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OPINIÃO ECONÔMICA
O café e o fator qualidade
CYRO GONÇALVES TEIXEIRA
Por muitos anos, o café foi o
produto agrícola de maior
importância em nosso mercado
exportador. Entretanto, nos últimos anos, foi deslocado por outros, que passaram a ter uma expansão maior no mercado internacional, como foi o caso da soja.
A exportação dessa leguminosa
vem aumentando de ano para
ano. Em 1996, foi de US$ 4,6 bilhões. Em 2001, se elevou para
US$ 5,3 bilhões.
No caso do café, houve uma retração no valor da exportação,
que foi de US$ 2,13 bilhões, em
1996, para US$ 1,41 bilhão, em
2001.
A redução do valor da exportação se deveu em grande parte à
desvalorização sofrida no mercado internacional. Em 1996, o café
cru teve uma cotação de US$
2.209 por tonelada e caiu em março de 2002 para US$ 756. Todavia
o potencial de exportação poderá
ser bem maior, desde que possamos concorrer no mercado externo com produto de qualidade diferenciada, em condição de competir principalmente com o café
colombiano e o da América Central, uma vez que a demanda vem
aumentando.
Um dos fatores necessários para
a obtenção de café de melhor qualidade é que seja cultivado em
condições de clima e solo mais
adequadas. Quando plantado em
regiões de altitude superior a 800
metros, além de ser menos sujeito
aos efeitos danosos da geada, a
colheita é mais tardia, ocorrendo
no período mais seco do ano, o
que elimina os efeitos prejudiciais
das chuvas. Por outro lado, de um
modo geral, a maturação é mais
uniforme, permitindo que a colheita seja efetuada quando a
maioria dos frutos se encontra no
estágio de cereja. Como em qualquer outra fruta, é nessa fase que
apresenta as melhores características de aroma e sabor, que são
transferidas para os grãos.
O argumento levantado é que a
colheita apenas do café cereja exige que seja feita mais de uma vez,
pelo fato de ocorrerem várias floradas em épocas diferentes do
ano, tornando-se muito cara. Será
que é mais econômico proceder
uma operação de derriça, uma só
vez, altamente traumatizante para
o cafeeiro, que colheria simultaneamente os frutos nos estágios
de cereja, passa, seco e verde, o
que comprometeria a qualidade
da bebida, com a consequente
desvalorização do produto obtido, principalmente no mercado
externo?
A maior competição no mercado internacional está exigindo cada vez mais que se invista no fator
qualidade, para se conseguirem
cafés especiais, com elevada aceitação no mercado internacional, a
preços mais compensadores.
É extremamente importante
que sejam adotadas técnicas mais
refinadas de cultivo, de colheita e
de preparo do café, que possam
garantir ao cafeicultor a obtenção
de um produto de alto valor comercial e competitivo, em um
mercado cada vez mais agressivo.
Alguns cafeicultores estão adotando a colheita a dedo, quando
um grande percentual dos frutos
se apresenta no estágio de cereja,
pelo menos em parte do cafezal,
procedendo uma secagem cuidadosa, para obter um volume significativo de um produto de elevada quantidade.
Alguns cafeicultores têm procedido uma colheita a dedo, na ocasião em que as plantas apresentam um elevado percentual de café cereja, o qual é descascado e seco em terreiro sem a remoção da
mucilagem, com a obtenção de
bebida fina -o que é altamente
competitivo no mercado internacional.
Portanto, para que o cafeicultor
possa competir em um mercado
altamente agressivo, há que ter
uma maior preocupação com a
qualidade, em detrimento da
quantidade. Assim, especial atenção tem que ser voltada no sentido da obtenção de cafés especiais,
que demandam maiores cuidados na condução da cultura, na
colheita e no seu preparo.
Ademais, deve partir para uma
diversificação de culturas, que se
adaptem à região, com bom valor
comercial e demanda assegurada
no mercado.
Cyro Gonçalves Teixeira, engenheiro
agrônomo, é pesquisador científico aposentado do Ital (Instituto de Tecnologia
de Alimentos) e ex-consultor da Embrapa.
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