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LUÍS NASSIF
O Brasil visto de fora
O Brasil deve ser visto com
otimismo moderado, na opinião dos cinco debatedores
que participaram da mesa
"Cenários econômicos: o que o
investidor pode esperar do
Mercosul", do World Economic Forum, que transcorre em
Santiago do Chile. Os debatedores eram Eliana Cardoso, do
Banco Mundial, Felipe Larrain, da John Kennedy School
of Government, de Harvard,
Luís Rubio, do Centro de Estudos para o Desenvolvimento,
do México, e este colunista,
mediados por Guillermo de la
Dehesas, vice-chairman da
Goldman Sachs Europa, da Espanha.
Economista criteriosa, que
não costuma se envolver com
as ciclotimias do mercado,
Eliana abriu um quadro do
déficit em conta corrente, mostrando uma região ainda muito dependente de financiamentos internacionais. Mantida a dependência, qualquer
refluxo significaria aumento
da recessão.
Internacionalmente, os EUA
continuam a exibir vigor, mas
Japão, China e Europa preocupam, e sinalizam para um
crescimento internacional medíocre.
Os indicadores de risco do
Brasil vêm diminuindo desde
fevereiro, segundo estudo do
J.P.Morgan, mencionado por
Eliana, enquanto os da Argentina estão em ascensão. Dos
estudos de Eliana, constata-se
que países que adotaram taxas de câmbio flexíveis tiveram menores índices de desemprego e de queda da atividade industrial após as crises
asiática, da Rússia e do Brasil.
A apresentação do representante do México mostrou as semelhanças entre a realidade
dos dois países. No México, a
abertura da economia produziu novas regiões industriais e
condenou à decadência os velhos centros, de indústrias tradicionais. As empresas nacionais foram sacrificadas pela
falta de mecanismos de financiamento e pelo endividamento provocado por políticas monetárias ortodoxas.
De minha parte, aproveitei o
caráter internacional do encontro para questionar o padrão de análise consolidado
nesses fóruns e no mercado financeiro internacional. A necessidade de tornar seus estudos compreensíveis fez com
que esse mercado padronizasse análises, indicadores e conclusões, sem se preocupar em
analisar a realidade por trás
dos indicadores e características nacionais não-mensuráveis.
Sem conhecer as realidades
nacionais, a cada crise nacional esses analistas tiram conclusões universais, que são
desmontadas pela crise seguinte. Quando governos se
rendem a essas análises, e deixam de lado a observação de
suas realidades econômicas
específicas, resulta o desastre
ocorrido com a política cambial brasileira.
Resta a lição de que, se governos nacionais não dispuserem de capacidade analítica
autônoma para adaptar as
conclusões internacionais às
suas realidades específicas, estarão fadados a mergulhar
seus países em crise permanente.
Escândalos
A CPI dos Bancos continua
mais preocupada com episódios policiais do que com temas institucionais relevantes.
A apresentação do deputado
Aloizio Mercadante (PT-SP)
mostrando que bancos ganharam R$ 10 bilhões em poucos
dias apostando contra o real,
por conta de uma simples vacilação do governo -quatro
dias entre a demissão e o
anúncio oficial da saída de
Gustavo Franco-, não foi
considerada relevante. O que
se quer são bilhetes, telefonemas comprometedores, contas
secretas, impressões digitais.
Repito: o simples fato de o
presidente da República e o
ministro da Fazenda Pedro
Malan terem aguardado três
dias para formalizar a demissão de Gustavo Franco, naquela semana fatídica, custou R$
10 bilhões ao país. O homem
incumbido de tomar as decisões mais estratégicas do país
não sabia que reter aquela informação por alguns dias teria
um custo equivalente a metade do ajuste fiscal -que está
sendo bancado com o sacrifício de todo o país.
Espera-se que, com o refluxo
do escândalo fácil, a CPI comece a discutir temas institucionais relevantes, que permitam manter sob controle os governantes, impedindo-os de
continuar no Banco Central,
como fizeram até agora. E o
Congresso passe a exigir o mínimo do governo: competência
para administrar a crise.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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