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ARTIGO
Projeção do PIB indica recessão
FRANCISCO PESSOA FARIA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Muitos analistas econômicos costumam utilizar
uma convenção técnica que afirma: se o Produto Interno Bruto
trimestral recuar duas vezes seguidas em relação ao período anterior, já descontados os efeitos
sazonais, o país está em recessão.
Como dito, trata-se apenas de
uma convenção. Na verdade, não
há diferença entre dois trimestres
de crescimento zero e dois que registrem queda de, digamos, 0,1%.
Só que, pela "regra", no primeiro
caso estaríamos em recessão, e no
segundo, não!
Toda vez que a economia se encontra em dificuldades essa questão vem à tona. Agora não deve
ser diferente: o leitor provavelmente irá descobrir, quando o IBGE divulgar o resultado do PIB do
segundo trimestre daqui a algumas semanas, que o país está "tecnicamente" em recessão. Isso
porque, assim como nos primeiros três meses do ano, é quase certo que a atividade econômica recuou ante o trimestre anterior.
Não se trata de adivinhação,
mas apenas da conclusão que se
chega ao analisar os dados da produção industrial divulgados ontem pelo IBGE. O que permite fazer uma projeção com um razoável grau de segurança é o fato de
que os dados são uma boa parte
dos "insumos" utilizados para
calcular o PIB trimestral. Assim, é
possível replicar o cálculo do IBGE, obtendo um número em geral
próximo do verdadeiro.
O PIB é dividido em três setores:
agropecuária, indústria e serviços,
cujos pesos no total são, aproximadamente, 8%, 38% e 54%.
O cálculo do PIB agropecuário é
o mais difícil de ser reproduzido.
Isso, no entanto, não impede que
se faça uma estimativa.
Já no caso da indústria a tarefa é
um pouco mais fácil. Os números
da produção industrial indicam
como se comportaram três subsetores: a indústria extrativa mineral, a indústria de transformação e
a construção civil.
Para chegar ao número da indústria de transformação nesse
segundo trimestre de 2003, basta
calcular a média da produção em
abril, maio e junho e comparar
com a média da produção nesses
mesmos meses do ano passado.
Para o subsetor de serviços industriais de utilidade pública, uma
boa projeção pode ser feita com
dados sobre consumo de energia,
da Eletrobrás.
Quanto ao setor serviços, dividimos em dois grupos. O grupo
formado pela administração pública e pelos aluguéis é projetado
usando a taxa de crescimento da
população e a de crescimento dos
domicílios. Ambas são estáveis.
A projeção do outro grupo de
subsetores pode ser realizada de
várias formas. Uma delas consiste
em utilizar informações setoriais
para projetar o PIB de comunicações e outros serviços e o de transporte e relacionar a variação do
comércio à da indústria.
Note-se que conseguimos fazer
projeções de quase 40% do PIB.
Como a projeção dos subsetores
administração pública e dos aluguéis pode ser feita a partir dos
números do ano anterior, podemos projetar 70% do PIB com
uma confiança aceitável.
A projeção da LCA, construída
de modo semelhante ao descrito
acima, indica que estaríamos
"tecnicamente" em recessão.
Francisco Pessoa Faria, 35, é mestre
em economia pela USP e economista-sênior da LCA Consultores.
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