São Paulo, Sexta-feira, 07 de Maio de 1999
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CRÉDITO EXTERNO
Pio Borges admite que o "timing" (momento) se perdeu um pouco
Agora, o próprio BNDES já tem dúvida sobre operação

CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) já tem dúvidas quanto ao sucesso da operação de troca de títulos de dívidas externas de empresas brasileiras por outros de mais longo prazo, para a qual ele pretende dar garantias equivalentes a dois anos de juros.
Ontem, o presidente do banco, José Pio Borges, disse que "o timing (momento) se perdeu um pouco" -concordando com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Borges acrescentou que não pode "afirmar categoricamente que vai haver demanda" por parte dos investidores pelos títulos que serão emitidos com o aval do BNDES para a troca.
O plano do BNDES, em parceria com o banco Goldman Sachs e com o Banco do Brasil, é dar para as cerca de 90 empresas cujos papéis foram selecionados para a operação a oportunidade de refinanciarem seus débitos internacionais com a empresa que será criada para fazer a troca de títulos.
Borges disse que só fechará a operação, que está sendo divulgada nos principais mercados internacionais por uma equipe do BNDES, se as ofertas dos interessados derem a certeza de que as chances de o banco ganhar dinheiro serão maiores que o risco que ele vai correr dando o seu aval.
"Nós não faremos a operação se tecnicamente ela não for viável", disse, acrescentando que a viabilidade técnica está justamente em o risco ser menor que a possibilidade de ganho.
Ante a insistência da Folha quanto à viabilidade da operação, o presidente do BNDES afirmou: "Eu não acho que é viável ou que não. Nós mantemos a oferta".
Ontem, as Organizações Globo, o grupo que possui o maior valor em dívidas incluídas na lista das passíveis de troca (US$ 1,577 bilhão), divulgou comunicado dizendo que "estão solicitando ao BNDES que retire os nomes de suas empresas da lista de papéis de empresas brasileiras a serem transacionados".
O comunicado, assinado pela Globopar (Globo Comunicações e Participações S.A.), a holding do grupo Globo, afirma que as empresas "estão hoje preparadas para cumprir seus compromissos, como, aliás, sempre ocorreu", justificando o desinteresse pela possibilidade de alongar esses compromissos com o aval do BNDES.
A Folha procurou a direção da Globopar para obter mais esclarecimentos sobre o comunicado. Até as 19h de ontem, não havia obtido respostas para as perguntas enviadas por fax à empresa.
Sobre o comunicado da Globopar, Pio Borges disse que ele pode expressar "um não-entendimento completo da operação". Mas, na sua avaliação, há um aspecto positivo, que é o de afastar as suspeitas de que a operação foi montada para atender a interesses de algumas empresas, entre elas a Globopar.
De acordo com avaliações de mercado, houve pelo menos erro de comunicação na operação do BNDES que estaria afastando as empresas. Para um operador, nada é pior para a saúde financeira de uma empresa do que dizerem que ela precisa de dinheiro. A outra crítica à operação, já admitida pelo próprio BNDES, é a de que ela veio fora de hora, quando o mercado já está reaberto para as empresas.
O presidente do BNDES disse que a situação externa do Brasil (quanto a crédito) "melhorou mais rápido do que se imaginava".


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