MARCELO PIRES

Não há dúvida de que o mundo da propaganda mantém uma forte ligação com o mundo da moda. Digamos que, no Sistema Solar, o mundo da moda poderia ser Vênus; o mundo da propaganda, Marte. Assim, neste Universo, a Terra funciona como ótima metáfora para um outro mundo: o mundo real.
O mundo da propaganda se alimenta muito do mundo da moda. Tanto no trabalho em si -as campanhas publicitárias propriamente ditas- quanto no estilo de vida. Publicitários são vorazes consumidores de grifes. Giorgio Armani, Prada, Versace, Dolce & Gabanna e Donna Karan devem muito dos seus rendimentos a elegantes homens e mulheres de comunicação.
Ou seja: é muito comum reconhecer no guarda-roupa dos criadores publicitários o figurino que eles imprimem em suas criações, fazendo com que a tela da TV ou a página da revista se tornem o espelho de água dos nossos narcisos contemporâneos.
O curioso é que acontecimentos no mundo real -a Terra- influenciam fortemente a harmonia dos seus vizinhos, a vaidosa Vênus e o poderoso Marte.
Alexandre Pires, o vocalista do Só Pra Contrariar, anda causando cataclismos estratosféricos no sistema.
Com seu grande espaço na mídia, Alexandre autenticou os ternos de grife como traje de pagodeiro, deslocando Giorgio Armani para o reco-reco, Prada, para o cavaquinho, Versace, para a cuíca, Dolce & Gabanna, para o surdo & tamborim, e Donna Karan, para o pandeiro.
Devido a seu talento natural e a sua competente assessoria de estilo, Alexandre Pires aproximou mundos que nunca estiveram tão próximos. O desejo de usar ternos de grife jamais foi tão democrático. Tanto que a gravata, de uma hora para outra, deixou de frequentar apenas reuniões de trabalho. E se legitimou em pagodes de todo o país (devendo estar satisfeitíssima com esse upgrade).
O mais interessante é que, de certa forma, Alexandre Pires aprumou a relação "roupas de grife" versus "perfil de consumidor". Como todos sabemos, um traje completo da Prada, por exemplo, não é nada barato. E um astro pop como Alexandre Pires tem muito mais condições financeiras de se vestir assim do que a maioria dos publicitários.
Fica no ar uma grande expectativa: sem dúvida, jovens profissionais urbanos (como os publicitários) costumam se influenciar muito mais pelo estilo de astros internacionais -cantores de rock, por exemplo- do que por nossos elegantes ídolos do samba. Como vai reagir um premiado "art director" quando, na próxima festa, for confundido com o simpático Vavá, vocalista do Karametade? Venusianos, marcianos e terráqueos aguardam ansiosos para descobrir.