São Paulo, quinta-feira, 08 de outubro de 2009

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ANÁLISE

Boom acionário no Brasil pode ser exagerado

JOHN AUTHERS
DO "FINANCIAL TIMES"

A comunidade internacional tem uma séria tendência a julgar o Brasil erroneamente. Sete anos atrás, os investidores internacionais fugiram do mercado do país por medo da eleição do esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva. E criaram a oportunidade de compra de uma vida. De lá para cá, o índice Bovespa subiu (em dólares) 1.100% a mais que o S&P 500.
Em abril do ano passado, a agência de classificação de crédito Standard & Poor's elevou ao grau de investimento os títulos soberanos brasileiros -e prenunciou de maneira quase perfeita o ponto-limite de uma alta que seria seguida por colapso calamitoso.
Com a chegada da crise, em 2008, as agências internacionais começaram a se preocupar com a possibilidade de que o Brasil viesse a enfrentar uma crise típica de mercado emergente, com colapso cambial e inadimplência. Mas, de novembro para cá, o índice Bovespa subiu 180% em dólares.
Na semana passada, o COI (Comitê Olímpico Internacional) elegeu o Rio como sede da Olimpíada de 2016. Agora, Lula aparentemente tem poderes de persuasão superiores aos de Barack Obama. Anteontem, o Brasil também realizou a maior oferta de ações que o mundo registrou neste ano, com o banco Santander.
Será que os investidores estão certos desta vez?
Possivelmente. A razão entre valor contábil e valor de mercado das ações do índice Bovespa é de pouco mais de dois, quase idêntica à média dos demais mercados emergentes; da outra vez, o índice Bovespa estava sendo negociado a um múltiplo de 2,5, bem acima dos demais mercados emergentes. A capacidade do Brasil para sobreviver à fuga de fundos, no ano passado, serviu como prova válida de que a situação financeira do país é mais forte do que muita gente acreditava.
Mas alta de 180% em menos de um ano ainda demonstra superaquecimento. O Brasil continua a servir como teste para as esperanças mundiais de "descolamento", ou seja, de que os mercados emergentes sejam capazes de crescer mesmo que os mercados desenvolvidos estejam em recessão. O fervor sugere que essas esperanças são, uma vez mais, exageradas.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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