São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2000


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"Gasolina no Brasil é adulterada"

DO "FINANCIAL TIMES"

O mercado de combustíveis brasileiros é um dos maiores em vendas anuais, atingindo cerca de 380 milhões de barris e US$ 35 bilhões. No entanto os lucros desse setor ainda estão pequenos quando comparados aos da média mundial.
A Shell, grupo anglo-holandês de combustível, anunciou perdas no Brasil pela primeira vez em 87 anos de negócio. A Esso também está no vermelho.

Tempos difíceis
Nenhuma das empresas vai revelar quanto dinheiro está perdendo, mas elas afirmam que não são as únicas que estão enfrentando tempos difíceis.
A Petrobras, a maior distribuidora do país e única refinaria de petróleo, viu a sua fatia de mercado cair de 24% em 1998 para 21%. O problema, segundo as empresas, é a competição injusta de um grupo de distribuidores de combustíveis que entraram no mercado após a desregulamentação do setor nos últimos anos.
Muitos dos novos distribuidores sonegam impostos e adulteram combustível, o que lhes permite ter custos menores.
"É impossível ser competitivo num ambiente como esse", diz Julio Bueno, chefe da divisão de combustíveis da Petrobras. "Isso significa desvantagens para os consumidores, perdas financeiras para nós e perda de renda para o governo", afirma o diretor de vendas no varejo da Esso, Hélvio Rebeschini.

Adulteração
Alguns distribuidores de combustíveis afirmam que até 30% da gasolina vendida no Brasil é, de alguma forma, adulterada.
O governo diz que esse número é exagerado e que o valor correto deve estar perto dos 10%.
"A desregulamentação teve o objetivo de aumentar a competição, mas o número de distribuidores aumentou além das nossas expectativas", afirmou Luiz Augusto Horta Nogueira, diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP).
Há hoje 160 distribuidores. Em 1992, eram apenas sete.

Falta de preparo
Os analistas afirmam que a ANP não estava preparada para regulamentar e fiscalizar adequadamente as novas empresas do setor.
O tipo mais comum de adulteração é o adicionamento de mais álcool do que o limite de 24% -que agora está sendo reduzido para 20%.
A ANP afirma ter testado 70 mil amostras em 14 laboratórios novos, controlando assim 80% do combustível comercializado. "Essa situação crítica está melhorando", diz Horta.
Há muito em jogo. O mercado de combustíveis do Brasil está entre os quatro maiores do mundo, juntamente com os Estados Unidos, Alemanha e Japão, e deve crescer consideravelmente nos próximos anos já que se estima que a venda de carros vai aumentar.
Segundo estimativas da indústria, as perdas anuais de impostos podem somar US$ 1,7 bilhão. Rebeschini diz que o preço cobrado por distribuidores fraudulentos é de US$ 1,25 por litro, enquanto o preço cobrado por distribuidores "legítimos" nos postos de gasolina é de US$ 1,34.
Embora admita que alguns distribuidores de menor porte, legítimos, possam ter custos operacionais menores do que os das grandes empresas, Rebeschini argumenta que eles nem sempre respeitam os padrões de qualidade e os cuidados ambientais.
Mesmo assim, diante da forte concorrência, a Shell foi capaz de reduzir pela metade seus custos operacionais neste ano.



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