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São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

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ARTIGO

Projeção do PIB indica recessão

FRANCISCO PESSOA FARIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Muitos analistas econômicos costumam utilizar uma convenção técnica que afirma: se o Produto Interno Bruto trimestral recuar duas vezes seguidas em relação ao período anterior, já descontados os efeitos sazonais, o país está em recessão. Como dito, trata-se apenas de uma convenção. Na verdade, não há diferença entre dois trimestres de crescimento zero e dois que registrem queda de, digamos, 0,1%. Só que, pela "regra", no primeiro caso estaríamos em recessão, e no segundo, não!
Toda vez que a economia se encontra em dificuldades essa questão vem à tona. Agora não deve ser diferente: o leitor provavelmente irá descobrir, quando o IBGE divulgar o resultado do PIB do segundo trimestre daqui a algumas semanas, que o país está "tecnicamente" em recessão. Isso porque, assim como nos primeiros três meses do ano, é quase certo que a atividade econômica recuou ante o trimestre anterior.
Não se trata de adivinhação, mas apenas da conclusão que se chega ao analisar os dados da produção industrial divulgados ontem pelo IBGE. O que permite fazer uma projeção com um razoável grau de segurança é o fato de que os dados são uma boa parte dos "insumos" utilizados para calcular o PIB trimestral. Assim, é possível replicar o cálculo do IBGE, obtendo um número em geral próximo do verdadeiro.
O PIB é dividido em três setores: agropecuária, indústria e serviços, cujos pesos no total são, aproximadamente, 8%, 38% e 54%.
O cálculo do PIB agropecuário é o mais difícil de ser reproduzido. Isso, no entanto, não impede que se faça uma estimativa.
Já no caso da indústria a tarefa é um pouco mais fácil. Os números da produção industrial indicam como se comportaram três subsetores: a indústria extrativa mineral, a indústria de transformação e a construção civil.
Para chegar ao número da indústria de transformação nesse segundo trimestre de 2003, basta calcular a média da produção em abril, maio e junho e comparar com a média da produção nesses mesmos meses do ano passado. Para o subsetor de serviços industriais de utilidade pública, uma boa projeção pode ser feita com dados sobre consumo de energia, da Eletrobrás.
Quanto ao setor serviços, dividimos em dois grupos. O grupo formado pela administração pública e pelos aluguéis é projetado usando a taxa de crescimento da população e a de crescimento dos domicílios. Ambas são estáveis.
A projeção do outro grupo de subsetores pode ser realizada de várias formas. Uma delas consiste em utilizar informações setoriais para projetar o PIB de comunicações e outros serviços e o de transporte e relacionar a variação do comércio à da indústria.
Note-se que conseguimos fazer projeções de quase 40% do PIB. Como a projeção dos subsetores administração pública e dos aluguéis pode ser feita a partir dos números do ano anterior, podemos projetar 70% do PIB com uma confiança aceitável.
A projeção da LCA, construída de modo semelhante ao descrito acima, indica que estaríamos "tecnicamente" em recessão.


Francisco Pessoa Faria, 35, é mestre em economia pela USP e economista-sênior da LCA Consultores.


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