarifas, congeladas desde a desvalorização do peso, em 2001.
Em fevereiro, um decreto presidencial autorizou reajuste de 35% no preço do gás na boca do poço a partir deste mês, mas o aumento ainda não foi feito. Com os preços liberados na boca do poço e as tarifas para os consumidores finais congeladas, aumentam os protestos do resto da cadeia, como transportadores e distribuidores.
Mais de 50% da matriz energética na Argentina é baseada na extração de gás, usado também na cozinha e como combustível. Cerca de 90% dos táxis são a gás.
Além de anunciar um mecanismo de bônus e multas para incentivar a economia de energia, o governo estuda outras medidas, como a suspensão de jogos e espetáculos noturnos e a importação de gás e óleo combustível da Bolívia e da Venezuela. A crise também gerou um incidente diplomático com o Chile por causa da suspensão das exportações de gás para aquele país.
Assim como ocorreu no Brasil em 2001, a crise de energia na Argentina deve frear a expansão econômica do país, cujo PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 8,7% em 2003, o que também contribuiu para agravar o quadro de falta de energia.
A interrupção do crescimento da Argentina afeta o Brasil na medida em que diminui o fluxo de comércio entre os países e produz impacto na credibilidade e interesse de investidores na região.


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