São Paulo, sábado, 8 de agosto de 1998

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ARTIGO
Mal secreto

MARIO AMATO

"Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma e destrói cada ilusão que nasce (...)"
Raimundo Correia

É necessário agir positivamente, embora tenhamos às vezes de nos contrariar, porque a ação nem sempre atende aos nossos interesses pessoais, que são vários, desde o pecuniário ao ideológico. Apesar disso, agir tendo presente o lado positivo da ação é prova de uma boa formação. Quando se trata do Brasil, agir positivamente significa patriotismo, assegurar a cidadania, revelar humanismo.
Presentemente, quais os problemas que precisamos resolver, atribuindo a cada um correta prioridade? Em primeiro lugar, o da educação; depois, o da saúde, que está estreitamente ligado ao do saneamento básico; segue-se o emprego, que se apóia nos investimentos diretos nos setores produtivos e na infra-estrutura em geral, compreendendo estrada, energia, segurança, habitação. O governo, seja de que partido for, se conseguir atacar com seriedade esses problemas, terá certamente o apoio de toda a população.
O que não é admissível é que partidos políticos ou pessoas sabotem as ações que conduzam à solução desses problemas. Graças a Deus o nível de emprego aumentou, e é preciso condenar, como ato falho, qualquer pronunciamento que revele um sentimento pouco humanitário em favor do desemprego.
É absurda a posição dos que defendem a idéia do "quanto pior, melhor", desde que os beneficie. Tenho batalhado em favor da harmonia entre todos os grupos sociais, a fim de que se estabeleça o diálogo -a ser levado até a exaustão, para evitar a irresponsabilidade dos que se consideram donos da verdade.
A prática da democracia começa com a ação de cada indivíduo, voltada para o bem comum. Os que assumem algum tipo de liderança e se deixam inebriar pelos holofotes da mídia não podem ser líderes. A liderança exige responsabilidade. O quadro político do Brasil pede a presença ativa da oposição, para reclamar o cumprimento das leis quando elas não estiverem sendo obedecidas.
Oposição para fiscalizar o trabalho do governo, para criticar os desvios de rumo e para oferecer sugestões que indiquem o caminho reto a ser seguido. O que a sociedade recusa é a oposição que somente perturba, que se escuda na falsa lógica do "quanto pior, melhor", para alcançar os seus objetivos.
Aquilo de que nós, brasileiros, precisamos com urgência é um programa político que nos leve a dias que serão bem melhores pela eliminação das diferenças sociais exageradas.
Por isso, as reformas precisam ser concretizadas, para evitar que a grande maioria do nosso povo se torne presa fácil de um estado de pobreza absoluta, que a todos atormenta. É hora de união e de ação para acabar com o abuso dos direitos adquiridos pelos privilegiados, pois nada é mais prejudicial ao todo social do que as benesses distribuídas para grupos, bem como a cólera que "destrói cada ilusão que nasce".



Mario Amato,79, é empresário, presidente emérito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).




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