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ANÁLISE
Boom acionário no Brasil pode ser exagerado
JOHN AUTHERS
DO "FINANCIAL TIMES"
A comunidade internacional
tem uma séria tendência a julgar o Brasil erroneamente. Sete
anos atrás, os investidores internacionais fugiram do mercado do país por medo da eleição do esquerdista Luiz Inácio
Lula da Silva. E criaram a oportunidade de compra de uma vida. De lá para cá, o índice Bovespa subiu (em dólares)
1.100% a mais que o S&P 500.
Em abril do ano passado, a
agência de classificação de crédito Standard & Poor's elevou
ao grau de investimento os títulos soberanos brasileiros -e
prenunciou de maneira quase
perfeita o ponto-limite de uma
alta que seria seguida por colapso calamitoso.
Com a chegada da crise, em
2008, as agências internacionais começaram a se preocupar
com a possibilidade de que o
Brasil viesse a enfrentar uma
crise típica de mercado emergente, com colapso cambial e
inadimplência. Mas, de novembro para cá, o índice Bovespa
subiu 180% em dólares.
Na semana passada, o COI
(Comitê Olímpico Internacional) elegeu o Rio como sede da
Olimpíada de 2016. Agora, Lula
aparentemente tem poderes de
persuasão superiores aos de
Barack Obama. Anteontem, o
Brasil também realizou a maior
oferta de ações que o mundo registrou neste ano, com o banco
Santander.
Será que os investidores estão certos desta vez?
Possivelmente. A razão entre
valor contábil e valor de mercado das ações do índice Bovespa
é de pouco mais de dois, quase
idêntica à média dos demais
mercados emergentes; da outra
vez, o índice Bovespa estava
sendo negociado a um múltiplo
de 2,5, bem acima dos demais
mercados emergentes. A capacidade do Brasil para sobreviver à fuga de fundos, no ano
passado, serviu como prova válida de que a situação financeira do país é mais forte do que
muita gente acreditava.
Mas alta de 180% em menos
de um ano ainda demonstra superaquecimento. O Brasil continua a servir como teste para
as esperanças mundiais de
"descolamento", ou seja, de que
os mercados emergentes sejam
capazes de crescer mesmo que
os mercados desenvolvidos estejam em recessão. O fervor sugere que essas esperanças são,
uma vez mais, exageradas.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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