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OPINIÃO ECONÔMICA
Um novo governo Lula
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Os primeiros seis meses do
governo Lula mereceram
uma série de análises por parte da
imprensa e dos principais formadores de opinião do país. Os petistas, com exceção de um grupo
ideologicamente mais radicalizado, defenderam o governo alegando que sua baixa eficiência,
neste período, decorre do pouco
tempo no poder e dos problemas
gerados pela "herança maldita",
deixada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O presidente Lula vai precisar de mais
tempo para impor sua agenda de
mudanças e cumprir as promessas ambiciosas da campanha eleitoral do ano passado; uma avaliação agora seria precipitada, dizem eles.
A direita convertida, principalmente os empresários nacionais e
parte da classe média, preferiu
não se manifestar publicamente.
Suas frustrações com o presidente, que são imensas, ficaram restritas ao anonimato de algumas
declarações à imprensa e à segurança de algumas reuniões fechadas. Mas a desilusão é muito
grande, e o sentimento de que foram enganados por Lula, impossível de ser escondido.
Os partidos de oposição aproveitaram o momento para aprofundar os ataques ao presidente
Lula. Fragilizados no Congresso
pela adesão maciça dos partidos
de direita, imobilizados pelos interesses -alguns legítimos- de
governadores que dependem do
auxílio do governo federal e que
precisam da reforma da Previdência para realizar seus programas de governo, o PFL e o PSDB
ensaiaram algumas críticas mais
duras à falta de eficiência da administração Lula.
A crítica mais contundente veio
dos funcionários públicos, machucados que foram por uma
traição inominável cometida pelo
PT e pelo presidente Lula. Em menos de 90 dias, esses brasileiros
passaram da condição de companheiros de luta para a de sanguessugas dos trabalhadores privados.
Abandonados pela CUT, não tiveram outra saída senão aliar-se
ao PSTU e fundar uma nova central sindical.
A grande voz ausente desse necessário debate foi a dos trabalhadores privados. A posição governista da CUT impediu que as críticas à política econômica neoliberal do governo Lula, ao achatamento salarial e ao aumento do
desemprego que dela derivaram
tivessem a dimensão política que
mereciam. Mais uma traição, essa menos dramática que a cometida com os funcionários públicos,
mas ainda assim uma traição.
Do lado dos que vêem, neste início de governo, sinais claros de sucesso e eficiência destacaram-se
os grupos ligados ao mercado financeiro, no Brasil e no exterior.
Afinal, o governo brasileiro é um
dos únicos entre os países em desenvolvimento que seguem, à risca, a cartilha do chamado Consenso de Washington, como bem
lembrou o jornal inglês "Financial Times".
Não vou, entretanto, usar este
meu espaço semanal para falar
dos primeiros seis meses de Lula.
Não gosto de datas como referência para analisar fatos políticos
ou econômicos. A história nos ensina que o calendário civil é um
péssimo referencial para essas reflexões. Entendo que a votação
em primeiro turno da reforma da
Previdência deve substituir, como
primeiro marco importante do
governo petista, o fim do primeiro
semestre do ano. O que aconteceu
na Câmara de Deputados, nesta
semana, tem uma força extraordinária para que possamos entender a dinâmica do governo e o
que pode acontecer no decorrer
dos próximos meses.
O governo revelou-se politicamente muito mais frágil do que
procurava passar a todos nós,
principalmente por meio da imprensa. Os mais de 400 votos esperados viraram pouco mais de 350
na votação inicial e pouco menos
de 330 na votação do destaque da
contribuição dos inativos.
Não seria exagero dizer que o
governo terminou de joelhos a votação da última quarta-feira. Escapamos de um desastre pelo
comportamento maduro e correto dos partidos de oposição. Tivessem o PFL e o PSDB pautado sua
atuação pelos valores seguidos
pelo PT em seus anos de oposição
e estaríamos vivendo hoje uma
crise financeira de grandes proporções. Qual seria a cotação do
dólar e o valor do chamado risco
Brasil hoje?
A governabilidade de Lula foi
mantida não pelos partidos oportunistas que aderiram à sua base
parlamentar em razão de interesses menores, mas pelos tucanos e
pefelistas que colocaram os interesses do país à frente de uma mera busca do poder. Aliás, comportamento esse oposto ao dos petistas durante os anos FHC.
Mitos caíram -como o todo-poderoso ministro José Dirceu-
e histórias foram maculadas por
comportamentos fascistóides, como o do deputado Professor Luizinho. A cobertura, pela televisão,
desses momentos dramáticos revelou uma tentativa de rolo compressor no encaminhamento das
votações e seu fracasso durante
duas madrugadas. Prevaleceu a
democracia, com todas as suas
virtudes e defeitos. Mas que o governo Lula será outro depois desses acontecimentos não tenha dúvida!
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 60, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet:www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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