São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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DIAS DE TENSÃO

Avaliação é que Copom poderia manter Selic no nível atual se fuga de recursos de emergentes persistir

Para analistas, turbulência pode afetar juros

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO

O humor do mercado financeiro em relação ao Brasil pesará mais que o recente recuo da inflação na decisão do Banco Central sobre o rumo da taxa de juros, daqui a duas semanas. Segundo analistas, caso a fuga de recursos de mercados emergentes prossiga, é possível que a autoridade monetária decida manter os juros estáveis em 16% ao ano.
"O desempenho do mercado contará muito mais que os fundamentos da economia brasileira na próxima decisão do Copom [Comitê de Política Monetária]. Se a volatilidade do dólar continuar forte, é possível que o BC mantenha os juros estáveis", afirma Alexandre Maia, economista-chefe da Gap Asset Management.
Caso os chamados "hedge funds", que haviam investido bastante em mercados emergentes em 2003, continuem reduzindo exposição a esses países agora, os indicadores do mercado brasileiro tendem a piorar mais.
O problema, segundo analistas, é que a decisão desses fundos de vender ativos de países emergentes é apenas parcialmente explicada por decisões estratégicas de gestão. Os administradores dos "hedge funds" também estão sendo forçados a se livrar desses ativos porque os investidores estão sacando recursos, já que querem reduzir sua exposição a risco.
"Temos visto que "hedge funds" têm vendido ativos de mercados emergentes para atender aos pedidos de resgate de cotistas", diz Paulo Vieira da Cunha, diretor e economista-chefe para América Latina do HSBC, em Nova York.
Os dados de consultorias que acompanham o mercado de fundos mais agressivos confirmam essa percepção. Segundo a AMG Data, os fundos dedicados a países emergentes amargaram, pela quarta vez consecutiva, captação líquida (saques menos aplicações) negativa de US$ 25,6 milhões na semana terminada anteontem. Já os "high yield funds", destinados a aplicar em títulos corporativos de alto risco, perderam US$ 200,6 milhões no mesmo período.
Tudo isso começa a gerar no mercado dúvidas sobre a expectativa de um corte de juros entre 0,25 e 0,5 ponto percentual na próxima semana.
Os analistas dizem que a maior percepção de risco anulará, parcialmente, os efeitos positivos da queda da inflação, limitando o espaço para um corte nos juros.
Essa é a opinião de Alexandre Sant'Anna, economista da administradora de recursos ARX Capital. De acordo com ele, os números de inflação menores do que o esperado poderiam fazer com que o BC reduzisse com mais força a taxa Selic. Com o pior quadro externo, porém, a autoridade monetária deverá optar por uma redução de apenas 0,25 ponto percentual, de acordo com Sant'Anna.
Para Alex Agostini, economista da Global Invest, o BC "pecou pelo excesso de cautela" desde o início do ano e "perdeu uma oportunidade" de reduzir mais os juros.
Na visão dele, agora, com a piora do cenário externo neste mês -alta do dólar, do risco-país e perspectiva de aumento nos juros dos EUA-, o BC não terá mais condições de fazer cortes maiores na taxa. Ainda assim, ele espera um recuo de 0,25 ponto percentual neste mês. Previa, antes, uma queda de 0,5 ponto.
Para o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-RJ, o cenário conturbado não impedirá uma queda nos juros.
Na avaliação dele, a alta do dólar, que poderia pressionar a inflação, "terá um efeito quase desprezível" para o consumidor, se a cotação ficar em torno de R$ 3.
(ÉRICA FRAGA E PEDRO SOARES)


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