São Paulo, quarta-feira, 08 de setembro de 2004

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RACHA

Fazenda vê risco inflacionário, e Casa Civil, chance de influenciar política econômica

Palocci ataca pacto social e revive disputa com Dirceu

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter endossado publicamente a proposta de "contrato social", o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) bombardeia a articulação da CUT e da Fiesp para promover um pacto social entre trabalhadores, indústria, bancos e governo.
Na reunião de anteontem da coordenação de governo, grupo que reúne os principais ministros e auxiliares de Lula, Palocci considerou que a proposta traz "enorme" risco de volta da inflação. Seria um pacto para subir preços, afirmou o ministro da Fazenda.
Segundo Palocci, pouco antes da entrada do eventual pacto em vigor, haverá forte movimento de remarcação de preços que não poderia ser controlado pelo governo, a não se que se retome uma antiga política de congelamento, o que ele descarta.
O ministro da Fazenda disse que a política econômica começou a dar resultados positivos e que falar em pacto agora sinaliza falta de confiança na capacidade de o governo sustentar o atual ritmo de crescimento. Ou seja, poria a perder todo o sacrifício feito até agora -argumento que quase sempre sensibiliza Lula.
Na semana passada, foi divulgado que o PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro semestre de 2004 cresceu 4,2% na comparação com o mesmo período de 2003. Autoridades já prevêem, reservadamente, crescimento neste ano de 4,5% ou até mais.

Dirceu reage
O ministro José Dirceu (Casa Civil), que com alguma satisfação relatou a aliados que Palocci ficara em minoria na reunião da coordenação, mostrou-se favorável ao pacto. Argumentou que o PT sempre defendeu isso. Ele próprio fez tal proposta no primeiro semestre, em encontro com empresários paulistas.
Dirceu vê no pacto uma forma de influenciar a política econômica de Palocci. Sentindo-se fortalecido novamente depois de ter superado os piores momentos do caso Waldomiro Diniz (seu ex-auxiliar acusado de corrupção que gerou a maior crise do governo Lula), Dirceu tenta de novo ser contraponto a Palocci.
Segundo a Folha apurou, depois de Lula ouvir Palocci, Dirceu e demais auxiliares, ele se manteve favorável à idéia de pacto, que tem como um de seus objetivos impedir uma alta dos juros. No mesmo dia, seu programa quinzenal de rádio "Café com o Presidente" levara ao ar que o pacto era tudo o que Lula achava que devia "acontecer no Brasil". Apesar disso, Lula registrou com atenção as alegações de Palocci, e o tema ficou de ser novamente discutido.
Na reunião, a primeira reação de Lula foi uma manifestação de contrariedade com o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Luiz Marinho, por ter tornado pública a proposta antes da hora. Lula a debatia com sindicalistas de sua confiança, como Marinho, e com o presidente eleito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf. Essa antecipação joga a favor de Palocci e contra o "contrato social", expressão usada por Lula no rádio.
Na semana passada, Marinho declarou que havia conversações sobre a proposta de "pacto" de três anos, período no qual o setor produtivo seria submetido a um tipo de controle de preços e ainda faria investimentos. Ao mesmo tempo, o governo reduziria a carga tributária, o setor financeiro baixaria custos de empréstimos e os trabalhadores reduziriam pressões por aumentos salariais.
O pacto, disse Marinho, seria uma forma de impedir novas altas da taxa básica de juros (Selic), hoje em 16% ao ano. A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em agosto, sinalizou possibilidade de alta devido ao risco inflacionário. Lula achou "barbeiragem" e tenta evitar eventual aumento da Selic.
A dura reação de Palocci ao pacto se deve à avaliação de que a proposta é uma forma de influenciar sua política econômica. Ele tem batido duro nos bastidores em Skaf e Marinho, principalmente no primeiro. Acha que o presidente eleito da Fiesp usa a boa relação com o governo -encontrou-se com Lula na semana passada- para tentar mudar a política econômica. "Atrasado" é como Palocci se refere a Skaf.


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