São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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Não há meta para o câmbio, diz BC

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que não há um limite preestabelecido para o volume de dólares a ser comprado pela instituição no mercado de câmbio. De acordo com ele, a atuação do BC "continua normalmente" até que as reservas em moeda estrangeira do governo cheguem a um nível considerado "suficiente".
Nesta semana, o BC voltou a comprar dólares no mercado pela primeira vez desde março. Em audiência pública realizada no Congresso, Meirelles voltou a dizer que o objetivo é reforçar as reservas internacionais, e não interferir na cotação do dólar. "Não existe meta para a taxa de câmbio."
Foi em 2003 que o BC começou a atuar de forma mais agressiva no mercado de câmbio. De lá para cá, foram adquiridos US$ 17,1 bilhões -sem contar as intervenções feitas entre segunda e quarta-feira desta semana, cujos valores não foram divulgados.
As ações do BC no câmbio são objeto de polêmica, já que parte do governo defende uma atuação mais forte, que impeça a queda excessiva do dólar. Por um lado, o real mais forte faz com que os preços dos produtos brasileiros negociados no exterior fiquem menos competitivos, o que pode prejudicar os exportadores. Um dos principais defensores dessa tese é o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento).
Mas há os que defendem que a intervenção no câmbio seja a menor possível. Tanto Meirelles como o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) defendem que a cotação do dólar flutue de acordo com as condições de mercado. Para o BC, a valorização do real tem seu lado positivo, pois ajuda no controle da inflação.
Ontem, Meirelles disse que as compras de dólares serão mantidas até que as reservas internacionais cheguem a um nível considerado adequado, o que, segundo ele, ainda não aconteceu.
No final de setembro, as reservas estavam em US$ 57 bilhões. É de lá que saem os recursos usados no pagamento das parcelas da dívida externa do governo.

Juros, greve e CPI
Durante a audiência, realizada em conjunto por comissões da Câmara e do Senado, Meirelles foi cobrado pelas elevadas taxas de juros no país. Ele também foi questionado sobre a crise política e teve de enfrentar um protesto de servidores do BC, que estão em greve há mais de duas semanas.
O deputado Pauderney Avelino (PFL-AM) foi um dos que criticaram os juros. "Há um descolamento entre a política econômica e a realidade que estamos vivendo", afirmou.
O senador Leomar Quintanilha (PC do B-TO) reclamou do aperto fiscal, que, segundo ele, afeta os investimentos do governo em infra-estrutura.
Meirelles defendeu a política econômica, afirmando que os juros são fixados de modo a garantir a estabilidade da inflação -o que, em última análise, favorece o crescimento.
De modo análogo, o presidente do BC disse que o ajuste fiscal é necessário para conter o avanço da dívida pública. "Governar é fazer opções", afirmou. O deputado Sérgio Miranda (PDT-MG) rebateu: "Parece que, hoje em dia, governar é pagar juros".
Miranda também perguntou a Meirelles se a fiscalização do BC não havia falhado ao permitir que um esquema de caixa dois de campanha fosse montado, por vários políticos, a partir de empréstimos bancários.
Meirelles foi evasivo e disse que o BC está colaborando com as investigações, fornecendo dados requisitados pelas CPIs em funcionamento atualmente.
A audiência contou ainda com protestos de funcionários do BC. Em greve desde o último dia 19, um grupo de servidores portava cartazes e usava apitos para interromper a sessão. Diante da pressão, Meirelles disse que pretende se reunir com representantes do sindicato na próxima terça-feira.


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