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RACHA
Fazenda vê risco inflacionário, e Casa Civil, chance de influenciar política
econômica
Palocci ataca pacto social e revive disputa com Dirceu
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter endossado
publicamente a proposta de "contrato social", o ministro Antonio
Palocci Filho (Fazenda) bombardeia a articulação da CUT e da
Fiesp para promover um pacto
social entre trabalhadores, indústria, bancos e governo.
Na reunião de anteontem da
coordenação de governo, grupo
que reúne os principais ministros
e auxiliares de Lula, Palocci considerou que a proposta traz "enorme" risco de volta da inflação. Seria um pacto para subir preços,
afirmou o ministro da Fazenda.
Segundo Palocci, pouco antes
da entrada do eventual pacto em
vigor, haverá forte movimento de
remarcação de preços que não
poderia ser controlado pelo governo, a não se que se retome uma
antiga política de congelamento,
o que ele descarta.
O ministro da Fazenda disse
que a política econômica começou a dar resultados positivos e
que falar em pacto agora sinaliza
falta de confiança na capacidade
de o governo sustentar o atual ritmo de crescimento. Ou seja, poria
a perder todo o sacrifício feito até
agora -argumento que quase
sempre sensibiliza Lula.
Na semana passada, foi divulgado que o PIB (Produto Interno
Bruto) do primeiro semestre de
2004 cresceu 4,2% na comparação
com o mesmo período de 2003.
Autoridades já prevêem, reservadamente, crescimento neste ano
de 4,5% ou até mais.
Dirceu reage
O ministro José Dirceu (Casa
Civil), que com alguma satisfação
relatou a aliados que Palocci ficara em minoria na reunião da
coordenação, mostrou-se favorável ao pacto. Argumentou que o
PT sempre defendeu isso. Ele próprio fez tal proposta no primeiro
semestre, em encontro com empresários paulistas.
Dirceu vê no pacto uma forma
de influenciar a política econômica de Palocci. Sentindo-se fortalecido novamente depois de ter superado os piores momentos do
caso Waldomiro Diniz (seu ex-auxiliar acusado de corrupção
que gerou a maior crise do governo Lula), Dirceu tenta de novo ser
contraponto a Palocci.
Segundo a Folha apurou, depois de Lula ouvir Palocci, Dirceu
e demais auxiliares, ele se manteve favorável à idéia de pacto, que
tem como um de seus objetivos
impedir uma alta dos juros. No
mesmo dia, seu programa quinzenal de rádio "Café com o Presidente" levara ao ar que o pacto era
tudo o que Lula achava que devia
"acontecer no Brasil". Apesar disso, Lula registrou com atenção as
alegações de Palocci, e o tema ficou de ser novamente discutido.
Na reunião, a primeira reação
de Lula foi uma manifestação de
contrariedade com o presidente
da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Luiz Marinho, por
ter tornado pública a proposta
antes da hora. Lula a debatia com
sindicalistas de sua confiança, como Marinho, e com o presidente
eleito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo),
Paulo Skaf. Essa antecipação joga
a favor de Palocci e contra o "contrato social", expressão usada por
Lula no rádio.
Na semana passada, Marinho
declarou que havia conversações
sobre a proposta de "pacto" de
três anos, período no qual o setor
produtivo seria submetido a um
tipo de controle de preços e ainda
faria investimentos. Ao mesmo
tempo, o governo reduziria a carga tributária, o setor financeiro
baixaria custos de empréstimos e
os trabalhadores reduziriam pressões por aumentos salariais.
O pacto, disse Marinho, seria
uma forma de impedir novas altas
da taxa básica de juros (Selic), hoje em 16% ao ano. A ata da última
reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária), em agosto,
sinalizou possibilidade de alta devido ao risco inflacionário. Lula
achou "barbeiragem" e tenta evitar eventual aumento da Selic.
A dura reação de Palocci ao pacto se deve à avaliação de que a
proposta é uma forma de influenciar sua política econômica. Ele
tem batido duro nos bastidores
em Skaf e Marinho, principalmente no primeiro. Acha que o
presidente eleito da Fiesp usa a
boa relação com o governo -encontrou-se com Lula na semana
passada- para tentar mudar a
política econômica. "Atrasado" é
como Palocci se refere a Skaf.
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