São Paulo, quarta-feira, 08 de setembro de 2004

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REFORMA

País adotou dólar como moeda há quatro anos

Dolarização dá estabilidade, mas tira competitividade do Equador

JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mais de quatro anos após a dolarização da sua economia, o Equador enfrenta hoje os efeitos colaterais da adoção do dólar como a moeda nacional. Tornou-se um país caro, que busca uma saída para virar competitivo.
Em janeiro de 2000, o país de atuais 13,2 milhões de habitantes abandonou o sucre como moeda nacional sob uma situação de caos: inflação alta e economia estagnada. No ano anterior à dolarização, a inflação chegou a 60,7% e o PIB encolheu mais de 6%.
O Equador abria mão de sua capacidade de realizar política monetária, como a de emitir de moeda. Em troca, apostava na estabilidade. E ela veio. De uma taxa de inflação de 91% em 2000, passou para 22,4% em 2001, 9,4% em 2002 e 6,1% em 2003 (no Brasil, para dar uma idéia, o IPCA de 2003 fechou em 9,3%).
O efeito colateral veio com os preços do país, que, em dólar, tornaram-se altos e deixaram a economia equatoriana engessada e pouco competitiva em relação aos países vizinhos, como o Peru e a Colômbia. A balança comercial, sem contar a exportação de petróleo, principal produto do país, tem constantes déficits.
"A dolarização ajudou os pobres. Antes uma empregada doméstica ganhava o equivalente a US$ 10. Hoje ganha US$ 250. Pergunte a alguém na rua se prefere a situação anterior e verá que a resposta é negativa", disse a presidente do Conselho Nacional de Competitividade, Joyce Ginatta.
Parte do empresariado ganhou com a recuperação no poder de compra da população. Na rua, no entanto, as pessoas dividem-se quanto às vantagens do dólar.
"Os ricos ficaram mais ricos, e os pobres, mais pobres. Estamos gastando mais, tudo é mais caro", disse Jenny Tobar, 22, vendedora em Quito, capital do país.
Os equatorianos dizem que com 25 mil sucres compravam mais que hoje com US$ 1.
Alfonzo Chicaiza, 45, ganha US$ 15 por dia vendendo doces, salgados e bebidas em uma barraca no centro da capital. Paga US$ 20 de aluguel do ponto e acha que sua vida está melhor depois da dolarização. "A moeda vale mais. Com o que recebo vendendo posso comprar coisas e pagar as minhas contas", afirma.
Por trás da estabilidade monetária, o país encontra dificuldade para crescer e diminuir um dos principais problemas: a pobreza (cerca de 60% da população está abaixo da linha da pobreza).
O crescimento do PIB foi de apenas 2,7% em 2003. Em 2001 e 2002, a economia cresceu 5,1% e 3,3%, respectivamente. Os índices são creditados ao petróleo. Para o governo, o país crescerá mais de 5% em 2004.
"É um desempenho fraco num momento em que a situação externa é favorável para o país: a alta no preço do petróleo, a desvalorização do dólar e a entrada vigorosa de recursos dos emigrantes, que alcançaram US$ 1,5 bilhão no ano passado", disse o economista Alberto Acosta.
A pauta de exportação é baseada em commodities, como banana, café e pescados. O país tem de importar desde matérias-primas até bens de consumo e de capital.
Em 2003, o déficit da balança comercial não-petrolífera atingiu US$ 2,07 bilhões. É uma melhora de 26% em relação a 2002, mas o número ainda é ruim se comparado com anos anteriores, como em 1999, quando houve um superávit de US$ 385 milhões.
Na avaliação de Acosta, o país enfrenta uma restrição fiscal que lhe é prejudicial. "Até junho, 52% do Orçamento de 2004 foi gasto com o pagamento da dívida", disse o economista. Para Joyce Ginatta, os problemas são anteriores à dolarização: "Precisamos enfrentar questões, como o monopólio do setor de energia elétrica, cujo preço é muito alto e encarece a produção".
As reformas dependem do atual presidente do país, Lucio Gutiérrez, que passa por graves problemas de popularidade.


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