São Paulo, quinta-feira, 08 de novembro de 2001

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Pratini aprova texto sobre agricultura

DO ENVIADO ESPECIAL

Marcus Vinicius Pratini de Moraes, ministro brasileiro de Agricultura, costuma dizer que, em toda negociação, ele bate, e o Itamaraty assopra. Essa divisão de trabalho parece ao próprio ministro menos necessária desta vez, porque ele classifica como "adequado", na parte que trata de agricultura, o rascunho de declaração final da reunião da OMC.
Pratini refere-se, em especial, ao trecho que diz que os países membros da OMC se comprometem com "abrangentes negociações" destinadas a, entre outras coisas, promover "substancial redução, com vistas à eliminação progressiva de todas as formas de subsídios à exportação".
O ministro acha que é esse o ponto essencial, de interesse do Brasil. Se for de fato aceito durante os cinco dias de negociações em Doha, estarão criadas as condições para que o Brasil aumente em US$ 6 bilhões anuais as suas exportações do agronegócio. É um volume que quadruplica o saldo comercial deste ano até agora (o Brasil exportou US$ 1,5 bilhão mais do que importou).
A única ressalva de Pratini diz respeito às barreiras fitossanitárias. O ministro se diz disposto a defender proposta prevendo que, quando um país quiser impor restrições às importações de outro, terá que dar um prazo de 60 dias para que o atingido se defenda.
Seria uma maneira de evitar a repetição da crise com o Canadá, que vetou importações de carne brasileira sob a alegação de que havia casos de "vaca louca".
A tranquilidade com que o normalmente cáustico Pratini chegou a Doha só aumentou no caminho do aeroporto para o hotel Marriott, em que ficará a maior parte da delegação brasileira. Um grande outdoor da Sadia anunciava: "Good for food, good for health" (bom para a comida, bom para a saúde, em inglês e em árabe, a língua oficial do Qatar).
Mas a tranquilidade de Pratini tende a durar muito pouco. Há uma enorme resistência, principalmente da União Européia, em aceitar a liberalização do setor. Resistência, aliás, que vai além da Europa. Ontem mesmo, um grupo de parlamentares coreanos e japoneses reuniu-se em Doha, para iniciar sua ofensiva.
Eles defendem a tese de que ela só deve ser feita em "um ritmo que todos os países-membros possam aceitar naturalmente". Ou seja, relançam a idéia de uma liberalização apenas a longo prazo, tese que é frontalmente rejeitada pelo embaixador do Brasil na OMC, Celso Amorim: "O longo prazo é já, pois a questão agrícola está emperrada desde o início da Rodada Uruguai, faz 15 anos".
A Rodada Uruguai (1986-94) foi o mais recente ciclo de liberalização comercial, que deixou um legado de problemas para os países em desenvolvimento. Agora, quando se pretende lançar um novo ciclo, os países em desenvolvimento preferem, antes de discutir temas novos, corrigir distorções. (CR)

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