São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2004

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FINANCIAMENTO

Ministro do Desenvolvimento vê diferenciação do BNDES como sinal de que o país discrimina empresas de fora

Furlan é contra juro maior para estrangeira

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, a cujo comando está subordinado o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), vem sendo, no governo, o maior opositor da cobrança de juros mais altos às empresas estrangeiras, conforme está previsto nas políticas operacionais do banco em vigor desde 1º de março.
Segundo a Folha apurou, o ministro chegou a manifestar sua discordância em uma das últimas reuniões do conselho de administração do banco de fomento.
Furlan ponderou que a diferença de taxas sinalizava para os investidores estrangeiros que o Brasil estava discriminando as empresas de fora do país. Apesar da ponderação, Furlan não chegou a propor mudanças na política.
Ontem, o jornal "Valor" publicou reportagem segundo a qual o governo federal havia determinado ao BNDES a mudança da regra. À tarde, a assessoria de imprensa negou que o banco tivesse recebido a ordem.
"O BNDES continua praticando a política operacional que entrou em vigor no dia 1º de março. Não recebeu nenhuma determinação do presidente da República para atuar de forma diferente", diz a informação oficial ditada pela assessoria do banco.
Conforme a Folha publicou no dia 2 de março deste ano, as novas políticas operacionais do BNDES determinam a cobrança de juros mais altos nos empréstimos para empresas com controle de capital estrangeiro.
Nos empréstimos diretos (financiamentos do banco sem intermediação de outro agente financeiro), por exemplo, as micro, pequenas e médias empresas nacionais pagam juros máximos de 2,5% ao ano. As grandes empresas de capital nacional pagam até 4,5%. As de capital estrangeiro, até 5,5% ao ano.
Antes, as políticas do banco só diferenciavam por origem do capital os empréstimos para áreas passíveis de incentivos regionais -basicamente as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Palocci também é contra
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, também é contra a cobrança de juros maiores para empresas estrangeiras. "A Constituição ultrapassou essa diferenciação" [entre empresas nacionais e estrangeiras], afirmou Palocci, ao conversar ontem com jornalistas brasileiros em Paris.
Além do argumento institucional, o ministro usou outro, mais prático, para criticar a intenção do banco: "Não há sentido hoje em fazer essa diferença, quando, das 500 maiores multinacionais em operação no mundo, 450 estão instaladas no Brasil".


Colaborou Clóvis Rossi, colunista da Folha


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