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"Gasolina no Brasil é adulterada"
DO "FINANCIAL TIMES"
O mercado de combustíveis
brasileiros é um dos maiores em
vendas anuais, atingindo cerca de
380 milhões de barris e US$ 35 bilhões. No entanto os lucros desse
setor ainda estão pequenos quando comparados aos da média
mundial.
A Shell, grupo anglo-holandês
de combustível, anunciou perdas
no Brasil pela primeira vez em 87
anos de negócio. A Esso também
está no vermelho.
Tempos difíceis
Nenhuma das empresas vai revelar quanto dinheiro está perdendo, mas elas afirmam que não
são as únicas que estão enfrentando tempos difíceis.
A Petrobras, a maior distribuidora do país e única refinaria de
petróleo, viu a sua fatia de mercado cair de 24% em 1998 para 21%.
O problema, segundo as empresas, é a competição injusta de um
grupo de distribuidores de combustíveis que entraram no mercado após a desregulamentação do
setor nos últimos anos.
Muitos dos novos distribuidores sonegam impostos e adulteram combustível, o que lhes permite ter custos menores.
"É impossível ser competitivo
num ambiente como esse", diz Julio Bueno, chefe da divisão de
combustíveis da Petrobras. "Isso
significa desvantagens para os
consumidores, perdas financeiras
para nós e perda de renda para o
governo", afirma o diretor de vendas no varejo da Esso, Hélvio Rebeschini.
Adulteração
Alguns distribuidores de combustíveis afirmam que até 30% da
gasolina vendida no Brasil é, de alguma forma, adulterada.
O governo diz que esse número
é exagerado e que o valor correto
deve estar perto dos 10%.
"A desregulamentação teve o
objetivo de aumentar a competição, mas o número de distribuidores aumentou além das nossas
expectativas", afirmou Luiz Augusto Horta Nogueira, diretor da
Agência Nacional de Petróleo
(ANP).
Há hoje 160 distribuidores. Em
1992, eram apenas sete.
Falta de preparo
Os analistas afirmam que a ANP
não estava preparada para regulamentar e fiscalizar adequadamente as novas empresas do setor.
O tipo mais comum de adulteração é o adicionamento de mais
álcool do que o limite de 24%
-que agora está sendo reduzido
para 20%.
A ANP afirma ter testado 70 mil
amostras em 14 laboratórios novos, controlando assim 80% do
combustível comercializado. "Essa situação crítica está melhorando", diz Horta.
Há muito em jogo. O mercado
de combustíveis do Brasil está entre os quatro maiores do mundo,
juntamente com os Estados Unidos, Alemanha e Japão, e deve
crescer consideravelmente nos
próximos anos já que se estima
que a venda de carros vai aumentar.
Segundo estimativas da indústria, as perdas anuais de impostos
podem somar US$ 1,7 bilhão. Rebeschini diz que o preço cobrado
por distribuidores fraudulentos é
de US$ 1,25 por litro, enquanto o
preço cobrado por distribuidores
"legítimos" nos postos de gasolina é de US$ 1,34.
Embora admita que alguns distribuidores de menor porte, legítimos, possam ter custos operacionais menores do que os das grandes empresas, Rebeschini argumenta que eles nem sempre respeitam os padrões de qualidade e
os cuidados ambientais.
Mesmo assim, diante da forte
concorrência, a Shell foi capaz de
reduzir pela metade seus custos
operacionais neste ano.
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