São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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OPINIÃO ECONÔMICA

O café e o fator qualidade

CYRO GONÇALVES TEIXEIRA

Por muitos anos, o café foi o produto agrícola de maior importância em nosso mercado exportador. Entretanto, nos últimos anos, foi deslocado por outros, que passaram a ter uma expansão maior no mercado internacional, como foi o caso da soja. A exportação dessa leguminosa vem aumentando de ano para ano. Em 1996, foi de US$ 4,6 bilhões. Em 2001, se elevou para US$ 5,3 bilhões.
No caso do café, houve uma retração no valor da exportação, que foi de US$ 2,13 bilhões, em 1996, para US$ 1,41 bilhão, em 2001.
A redução do valor da exportação se deveu em grande parte à desvalorização sofrida no mercado internacional. Em 1996, o café cru teve uma cotação de US$ 2.209 por tonelada e caiu em março de 2002 para US$ 756. Todavia o potencial de exportação poderá ser bem maior, desde que possamos concorrer no mercado externo com produto de qualidade diferenciada, em condição de competir principalmente com o café colombiano e o da América Central, uma vez que a demanda vem aumentando.
Um dos fatores necessários para a obtenção de café de melhor qualidade é que seja cultivado em condições de clima e solo mais adequadas. Quando plantado em regiões de altitude superior a 800 metros, além de ser menos sujeito aos efeitos danosos da geada, a colheita é mais tardia, ocorrendo no período mais seco do ano, o que elimina os efeitos prejudiciais das chuvas. Por outro lado, de um modo geral, a maturação é mais uniforme, permitindo que a colheita seja efetuada quando a maioria dos frutos se encontra no estágio de cereja. Como em qualquer outra fruta, é nessa fase que apresenta as melhores características de aroma e sabor, que são transferidas para os grãos.
O argumento levantado é que a colheita apenas do café cereja exige que seja feita mais de uma vez, pelo fato de ocorrerem várias floradas em épocas diferentes do ano, tornando-se muito cara. Será que é mais econômico proceder uma operação de derriça, uma só vez, altamente traumatizante para o cafeeiro, que colheria simultaneamente os frutos nos estágios de cereja, passa, seco e verde, o que comprometeria a qualidade da bebida, com a consequente desvalorização do produto obtido, principalmente no mercado externo?
A maior competição no mercado internacional está exigindo cada vez mais que se invista no fator qualidade, para se conseguirem cafés especiais, com elevada aceitação no mercado internacional, a preços mais compensadores.
É extremamente importante que sejam adotadas técnicas mais refinadas de cultivo, de colheita e de preparo do café, que possam garantir ao cafeicultor a obtenção de um produto de alto valor comercial e competitivo, em um mercado cada vez mais agressivo.
Alguns cafeicultores estão adotando a colheita a dedo, quando um grande percentual dos frutos se apresenta no estágio de cereja, pelo menos em parte do cafezal, procedendo uma secagem cuidadosa, para obter um volume significativo de um produto de elevada quantidade.
Alguns cafeicultores têm procedido uma colheita a dedo, na ocasião em que as plantas apresentam um elevado percentual de café cereja, o qual é descascado e seco em terreiro sem a remoção da mucilagem, com a obtenção de bebida fina -o que é altamente competitivo no mercado internacional.
Portanto, para que o cafeicultor possa competir em um mercado altamente agressivo, há que ter uma maior preocupação com a qualidade, em detrimento da quantidade. Assim, especial atenção tem que ser voltada no sentido da obtenção de cafés especiais, que demandam maiores cuidados na condução da cultura, na colheita e no seu preparo.
Ademais, deve partir para uma diversificação de culturas, que se adaptem à região, com bom valor comercial e demanda assegurada no mercado.


Cyro Gonçalves Teixeira, engenheiro agrônomo, é pesquisador científico aposentado do Ital (Instituto de Tecnologia de Alimentos) e ex-consultor da Embrapa.


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