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OPINIÃO ECONÔMICA
Pergunte a seu avô
BENJAMIN STEINBRUCH
Pergunte a seu avô onde ele
investe sobras de recursos,
quando as tem. Muito provavelmente, ouvirá uma resposta tradicional: na poupança ou em outra aplicação de renda fixa, como
os fundos, por exemplo.
Avós são conservadores, principalmente em matéria de investimentos. E eles estão certos. As cartilhas financeiras dizem que aplicações de risco, como as do mercado de ações, rendem frutos a
longo prazo e não são as melhores
opções para pessoas mais idosas,
que precisam usufruir agora da
rentabilidade de suas poupanças.
Li na semana passada, no "Valor", uma reportagem interessante. Um pequeno grupo de investidores, acima de 75 anos, aplica
regularmente suas economias em
ações, contrariando todas as recomendações dos entendidos. E estão contentes com os resultados.
Conseguem viajar, gastar com lazer e complementar a aposentadoria.
O exemplo desses investidores
arrojados não é para ser seguido
por avós de forma generalizada.
Investimentos em ações, em razão
do risco, são mais indicados para
a formação de patrimônio, pensando sempre no longo prazo.
Quem tem mais de 40 anos certamente se lembra do que aconteceu no mercado de ações em 1971.
Depois da alguns anos de extraordinário crescimento, a Bolsa despencou. Algumas ações literalmente viraram pó, passaram a
valer apenas 10% de sua cotação
e levaram até dez anos para recuperar o valor anterior. Muitos investidores venderam seus papéis,
fugiram da Bolsa e nunca mais
voltaram. Coisa parecida ocorreu
no estouro da bolha da Bolsa de
Nova York, em 2001.
Não lembro isso para alarmar
investidores. Ao contrário. Os episódios de 1971 e 2001 são consequência de momentos de alta especulação, não representam a regra do mercado e, mesmo tendo
sido extremamente graves, não
impuseram perdas definitivas aos
investidores que olhavam para o
mercado de ações com olhos de
longo prazo.
Então, o comportamento destemido dos investidores seniores
que gostam da Bolsa deveria representar um alerta sobre as
oportunidades que o país perde
com o seu minúsculo mercado
acionário, que poderia ser (e não
é), ao mesmo tempo, agente de
desenvolvimento econômico e de
formação do patrimônio das pessoas.
Num país com elevadíssimos
custos de capital, a captação de
recursos via lançamento de ações
é instrumento de redução desses
custos. Portanto contribui para a
saúde financeira das empresas.
Ao lançar ações no mercado e
democratizar o capital, as empresas captam poupança de longo
prazo para investimentos, que
vão gerar aumento de produção,
crescimento econômico e empregos. Mas vários fatores têm desencorajado a abertura de capital,
entre eles a incerteza da economia, os altos custos da operação e
a burocracia que ela exige. A
CVM registrou apenas uma oferta primária de ações neste ano.
Ao comprar ações, o investidor
se torna partícipe de lucros e prejuízos de uma empresa e deve estar preparado, como num casamento, para suportar com ela períodos de crise e de bonança.
Ocorre que, por distorções e falta
de regulamentação, o acionista
minoritário muitas vezes não tem
seus direitos respeitados, a ponto
de arcar com prejuízos em tempo
de crise e não levar os lucros em
tempo de bonança.
O exemplo dos investidores com
mais de 75 anos mostra que há
campo para o crescimento do
mercado de ações. Eles não começaram agora a investir na Bolsa.
Alguns estão lá há mais de 30
anos e satisfeitos com os resultados. Uma prova de que, a despeito
das ressalvas feitas acima, há empresas boas no mercado, que proporcionam ganhos bastante razoáveis a médio e longo prazo a
seus acionistas minoritários.
O Brasil tem um índice muito
baixo de poupança interna, bastante concentrada em aplicações
de renda fixa. Só o patrimônio
dos fundos soma mais de R$ 450
bilhões, uma montanha de recursos cuja finalidade principal é financiar o governo (só 7% desse
valor está em fundos de ações). O
país será outro no dia em que esse
capital puder ser carreado para
investimentos produtivos, via
mercado de ações aberto a investidores de todos os tamanhos e de
todas as idades.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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