São Paulo, quarta-feira, 08 de novembro de 2000

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GREVE
Movimento deve prosseguir hoje, com 50 mil; Força poderá aceitar 8%, mas CUT diz que não fecha por menos de 10%
Centrais paralisam 100 mil em São Paulo

Patrícia Santos/Folha Imagem
Durante assembléia na manhã de ontem, funcionários da Volkswagen em São Bernardo aderem à greve de advertência de 24 horas


ADRIANA MATTOS
RICARDO GRINBAUM


DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 100 mil trabalhadores aderiram ontem à greve de advertência, de 24 horas, segundo as contas da CUT e da Força Sindical. Os grevistas, a maior parte da CUT, conseguiram parar montadoras de veículos, fábricas de autopeças, de produtos eletroeletrônicos e de máquinas em várias cidades do Estado de São Paulo.
Segundo as centrais sindicais, 85 grandes companhias, com mais de 500 empregados cada uma, deixaram de funcionar. Hoje, a CUT quer parar, também por 24 horas, outras empresas que não foram atingidas pela greve de ontem. A central espera mobilizar outros 50 mil trabalhadores no movimento de hoje.
As duas centrais negociam aumento salarial acima da inflação e ameaçam convocar greve de várias categorias se não chegarem a um acordo com os patrões até segunda-feira. Mas há diferenças claras: a Força deu sinais ontem de que pode aceitar 8% de reajuste, em média, para as categorias que representa. A CUT não fecha por menos de 10%, mesmo que isso leve à greve na segunda-feira.
"Com a Força já acertamos um acordo na mesa de negociações que falta ser referendado pelas assembléias, prevendo 8% de reajuste. Com a CUT, temos até segunda-feira para tentar uma solução negociada e evitar a greve", diz Drausio Rangel, representante dos fabricantes de autopeças.
Nas montadoras de veículos, os metalúrgicos dos sindicatos ligados à CUT rejeitaram, em assembléias nas portas das fábricas, a proposta de reajuste feita pelo sindicato patronal. "Foi por unanimidade. O que os patrões estão oferecendo nem sequer bate a inflação", diz João Rodrigues, coordenador do Sistema Único de Representação, que organiza os trabalhadores da Ford em São Bernardo do Campo.
Os metalúrgicos conseguiram paralisar totalmente a produção de várias montadoras. Só na fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo 17 mil trabalhadores cruzaram os braços. A montadora deixou de fabricar quase 900 carros. General Motors, Ford, Scânia e Mercedes-Benz também foram forçadas a parar.
O Sinfavea, que representa as montadoras, oferece reajuste salarial de 8% para os metalúrgicos que ganham até R$ 1.560,00 por mês. Para quem recebe mais de R$ 1.560,00 foi oferecido aumento de 6,5 %, mais abono. Na prática, dizem os sindicalistas, a proposta não estende os 8% a todos os trabalhadores. Além disso, a CUT pede reajuste acima de 10%.
"A economia está crescendo, as empresas e os bancos estão ganhando mais dinheiro. Como é que se justifica esse argumento das montadoras e dos bancos, de que não têm como pagar mais do que a inflação?", pergunta João Felício, presidente da CUT.

Outras categorias

Em outras categorias ligadas à CUT também não houve avanço, mesmo com a greve relâmpago. Os bancos mantiveram a oferta de aumento salarial em torno de 5%. "Eles não mexeram em nenhum item da pauta de negociações desde a primeira proposta. Agora, vão ter que sair da moita", diz João Vaccari, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Os bancários ameaçam entrar em greve na segunda-feira. Por enquanto, também estão fazendo protestos relâmpagos. Ontem, os 2.100 funcionários do Telebanco, o serviço de atendimento telefônico do Bradesco, cruzaram os braços. Hoje, os bancários prometem parar outra instituição financeira.
Outra negociação que está emperrada é a dos petroleiros. Ontem, a direção da Petrobras se reuniu com a FUP (Federação Única dos Petroleiros), também ligada à CUT. Até o final da tarde, ainda não havia acordo. A Petrobras ainda estava analisando a proposta do sindicato, que previa abono salarial e aumento na participação nos lucros.
Os sindicalistas também demonstraram poder de mobilização no interior. No Vale do Paraíba, os sindicalistas pararam 100% da produção das montadoras GM e Ford, além da paralisação do primeiro turno na Philips (eletrônicos) e na Bundy e na Parker Haniffin (autopeças), informa o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos.
As fábricas atingidas pela greve somam 10,7 mil trabalhadores apenas em São José dos Campos. A cidade tem 32 mil metalúrgicos. "Vamos parar amanhã (hoje) outras empresas, de pequeno porte, com 100 a 200 empregados", diz Luis Prates, diretor do sindicato.
Ocorreram paralisações em outras cidades do interior, como na região de Campinas. Funcionários da fábrica de fogões Dako pararam por 50 minutos, empregados da montadora Honda atrasaram a entrada em serviço em duas horas e os funcionários da Filtros Man, em Indaiatuba, decidiram cruzar os braços. A fábrica de motores da Volkswagen em São Carlos e a filial da GM em Mogi das Cruzes também pararam.
Hoje, patrões e empregados têm novas rodadas de negociações. Já existem outras conversas marcadas até segunda-feira.


Colaboraram as Regionais


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