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Pratini aprova texto sobre agricultura
DO ENVIADO ESPECIAL
Marcus Vinicius Pratini de Moraes, ministro brasileiro de Agricultura, costuma dizer que, em toda negociação, ele bate, e o Itamaraty assopra. Essa divisão de trabalho parece ao próprio ministro
menos necessária desta vez, porque ele classifica como "adequado", na parte que trata de agricultura, o rascunho de declaração final da reunião da OMC.
Pratini refere-se, em especial, ao
trecho que diz que os países
membros da OMC se comprometem com "abrangentes negociações" destinadas a, entre outras
coisas, promover "substancial redução, com vistas à eliminação
progressiva de todas as formas de
subsídios à exportação".
O ministro acha que é esse o
ponto essencial, de interesse do
Brasil. Se for de fato aceito durante os cinco dias de negociações em
Doha, estarão criadas as condições para que o Brasil aumente
em US$ 6 bilhões anuais as suas
exportações do agronegócio. É
um volume que quadruplica o
saldo comercial deste ano até agora (o Brasil exportou US$ 1,5 bilhão mais do que importou).
A única ressalva de Pratini diz
respeito às barreiras fitossanitárias. O ministro se diz disposto a
defender proposta prevendo que,
quando um país quiser impor restrições às importações de outro,
terá que dar um prazo de 60 dias
para que o atingido se defenda.
Seria uma maneira de evitar a
repetição da crise com o Canadá,
que vetou importações de carne
brasileira sob a alegação de que
havia casos de "vaca louca".
A tranquilidade com que o normalmente cáustico Pratini chegou a Doha só aumentou no caminho do aeroporto para o hotel
Marriott, em que ficará a maior
parte da delegação brasileira. Um
grande outdoor da Sadia anunciava: "Good for food, good for
health" (bom para a comida, bom
para a saúde, em inglês e em árabe, a língua oficial do Qatar).
Mas a tranquilidade de Pratini
tende a durar muito pouco. Há
uma enorme resistência, principalmente da União Européia, em
aceitar a liberalização do setor.
Resistência, aliás, que vai além da
Europa. Ontem mesmo, um grupo de parlamentares coreanos e
japoneses reuniu-se em Doha, para iniciar sua ofensiva.
Eles defendem a tese de que ela
só deve ser feita em "um ritmo
que todos os países-membros
possam aceitar naturalmente".
Ou seja, relançam a idéia de uma
liberalização apenas a longo prazo, tese que é frontalmente rejeitada pelo embaixador do Brasil na
OMC, Celso Amorim: "O longo
prazo é já, pois a questão agrícola
está emperrada desde o início da
Rodada Uruguai, faz 15 anos".
A Rodada Uruguai (1986-94) foi
o mais recente ciclo de liberalização comercial, que deixou um legado de problemas para os países
em desenvolvimento. Agora,
quando se pretende lançar um
novo ciclo, os países em desenvolvimento preferem, antes de discutir temas novos, corrigir distorções.
(CR)
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