São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

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MERCADO FINANCEIRO

Em três meses, prejuízo médio das administradoras chega a 13%; crise acelera processo de vendas

Fundos perdem até 34% do patrimônio

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Três meses depois de deflagrada a mais severa crise no mercado de fundos de investimento brasileiro, a situação de alguns gestores continua crítica.
Há administradoras de fundos-as chamadas empresas de asset management-que já perderam até 34% do seu patrimônio líquido. Essa crise deverá acelerar a tendência de vendas das instituições que não se mantiverem competitivas.
Os prejuízos foram regra geral no mercado nos últimos meses. A perda de patrimônio líquido (PL) média do mercado, entre 29 de maio e 29 de agosto deste ano, foi de 13%. Mas, para alguns gestores, o baque foi maior.
Entre as 35 maiores instituições, encabeçam a lista das piores perdas de PL as empresas de asset management controladas por Bank of America (-33,9%), Credit Lyonnais (-30,37%), ABN Amro Real (-28,13%) e Caixa Econômica Federal (-26,94%). Os dados foram levantados pela Folha no site Fortuna, que tem dados atualizados sobre a movimentação dos fundos.

Saques
Essa crise foi provocada por uma onda desenfreada de saques que teve duas causas principais. Primeiro, novas regras de contabilidade dos fundos, que entraram em vigor no final de maio deste ano, levaram a fortes quedas de rentabilidade. Os gestores passaram a ter de contabilizar os ativos dos fundos pelo seu valor de mercado-e não mais pela projeção futura de ganhos.
Como a maioria desses ativos eram títulos públicos, cujo valor despencou devido ao medo de um possível calote do próximo governo, o retorno dos fundos caiu. Foi quando investidores insatisfeitos ou apavorados partiram para os saques.
Esse movimento foi acentuado pelo próprio pânico do mercado financeiro com o avanço da oposição nas pesquisas eleitorais, que fez dólar e risco-país brasileiro dispararem, tornando os investidores ainda mais ressabiados.
Recentemente, o Banco Central (BC) tomou medidas que tornaram as novas regras de contabilidade dos fundos mais flexíveis. A idéia era recuperar a rentabilidade dos fundos DI e de renda fixa e melhorar a captação das instituições. Embora algumas empresas de asset continuem tendo captação líquida (depósitos menos resgates) negativa, o ritmo dos saques, de fato, caiu.
Mas, segundo analistas, os gestores levarão um longo tempo para recuperar os prejuízos. E, em alguns casos, as perdas poderão ser irreversíveis. Quem sofreu saques, por exemplo, porque teve rentabilidade pior do que a média do mercado, ficou com a credibilidade arranhada.
Por isso, especialistas apostam em uma nova onda de concentração no mercado bancário, com a venda, principalmente, de empresas de asset management de bancos de investimento menores, que não consigam competir por clientes cada vez mais exigentes.
"Os investidores mais sofisticados querem taxas de administração muito baixas e altos retornos. Quando uma asset pequena perde muitos recursos, perde escala, o que prejudica sua competitividade", afirmou Erivelto Rodrigues, sócio da Austin Asis.
Segundo o analista do setor bancário de uma instituição financeira, as empresas de asset são subsidiadas pelos bancos que as controlam. Se não trazem retorno ou, ainda pior, se geram prejuízos, tendem a ser vendidas.
Mesmo antes da crise recente, esse movimento já havia começado. Foi o caso da Lloyds Asset Management, vendida para o Itaú, da asset do Deutsche Bank, comprada pelo Bradesco, e da administradora de fundos do Dresdner, comprada pelo ABN Amro Real. Para os bancos de varejo, essas compras são interessantes porque contribuem para o aumento da fatia que detêm do mercado.



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