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REFORMA
País adotou dólar como moeda há quatro anos
Dolarização dá estabilidade, mas tira competitividade do Equador
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais de quatro anos após a dolarização da sua economia, o
Equador enfrenta hoje os efeitos
colaterais da adoção do dólar como a moeda nacional. Tornou-se
um país caro, que busca uma saída para virar competitivo.
Em janeiro de 2000, o país de
atuais 13,2 milhões de habitantes
abandonou o sucre como moeda
nacional sob uma situação de
caos: inflação alta e economia estagnada. No ano anterior à dolarização, a inflação chegou a 60,7% e
o PIB encolheu mais de 6%.
O Equador abria mão de sua capacidade de realizar política monetária, como a de emitir de moeda. Em troca, apostava na estabilidade. E ela veio. De uma taxa de
inflação de 91% em 2000, passou
para 22,4% em 2001, 9,4% em
2002 e 6,1% em 2003 (no Brasil,
para dar uma idéia, o IPCA de
2003 fechou em 9,3%).
O efeito colateral veio com os
preços do país, que, em dólar, tornaram-se altos e deixaram a economia equatoriana engessada e
pouco competitiva em relação aos
países vizinhos, como o Peru e a
Colômbia. A balança comercial,
sem contar a exportação de petróleo, principal produto do país,
tem constantes déficits.
"A dolarização ajudou os pobres. Antes uma empregada doméstica ganhava o equivalente a
US$ 10. Hoje ganha US$ 250. Pergunte a alguém na rua se prefere a
situação anterior e verá que a resposta é negativa", disse a presidente do Conselho Nacional de
Competitividade, Joyce Ginatta.
Parte do empresariado ganhou
com a recuperação no poder de
compra da população. Na rua, no
entanto, as pessoas dividem-se
quanto às vantagens do dólar.
"Os ricos ficaram mais ricos, e
os pobres, mais pobres. Estamos
gastando mais, tudo é mais caro",
disse Jenny Tobar, 22, vendedora
em Quito, capital do país.
Os equatorianos dizem que com
25 mil sucres compravam mais
que hoje com US$ 1.
Alfonzo Chicaiza, 45, ganha
US$ 15 por dia vendendo doces,
salgados e bebidas em uma barraca no centro da capital. Paga US$
20 de aluguel do ponto e acha que
sua vida está melhor depois da
dolarização. "A moeda vale mais.
Com o que recebo vendendo posso comprar coisas e pagar as minhas contas", afirma.
Por trás da estabilidade monetária, o país encontra dificuldade
para crescer e diminuir um dos
principais problemas: a pobreza
(cerca de 60% da população está
abaixo da linha da pobreza).
O crescimento do PIB foi de
apenas 2,7% em 2003. Em 2001 e
2002, a economia cresceu 5,1% e
3,3%, respectivamente. Os índices
são creditados ao petróleo. Para o
governo, o país crescerá mais de
5% em 2004.
"É um desempenho fraco num
momento em que a situação externa é favorável para o país: a alta
no preço do petróleo, a desvalorização do dólar e a entrada vigorosa de recursos dos emigrantes,
que alcançaram US$ 1,5 bilhão no
ano passado", disse o economista
Alberto Acosta.
A pauta de exportação é baseada em commodities, como banana, café e pescados. O país tem de
importar desde matérias-primas
até bens de consumo e de capital.
Em 2003, o déficit da balança
comercial não-petrolífera atingiu
US$ 2,07 bilhões. É uma melhora
de 26% em relação a 2002, mas o
número ainda é ruim se comparado com anos anteriores, como em
1999, quando houve um superávit
de US$ 385 milhões.
Na avaliação de Acosta, o país
enfrenta uma restrição fiscal que
lhe é prejudicial. "Até junho, 52%
do Orçamento de 2004 foi gasto
com o pagamento da dívida", disse o economista. Para Joyce Ginatta, os problemas são anteriores
à dolarização: "Precisamos enfrentar questões, como o monopólio do setor de energia elétrica,
cujo preço é muito alto e encarece
a produção".
As reformas dependem do atual
presidente do país, Lucio Gutiérrez, que passa por graves problemas de popularidade.
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