CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Volkswagen anunciou ontem três dias de licença remunerada para 23 mil funcionários de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e de Taubaté, no interior de São Paulo. A empresa também cancelou as férias coletivas de 5.700 funcionários das duas unidades previstas para começar no dia 12 deste mês.
O anúncio foi feito um dia após os trabalhadores recusarem a proposta da montadora de redução de salários e da jornada de trabalho em 15% em troca de garantia de emprego. A montadora promete investir R$ 1 bilhão na unidade do ABC e desenvolver novos produtos se o acordo for aceito e a competitividade da unidade melhorar.
A Volks ameaça demitir 4.000 operários excedentes se os trabalhadores não aceitarem a flexibilização da jornada. A empresa também quer demitir 6% do pessoal por ano e contratar novos funcionários com salários em média 30% menores dos que os atuais. Para compensar a redução nos salários, a montadora propõe parcelar a participação nos lucros e o dissídio coletivo deste ano.
"Ao dar essa licença, a empresa quer desmobilizar os trabalhadores. É um sinal claro de intimidação, de pressão e de terror psicológico. Mostramos ontem [anteontem" que estamos preparados para a briga", disse Wagner Santana, coordenador do comitê sindical da Volks, ao se referir à assembléia que rejeitou por unanimidade a proposta da montadora.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, disse que a orientação é que os trabalhadores retornem normalmente ao trabalho na segunda-feira, mesmo se receberem algum comunicado em casa durante esse período.
Os trabalhadores temem que a empresa vá demitir por carta parte dos funcionários. Entre os operários, o aviso já é chamado de "antraz da Volks".
A Volks informou, em um comunicado divulgado ontem, que, "nesse período de licença remunerada, a empresa analisará quais os próximos passos a tomar, diante da rejeição da proposta de flexibilização da jornada pelos empregados das duas unidades".

Plebiscito
Segundo a comissão de fábrica da Volks de São Bernardo, a empresa tentou anteontem realizar um plebiscito com os trabalhadores para saber se, individualmente, aceitariam ou não a proposta de redução salarial. Os operários foram orientados a não preencher e a rasgar os formulários.
Para a comissão, a empresa apostava que os trabalhadores estariam divididos em relação à assembléia realizada anteontem, por isso teria preparado o questionário. A Folha procurou a direção da Volks para comentar o assunto. A empresa confirma que a realização do plebiscito, mas não sabe informar se o resultado será divulgado.


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