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TRABALHO
Empresas detectam que tédio gerado pelo emprego tem pesado mais nas decisões de carreira do que pressões da vida doméstica
Frustrações motivam êxodo de executivas
CLAUDIA H. DEUTSCH
DO "NEW YORK TIMES"
O número de mulheres em posições de gerência e nas profissões
liberais supera o de homens, hoje
em dia, e a maior parte das empresas adotou normas que têm
por objetivo ajudar suas líderes a
equilibrar as demandas profissionais e as familiares.
No entanto, três décadas depois
que uma mulher pela primeira
vez assumiu o comando executivo de uma empresa do ranking
Fortune 500, menos de 2% das
grandes empresas são dirigidas
por mulheres. Os especialistas em
recrutamento de executivos e os
conselhos supervisores têm motivos para querer descobrir a causa.
A resposta, começam a concluir
alguns especialistas, tem menos a
ver com discriminação nos corredores executivos ou pressões domésticas do que com a frustração
e o tédio gerados pelos empregos.
"Os homens suportam tudo, mesmo que rangendo os dentes, enquanto as mulheres avaliam se
aquilo é tudo que um trabalho
tem a oferecer e muitas vezes decidem que precisam de mais",
disse Mabel M. Miguel, professora de administração de empresas
na Escola Kenan-Flagler de Administração de Empresas, segmento da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill.
Deborah Merrill-Sands, reitora
da Simmons School of Management, uma escola feminina de administração de empresas, em
Boston, diz que a despeito de anos
de esforço "a maioria das grandes
empresas ainda não sabe exatamente como reter as mulheres de
alto potencial".
As grandes empresas estão começando a procurar respostas.
Gigantes da indústria como General Electric, Procter & Gamble e
IBM, bem como empresas de
consultoria e auditoria como
Booz Allen Hamilton, Ernst &
Young e Deloitte & Touche, criaram programas cujo objetivo é
manter as mulheres interessadas
em suas carreiras profissionais.
Sensação de estagnação
É o caso de Zara F. Larsen, 48,
que descobriu há muito tempo de
que maneira usar o e-mail, o trabalho, a distância e outros métodos para equilibrar suas responsabilidades familiares e seu emprego. Ela passou por quatro diferentes posições de grande responsabilidade na United Technologies, ao longo dos dez últimos
anos. No ano passado, por que
sentia certa estagnação em sua
carreira, ela pediu demissão para
fazer doutorado em administração de empresas. "Não estava
mais recebendo o estímulo intelectual de que precisava", diz.
Uma oferta "irresistível" da
Raytheon Missile Systems a atraiu
de volta ao mundo empresarial. A
empresa propôs que ela terminasse seu doutorado, levando o tempo que considerasse necessário,
mas lhe ofereceu, ao mesmo tempo, o posto de diretora de eficiência empresarial, com responsabilidade por corte de custos, aceleração de processos e promoção de
mudanças na cultura da empresa.
Uma história como essa não deveria surpreender os executivos
de grandes empresas. Uma década atrás, a Procter & Gamble, prejudicada por um nível de "atrito"
de mão-de-obra feminina duas
vezes mais alto do que o predominante entre os homens, consultou
as mulheres que classificara como
"perdas lastimadas", profissionais de alto desempenho que a
empresa gostaria de ter retido, sobre os motivos para que decidissem se demitir. A resposta é que
não se sentiam valorizadas. "Muitas diziam que não compreendiam que sua partida era lastimada pela empresa até que foram
contatadas para participar da pesquisa", disse Jeannie Tharrington,
porta-voz da empresa.
A Deloitte passou por embaraço
semelhante ao pesquisar mulheres consideradas como potenciais
sócias da empresa que haviam
preferido deixar a companhia,
nos anos 90. "Descobrimos que
mais de 90% delas continuavam
empregadas, mas não por nós",
relembra Cathleen A. Benko, que
dirige o setor de alta tecnologia na
Deloitte e seu programa de retenção e promoção de mulheres. "Foi
o fim da idéia de que essas mulheres tinham optado por ficar em
casa e cuidar de suas famílias".
Pesquisas
Isso pode surpreender algumas
pessoas, mas não os pesquisadores da Catalyst, uma organização
de consultoria sem fins lucrativos,
com sede em Nova York, que concentra seus esforços na situação
das mulheres em ambiente de trabalho. "Todas as nossas pesquisas
demonstram que as mulheres
têm ambição semelhante à dos
homens, no que tange a chegar ao
topo", disse Ilene H. Lang, presidente da Catalyst.
Mas apenas nos últimos anos as
empresas começaram a agir com
base nessas constatações. E seus
índices de retenção de executivas
vêm subindo em proporção aos
seus esforços.
A Procter vem treinando suas
executivas em técnicas de administração de tempo, em parte para
permitir que aquelas que enfrentam pressões familiares aceitem
funções "de frente", cargos que
envolvem responsabilidade direta
por lucros e prejuízos de marcas
específicas. Ao permitir que as
mulheres aceitem essas posições,
nas quais a pressão é elevada e desempenho eficaz é importante para o futuro de uma carreira, disse
Tharrington, a Procter elevou em
25% sua retenção de executivas,
nos últimos cinco anos, e aumentou a proporção de mulheres entre os promovidos de cargos médios para cargos superiores.
Na IBM, as mulheres agora ocupam 19% dos postos executivos
em todo o mundo. Jeannette Horan, vice-presidente, diz que acredita saber a razão. Horan, 49, trabalhou para cinco empresas antes
de chegar à IBM, em 1998. Em cada uma delas, disse, "eu me interessava por desenvolver minhas
capacidades, causar maior impacto e sempre tinha de me transferir
para fazê-lo". Em seus sete anos
de IBM, ela passou por três cargos, mudanças que ela mesma solicitou -e espera assumir novas
responsabilidades, quando decidir que precisa de novos desafios.
A GE tem programas para promover a formação de redes femininas e para prover orientação e
treinamento, além de adotar normas que permitem dedicar tempo
à família. Mas Susan P. Peters, vice-presidente de desenvolvimento de executivos, diz que a insistência da GE de que "todos tenham quantidade e qualidade em
seu trabalho" pode ser a maior
responsável pelo fato de que hoje
15% de seus executivos são mulheres, ante 9% em 1997.
"Mamães"
Jeanne M. Rosario serve como
exemplo. Quando seus dois filhos
eram pequenos, trabalhava meio
período e chegou a recusar uma
grande promoção. Mas, conta,
nem por isso a GE a colocou em
trajetória de carreira reservada às
"mamães". "Eles me davam o máximo de trabalho que eu podia
realizar; sempre deixavam para
mim a responsabilidade de dizer
que aquele volume era o bastante", diz. Rosario, 53, é vice-presidente de engenharia de serviços e
design comercial na GE Transportation, a mulher com posto
mais elevado na área de tecnologia da empresa.
Quando Alisa L. Kennedy engravidou de seu segundo filho,
seis anos atrás, ela se demitiu da
empresa porque se preocupava
com a possibilidade de que as responsabilidades domésticas a fizessem sentir "inconseqüente" no
trabalho. A Ernst & Young a
atraiu de volta com um projeto especial que permitia que ela avançasse gradualmente para um posto de período integral. Em 2004,
22% dos novos sócios selecionados eram mulheres, e Kennedy
estava entre os escolhidos.
Com freqüência, dizem os especialistas em gestão, esse tipo de
opção é negado às mulheres, muitas vezes por homens que consideram estar agindo em defesa dos
interesses femininos. "Os executivos homens que não designam
um cliente difícil para uma mulher que tem filhos acham que estão sendo compreensivos", diz
Candida G. Bush, diretora do
Conselho de Liderança e Espírito
Empresarial da Mulher, na Boston University. "Mas estão apenas
sendo condescendentes".
Tradução de Paulo Migliacci
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