São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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MODA

A maneira sensual de vestir maiôs, jeans e camisetas e as linhas mais urbanas das grifes paulistanas ganham mercado

Grifes de São Paulo conquistam a Europa

ANNE-LAURE QUILLERIET
DO "LE MONDE", EM SÃO PAULO

Um calção de banho reduzido a um conjunto de tiras, um biquíni microscópico feito de escamas douradas, um maiô preso por laços que se cruzam nos quadris... Os modelos da Rosa Chá rapidamente fazem esquecer o ar condicionado da sala de desfiles.
A cada ano, Amir Slama fundador, em 1989, da marca Rosa Chá, desenha pelo menos 400 maiôs e biquínis, adotados por clientes que vão de Beyoncé a Hillary Clinton. Para a temporada 2004, ele pediu a estilistas brasileiros que reinterpretassem lendas locais, como a do Boitatá ou a do pássaro Uirapuru, usando para isso alguns centímetros de tecido.
Depois de chegar aos Estados Unidos em 1997, a grife de São Paulo começa a se desenvolver agora no mercado europeu.
Além dos desfiles e do fenômeno das modelos transformadas em ícones, o edifício projetado por Oscar Niemeyer no Parque do Ibirapuera acolherá, a partir de 15 de setembro, uma exposição de rara envergadura ocupando seus 8.000 metros quadrados. Orquestrada por Jean-Louis Froment, com a cumplicidade das historiadoras de moda Florence Muller e Pamela Golbin, "Fashion Passion" explorará as interações entre roupas e fotografia.
"Não existe uma cultura da moda no Brasil, ainda, as pessoas usam jeans e camisetas, mas elas adoram se arrumar com um verdadeiro senso de cor e glamour", diz Ana Luiza Pessoa de Queiroz, encarregada de divulgar na Europa os produtos de Carla Amorim e da Ellus, uma das mais renomadas grifes paulistanas. Na Europa, a Ellus conseguiu chegar a prateleiras prestigiadas como as da Selfridges em Londres e as da Galleries Lafayette de Paris, graças a jeans de corte astucioso que ajudam a corrigir a anatomia.
Mais de 50 modelos e tonalidades diferentes são propostos a cada temporada, do "lift", que arrebita o bumbum, ao "hiper-Tropez", um jeans de linha muito baixa. Outra precursora desse tipo de corte, a Zoomp, com seu logotipo em forma de relâmpago, responde à obsessão pelo corpo perfeito que aflige essa pátria da cirurgia estética. Seguindo o exemplo da Ellus e da Forum, a Zoomp não hesita em recorrer aos serviços de jovens estilistas formados nas escolas de moda locais, cada vez mais numerosas e respeitadas. "As marcas começaram copiando as tendências européias, mas passados cinco anos temos uma verdadeira busca de identidade", diz Ana Luiza Pessoa de Queiroz.
Se a moda paulista é mais urbana e recatada que a do Rio, ela exibe arrojo nas cores e na mistura de estampas e ressalta uma maneira sensual e espontânea de vestir jeans, camisetas ou maiôs. "Do norte ao sul, o Brasil oferece mais de oito mil quilômetros de praias, uma verdadeira fonte de inspiração que permitiu estabelecer a reputação de nossa moda balneária", explica a Associação Brasileira das Indústrias Têxteis (Abit).
Em 2003, as exportações de roupas de banho cresceram em 80%, e atingiram os US$ 13 milhões. De Sommer a Água de Coco, passando pela British Colony, raras são as marcas que negligenciam os maiôs de corte insensato, acompanhados por linhas completas de roupas para praia. Aproveitando a tendência, a cadeia sueca H & M escolheu as areias cariocas para sua campanha de verão.
Mas é ainda a sandália de dedo que funciona como o melhor embaixador do estilo brasileiro, depois de se difundir por todo o planeta. Das favelas às passarelas da moeda, passando pelas calçadas de Paris, o sucesso de dois gigantes das sandálias abertas, Havaianas e Grendene, é estonteante. A Havaianas chegou ao mercado francês só em 2001, mas já vendeu 500 mil pares em 2003.
O estilista Alexandre Herchcovitch, 33, diplomado pela academia de moda Santa Marcelina, de São Paulo, obteve destaque internacional ao desfilar em Paris. Outros pretendem seguir seu exemplo, como prova o grande número de participantes brasileiros no salão de prêt-à-porter de Paris, que se realizará de 3 a 6 de setembro. Com 30 expositores, ante os sete que participaram da versão de janeiro, a presença brasileira é quase tão importante quanto a britânica, com 50 marcas.
"A imagem dos produtos têxteis brasileiros na Europa é muitas vezes associada a um mercado industrial de baixa qualidade", reconhece Hervé Huchet, diretor de moda da Federação Francesa de Prêt-à-Porter, que em abril assessorou 60 empresas do Nordeste sobre estratégias de exportação.
Para sua seleção de jovens criadores, o salão convidou quatro estilistas "que usam o artesanato local de maneira contemporânea" Lino Villaventura, Andréa Lima, Marcelo Quadros e Mário Queiroz. Suas coleções serão desfiladas no salão, antecipando a realização do salão brasileiro na França, de março a dezembro de 2005.


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