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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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COMÉRCIO EXTERIOR

Exportação cresce em setor de pouco conteúdo tecnológico

Produto "barato" garante saldo comercial recorde

VINICIUS MOTA
DA REPORTAGEM LOCAL

As exportações brasileiras aumentaram em setores de pouco conteúdo tecnológico e cuja fatia de mercado vem encolhendo no comércio internacional.
Essas são as principais conclusões de um estudo inédito do Iedi (Instituto de Estudos Industriais) sobre a balança de comércio brasileira entre janeiro e abril, a ser publicado amanhã.
O trabalho mostra que, apesar de o Brasil ter obtido seu maior saldo comercial de todos os tempos (para o período) nos primeiros quatro meses de 2003, alguns fatores podem dificultar a continuidade da obtenção de grandes saldos no futuro.
O desempenho das vendas em setores cuja participação no comércio mundial seguem tendência declinante foram responsáveis por 84% do aumento do saldo comercial no primeiro terço de 2003, em relação ao mesmo período do ano passado.
Em outro exercício realizado no estudo, dividiram-se em dois grupos os setores exportadores brasileiros. No primeiro foram enquadrados os segmentos que apresentaram desempenho negativo no comércio global ao longo dos cinco anos que vão de 1996 e 2001.
No segundo, foram alocados os que, no comércio mundial, cresceram à média mínima anual de 5% nesse quinquênio.
Resultado: de janeiro a abril de 2003, as exportações brasileiras nos setores de desempenho mundial negativo cresceram 28,6% em relação ao terço inicial de 2002. Já as vendas externas dos setores de alto crescimento global aumentaram num ritmo menor: 10%.
Outro destaque do relatório do Iedi diz respeito ao conteúdo tecnológico. De janeiro a abril deste ano, as vendas externas da indústria intensiva em pesquisa e desenvolvimento instalada no Brasil declinaram 23% em relação aos quatro primeiros meses de 2002.
O estudo também concluiu que o crescimento das exportações no primeiro terço de 2003 (em relação ao mesmo período de 2002) foi mais alto (35%) para as mercadorias de baixa e média-baixa intensidade tecnológica. Nos produtos de alta intensidade, houve queda de 29% nas exportações.
Para alcançar um aumento médio de 26% nas vendas externas no primeiro quadrimestre, sobre o primeiro terço do ano passado, o Brasil dependeu mais de produtos primários (que não sofrem transformação). Nesse segmento, empresas instaladas no país venderam para o exterior 44% mais que no mesmo período de 2002.

Problemas para o futuro
Exportações mais lastreadas no desempenho de setores pouco dinâmicos no comércio mundial, menos dotadas de conteúdo tecnológico e mais dependentes de produtos primários em geral indicam problemas para a manutenção de saldos externos volumosos no futuro.
Todos esses fatores, no médio e no longo prazo, tendem a estabelecer limites para o aumento das vendas externas.
No seu estudo, o Iedi manifesta essa preocupação. Identifica dois instrumentos para lidar com a ameaça: a política de negociações comerciais -para retirar barreiras do mundo rico contra produtos brasileiros- e a industrial -no sentido de agregar mais valor às exportações, estimular inovações tecnológicas e atrair investimentos para setores que exportem produtos de alta tecnologia.
O instituto, porém, faz ressalvas a conclusões muito pessimistas sobre esses resultados.
Para o diretor-executivo do Iedi, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, o fato de o Brasil ser competitivo no comércio de mercadorias de baixo valor agregado agiu, paradoxalmente, como um antídoto contra os efeitos da conjuntura econômica mundial, marcada pela desaceleração da atividade.
Segundo Almeida, países cujas exportações dependem de produtos mais acabados tendem a ser mais prejudicados nesse contexto. Já a demanda por commodities agrícolas, por exemplo, é mais resistente à queda nos momentos de desaceleração da renda global.
O outro fator que contribuiu para a escalada das vendas externas desses produtos menos acabados foi, na opinião do diretor do instituto, a resposta diferenciada ao estímulo da desvalorização cambial. Para Almeida, commodities como as agropecuárias tendem a reagir mais rapidamente aos estímulos do barateamento do real.
No relatório de sua pesquisa, o Iedi aponta variações sazonais que podem ter influído no resultado "menos nobre" da balança comercial: a safra de soja foi contabilizada com atraso em 2002, houve recuperação das exportações para a Argentina neste ano e, também, a irrupção da China como o segundo maior comprador de mercadorias brasileiras.
Outro matiz colocado pelo Iedi é sobre o conteúdo tecnológico exportado. Na opinião do instituto, o resultado modesto nos filões mais nobres da tecnologia não é decorrência de perda de competitividade do parque produtivo nacional, mas consequência do baixo desempenho econômico dos países desenvolvidos.
Assim que houver retomada do crescimento nos países desenvolvidos, acredita o Iedi, as exportações nesse setor poderão reagir.



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