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DIAS DE TENSÃO
Avaliação é que Copom poderia manter Selic no nível atual se fuga de recursos de emergentes persistir
Para analistas, turbulência pode afetar juros
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO
O humor do mercado financeiro em relação ao Brasil pesará
mais que o recente recuo da inflação na decisão do Banco Central
sobre o rumo da taxa de juros, daqui a duas semanas. Segundo analistas, caso a fuga de recursos de
mercados emergentes prossiga, é
possível que a autoridade monetária decida manter os juros estáveis em 16% ao ano.
"O desempenho do mercado
contará muito mais que os fundamentos da economia brasileira na
próxima decisão do Copom [Comitê de Política Monetária]. Se a
volatilidade do dólar continuar
forte, é possível que o BC mantenha os juros estáveis", afirma Alexandre Maia, economista-chefe
da Gap Asset Management.
Caso os chamados "hedge
funds", que haviam investido bastante em mercados emergentes
em 2003, continuem reduzindo
exposição a esses países agora, os
indicadores do mercado brasileiro tendem a piorar mais.
O problema, segundo analistas,
é que a decisão desses fundos de
vender ativos de países emergentes é apenas parcialmente explicada por decisões estratégicas de
gestão. Os administradores dos
"hedge funds" também estão sendo forçados a se livrar desses ativos porque os investidores estão
sacando recursos, já que querem
reduzir sua exposição a risco.
"Temos visto que "hedge funds"
têm vendido ativos de mercados
emergentes para atender aos pedidos de resgate de cotistas", diz
Paulo Vieira da Cunha, diretor e
economista-chefe para América
Latina do HSBC, em Nova York.
Os dados de consultorias que
acompanham o mercado de fundos mais agressivos confirmam
essa percepção. Segundo a AMG
Data, os fundos dedicados a países emergentes amargaram, pela
quarta vez consecutiva, captação
líquida (saques menos aplicações) negativa de US$ 25,6 milhões na semana terminada anteontem. Já os "high yield funds",
destinados a aplicar em títulos
corporativos de alto risco, perderam US$ 200,6 milhões no mesmo período.
Tudo isso começa a gerar no
mercado dúvidas sobre a expectativa de um corte de juros entre
0,25 e 0,5 ponto percentual na
próxima semana.
Os analistas dizem que a maior
percepção de risco anulará, parcialmente, os efeitos positivos da
queda da inflação, limitando o espaço para um corte nos juros.
Essa é a opinião de Alexandre
Sant'Anna, economista da administradora de recursos ARX Capital. De acordo com ele, os números de inflação menores do que o
esperado poderiam fazer com que
o BC reduzisse com mais força a
taxa Selic. Com o pior quadro externo, porém, a autoridade monetária deverá optar por uma redução de apenas 0,25 ponto percentual, de acordo com Sant'Anna.
Para Alex Agostini, economista
da Global Invest, o BC "pecou pelo excesso de cautela" desde o início do ano e "perdeu uma oportunidade" de reduzir mais os juros.
Na visão dele, agora, com a piora do cenário externo neste mês
-alta do dólar, do risco-país e
perspectiva de aumento nos juros
dos EUA-, o BC não terá mais
condições de fazer cortes maiores
na taxa. Ainda assim, ele espera
um recuo de 0,25 ponto percentual neste mês. Previa, antes, uma
queda de 0,5 ponto.
Para o economista Luiz Roberto
Cunha, da PUC-RJ, o cenário conturbado não impedirá uma queda
nos juros.
Na avaliação dele, a alta do dólar, que poderia pressionar a inflação, "terá um efeito quase desprezível" para o consumidor, se a cotação ficar em torno de R$ 3.
(ÉRICA FRAGA E PEDRO SOARES)
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