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EUA
Programadores e anunciantes se unem para combater menor audiência, fragmentação do público e tecnologia que elimina comercial
Propaganda busca novos formatos na TV
EVELYN NUSSEMBAUM
DO "NEW YORK TIMES"
Leslie Moonves gosta de falar
sobre "Minority Report - A Nova
Lei", filme de Steven Spielberg.
Moonves, co-presidente e vice-presidente de operações da Viacom, que controla a rede de TV
dos EUA CBS, a Paramount Television e os canais de TV a cabo
Showtime, continua a elogiar o filme, dois anos depois de tê-lo assistido.
Mas não é a fotografia ou o desempenho do astro Tom Cruise
que motiva seu entusiasmo. O
que ele mais aprecia é o número
notável de grandes marcas -Lexus, Gap, Reebok, Guinness e
American Express- presentes
no filme de ficção científica.
"O filme estava repleto de marcas", diz. "Quando o assisti, no cinema, pensei que a) o filme estava
funcionando, e b) se Spielberg
consegue fazê-lo sem comprometer a integridade artística do trabalho, nós também podemos".
As redes de televisão trabalharam muito nos dois últimos anos
para fechar novos contratos de
merchandising e diminuir a distância que as separa do cinema. A
CBS planeja transmitir noites de
programação tendo marcas como
tema, usando a mesma marca em
merchandising ao longo de programas sucessivos, ainda que
Moonves não tenha oferecido detalhes.
Episódios inteiros de "O Aprendiz", na TV NBC (exibido no Brasil pelo canal People + Arts), girarão em torno de uma marca: em
lugar de vender limonada ou passeios de riquixá, os aspirantes a
magnata dos negócios venderão o
mais recente chocolate Mars, a
nova pasta de dentes Crest e conceberão um novo brinquedo para
a Mattel. A sopa Campbell's tem
lugar garantido nos roteiros de
"American Dreams", e a NBC fechou acordo com a fabricante de
sopas para que patrocine um concurso de ensaios semelhante ao
que o seriado traz em sua trama.
A nova ênfase em merchandising na TV atraiu novos protagonistas para a área. Os divulgadores de marcas que trabalham com
os programadores e anunciantes
estão conduzindo o merchandising, que preferem chamar de "integração de produtos", a um novo
território, às vezes trabalhando
como co-produtores ou até criando novas programas em torno das
marcas que representam.
Corrida do ouro
"Houve uma corrida do ouro
que me lembra a internet dez anos
atrás", disse Scott Donaton, editor
da revista "Advertising Age" e autor de "Madison & Vine", livro
que trata da convergência entre os
setores de entretenimento e publicidade. "Muita gente procurou
os anunciantes dizendo que eles
não sabiam lidar com Hollywood,
pedindo para representá-los nessas negociações. Depois, essas
mesmas pessoas procuraram as
redes de TV e prometeram a elas
que conseguiriam lidar bem com
os anunciantes".
Alguns dos novos "integradores" são empresas tradicionais de
merchandising, enquanto outros
são agências de publicidade que
criaram divisões de entretenimento. Novas empresas dedicadas à integração de produtos também surgiram no mercado. Todos esses grupos vêem a chance
de lucrar com a crescente proximidade entre programadores e
anunciantes, que se viram forçados a uma aproximação para
combater a queda na audiência, a
fragmentação do público e as novas tecnologias, como gravadores
digitais de vídeo, que permitem
que os telespectadores ignorem
completamente os comerciais tradicionais.
A Madison Road Entertainment, que se classifica como estúdio independente de televisão especializado no atendimento a
anunciantes, é um dos novos grupos no ramo. A empresa, criada
em Los Angeles dois anos atrás,
foi idéia de Tom Mazza, ex-presidente da Columbia Tristar Television; Jak Severson, veterano executivo de marketing; e Rob Long,
ex-roteirista do seriado "Cheers".
A empresa trabalhou em alguns
dos acordos de integração mais
importantes da temporada, conduzindo a Levi's, a Crest e a Mars
a fecharem contrato com "O
Aprendiz".
Mas a pequena empresa está de
olho em alvos muito maiores. A
Madison Road está planejando
criar o que programadores e
anunciantes vêm classificando
como "entretenimento de marca", incluindo produtos na estrutura de um show desde o começo
de seu desenvolvimento.
"A melhor maneira de aproximar esses dois mundos, que muitas vezes falam línguas muito diferentes, é chegar a um projeto logo no começo do processo criativo", disse Mazza, presidente da
empresa.
Ele conta que um canal de cabo
encomendou o piloto de um seriado com marca criado pela Madison Road e que seis outras
idéias semelhantes estão em desenvolvimento na empresa.
A Alliance, divisão de merchandising do grupo publicitário Grey
Global, está caminhando agressivamente para o negócio de integração de produtos. Seu presidente-executivo, Jarrod Moses, recentemente fechou acordo para
que o jogo "Operation", da Hasbro, seja integrado ao roteiro do
seriado "Scrubs", uma comédia
médica da TV NBC. Agora, ele
quer levar a empresa a novos patamares.
"Meus clientes agora estão pedindo para participar do processo
de desenvolvimento, com suas
marcas", disse Moses. "Eles precisam estar presentes à mesa dos
produtores no momento da concepção de um programa, para que
seja possível encontrar formas de
criar em torno do caráter da marca", completou.
Produção
A Mindshare, empresa de aquisição de mídia controlada pelo
grupo WPP, decidiu partir direto
para a produção. No terceiro trimestre, ela começou a co-produzir o drama familiar "The Days",
com a rede de televisão ABC, dividindo os patrocínios e direitos comerciais. A Mindshare a seguir
vendeu sua parcela de tempo comercial e oportunidades de merchandising a clientes antigos como a Unilever.
O Omnicom Group, conglomerado publicitário internacional,
contratou Robert Riesenberg,
produtor executivo de "The Restaurant", um reality show, para
dirigir sua divisão de entretenimento de marca. E a MPG, divisão de aquisição de mídia do grupo publicitário francês Havas, recentemente contratou dois jornalistas da "Advertising Age" para
fundar sua divisão de entretenimento.
É claro que não existem garantias de que esses intermediários
encontrarão o sucesso. Ninguém
sabe se as audiências vão querer
assistir o entretenimento de marca, ou, caso queriam, se isso realmente as convencerá a comprar
os produtos que vêem.
Um estudo recente da Media-edge, divisão do WPP Group,
constatou que os telespectadores
entre 15 e 34 anos têm menos restrições ao merchandising, e maior
probabilidade do que outros grupos de experimentar marcas que
viram na televisão.
É igualmente complicado medir
o sucesso da integração de produtos se não houver uma alta perceptível e imediata das vendas depois da transmissão do programa.
A Nielsen Media Research recentemente introduziu um serviço
chamado Place(AST)Views, que
monitora onde, quantas vezes e
por quanto tempo uma marca é
exibida na televisão, bem como as
dimensões da audiência.
Uma empresa de merchandising chamada iTVX desenvolveu
um sistema que, segundo ela, calcula o retorno sobre o investimento em merchandising, usando ferramentas que incluem o
custo por segundo de um comercial exibido por período semelhante.
Mesmo que o entretenimento
de marca demonstre força, os intermediários correm outro risco:
podem ser excluídos do mercado
caso os programadores e anunciantes descubram como colaborar sem a ajuda deles.
Programas próprios
A Pepsi, por exemplo, está começando a desenvolver programas de marca próprios. A empresa trabalhou com Joel Gallen, produtor dos Video Music Awards da
MTV, para produzir o "Pepsi
Smash", uma série de shows televisados ao vivo apresentando
músicos como Avril Lavigne, na
WB Network, neste ano. A Pepsi
ficou tão satisfeita com os resultados que planeja tentar outros tipos de shows.
Mas há quem diga que o verdadeiro limite para o entretenimento de marca e para as perspectivas
daqueles que o promovem é a capacidade dos anunciantes para
tolerar as incertezas do mundo do
entretenimento.
"Nem todo mundo quer controlar esse tipo de coisa, como ter
de se preocupar com o desempenho de um show ou um programa
de televisão", disse Donaton.
Isso talvez prejudique os intermediários. Mas seria um grande
alívio para os telespectadores, que
já começam a sofrer de fadiga publicitária.
Até mesmo Mark Burnett, criador de "Survivor" e "O Aprendiz", e ele mesmo envolvido em
merchandising, afirma que a integração tem limites.
"Creio que seja insano tentar
criar um programa em torno de
uma marca", afirma Burnett. "Só
faço programas que me interessam. Com eles, e com o ambiente
certo, você pode fazer merchandising de 30 produtos e audiência
não liga".
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