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CRÉDITO EXTERNO
Pio Borges admite que o "timing" (momento) se perdeu um pouco
Agora, o próprio BNDES já tem dúvida sobre operação
CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) já tem dúvidas quanto ao
sucesso da operação de troca de títulos de dívidas externas de empresas brasileiras por outros de
mais longo prazo, para a qual ele
pretende dar garantias equivalentes a dois anos de juros.
Ontem, o presidente do banco,
José Pio Borges, disse que "o timing (momento) se perdeu um
pouco" -concordando com o
presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Borges acrescentou
que não pode "afirmar categoricamente que vai haver demanda"
por parte dos investidores pelos títulos que serão emitidos com o
aval do BNDES para a troca.
O plano do BNDES, em parceria
com o banco Goldman Sachs e
com o Banco do Brasil, é dar para
as cerca de 90 empresas cujos papéis foram selecionados para a
operação a oportunidade de refinanciarem seus débitos internacionais com a empresa que será
criada para fazer a troca de títulos.
Borges disse que só fechará a
operação, que está sendo divulgada nos principais mercados internacionais por uma equipe do
BNDES, se as ofertas dos interessados derem a certeza de que as
chances de o banco ganhar dinheiro serão maiores que o risco que
ele vai correr dando o seu aval.
"Nós não faremos a operação se
tecnicamente ela não for viável",
disse, acrescentando que a viabilidade técnica está justamente em o
risco ser menor que a possibilidade de ganho.
Ante a insistência da Folha
quanto à viabilidade da operação,
o presidente do BNDES afirmou:
"Eu não acho que é viável ou que
não. Nós mantemos a oferta".
Ontem, as Organizações Globo, o
grupo que possui o maior valor em
dívidas incluídas na lista das passíveis de troca (US$ 1,577 bilhão), divulgou comunicado dizendo que
"estão solicitando ao BNDES que
retire os nomes de suas empresas
da lista de papéis de empresas brasileiras a serem transacionados".
O comunicado, assinado pela
Globopar (Globo Comunicações e
Participações S.A.), a holding do
grupo Globo, afirma que as empresas "estão hoje preparadas para
cumprir seus compromissos, como, aliás, sempre ocorreu", justificando o desinteresse pela possibilidade de alongar esses compromissos com o aval do BNDES.
A Folha procurou a direção da
Globopar para obter mais esclarecimentos sobre o comunicado. Até
as 19h de ontem, não havia obtido
respostas para as perguntas enviadas por fax à empresa.
Sobre o comunicado da Globopar, Pio Borges disse que ele pode
expressar "um não-entendimento
completo da operação". Mas, na
sua avaliação, há um aspecto positivo, que é o de afastar as suspeitas
de que a operação foi montada para atender a interesses de algumas
empresas, entre elas a Globopar.
De acordo com avaliações de
mercado, houve pelo menos erro
de comunicação na operação do
BNDES que estaria afastando as
empresas. Para um operador, nada
é pior para a saúde financeira de
uma empresa do que dizerem que
ela precisa de dinheiro. A outra crítica à operação, já admitida pelo
próprio BNDES, é a de que ela veio
fora de hora, quando o mercado já
está reaberto para as empresas.
O presidente do BNDES disse
que a situação externa do Brasil
(quanto a crédito) "melhorou
mais rápido do que se imaginava".
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