|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRISE DO DÓLAR
Governo não vai cortar mais gastos a fim de estabilizar relação entre dívida e PIB, principal objetivo fiscal desde 98
Crise faz governo esquecer teto da dívida
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A instabilidade do dólar e dos
juros fez com que o governo decidisse abandonar temporariamente o principal objetivo da política
fiscal desde 98: a estabilização da
dívida pública em relação ao PIB.
O secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Guilherme Dias, disse à Folha que o
governo não vai alterar as metas
fiscais deste ano e do próximo.
"Acreditamos que a alta dos juros
e do câmbio tem um caráter de
transitoriedade", afirmou.
Para estabilizar a dívida em relação ao PIB, seria necessário que o
setor público economizasse mais
para pagar juros da dívida pública
(superávit primário).
Antes do anúncio do pacote
cambial que sinalizou a entrada
de mais US$ 10,8 bilhões no país,
o chefe da Assessoria Econômica
do Ministério do Planejamento,
José Guilherme Reis, disse que a
estabilização da dívida não estava
garantida por causa da mudança
nos parâmetros macroeconômicos. "A relação dívida/PIB foi um
parâmetro inicial para a construção de certos objetivos de política
fiscal. A tendência de longo prazo
é que é importante."
O próprio ministro da Fazenda,
Pedro Malan, ao anunciar o programa de ajuste dos bancos federais, disse que, embora o governo
tenha até fixado metas para a estabilização da dívida no passado,
essa não era mais uma tarefa da
equipe econômica. "Não existe
mágica nisso. Divulgamos a meta
de 46,5% [relação dívida/PIB, fixada em 98" em um momento de
muita tensão [acordo com o
FMI"", disse o ministro.
Em abril, quando o dólar estava
em plena escalada, o governo divulgou a LDO (Lei de Diretrizes
Orçamentárias) de 2002, aumentando o superávit primário de
2001 de 2,7% do PIB para 3% do
PIB. A alta foi uma decorrência
das mudanças nos parâmetros
macroeconômicos. A taxa do dólar, nas projeções do governo,
passou de R$ 1,98 para R$ 2,15 na
época. A taxa de juros média do
ano passou de 12,2% para 13,2%.
Naquele momento, o Ministério
do Planejamento informou que o
aumento do superávit seria suficiente para estabilizar a dívida em
49% do PIB. Hoje, ela é de R$ 618
bilhões ou 52% do PIB. Com o pacote de ajuda aos bancos federais,
essa relação subirá para 53%.
No mercado, há quem acredite
que o dólar não ficará mais abaixo
de R$ 2,30. E a taxa de juros já é de
18,25% ao ano. No entanto, a resposta do governo é que não é mais
possível calcular metas porque
ninguém sabe em quanto o dólar
vai se estabilizar.
Em um estudo, o economista
Fábio Giambiagi, do BNDES, cita
alguns motivos pelos quais o governo deve ter como meta não
apenas a estabilização da dívida,
mas a sua redução:
1) A dívida brasileira aumentou
quase 20 pontos percentuais entre
94 e 2000; 2) "A obtenção de um
superávit que apenas estabilize a
dívida pública manteria um horizonte de incerteza sobre os rumos
da economia"; 3) A redução da dívida permite aumentar gastos na
área social, por exemplo.
Alguns analistas do mercado financeiro acreditam que o esforço
fiscal atual do governo já é bastante significativo. "O governo teria
de fazer um superávit adicional de
mais de R$ 10 bilhões para corrigir o desvio provocado pelo dólar
e pelos juros", disse Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e sócio
da consultoria Tendências.
Segundo Guilherme Dias, do
Planejamento, o Orçamento de
2001 não sofrerá cortes adicionais.
Segundo ele, os investimentos
adicionais da Eletrobrás na construção de linhas de transmissão
de energia elétrica, cerca de R$ 1,1
bilhão, não afetarão os resultados.
"Está sendo feita uma reestimativa das receitas das estatais. Vamos manter a meta de superávit
primário das estatais em R$ 6,1 bilhões." Além dessa economia, o
governo federal deve poupar neste ano outros R$ 23,3 bilhões.
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Entenda: Conta mostra capacidade de país pagar débito Índice
|