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São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2003

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COMÉRCIO MUNDIAL

Depois de encontro em Washington, chanceler brasileiro diz que teve de reconhecer as "dificuldades" dos EUA

Brasil desiste de negociar subsídios na Alca

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O Brasil admitiu ontem pela primeira vez retirar das negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) políticas de subsídios agrícolas dos EUA.
A negociação dos subsídios americanos -que barateiam os produtos agrícolas do país- era considerada fundamental pelo Brasil para prosseguir nas negociações do bloco de 34 países, previsto para vigorar em 2005.
"Depois de ouvirmos mil vezes os norte-americanos dizerem que não aceitam negociar subsídios na Alca, tivemos de reconhecer suas dificuldades", disse o chanceler brasileiro, Celso Amorim, depois de participar de reunião de quase duas horas e meia com Robert Zoellick, representante de comércio dos EUA.
Zoellick, que até então vinha criticando a posição brasileira na Alca, considerou a reunião de ontem "construtiva e muito útil", segundo sua assessoria.
Em troca da retirada dos subsídios agrícolas, segundo Amorim, o Brasil quer negociar com os EUA um maior acesso de seus produtos ao mercado americano e também retirar da Alca os pontos que considera "sensíveis".
Essa lista inclui a fixação no acordo de regras para investimentos, compras governamentais e propriedade intelectual.
Assim, tanto os subsídios agrícolas norte-americanos quanto os pontos "sensíveis" para o Brasil voltariam a ser negociados na OMC (Organização Mundial de Comércio).
Outros pontos da negociação na Alca poderiam, segundo Amorim, ser abordados via acordos bilaterais ou mesmo multilaterais.
A nova proposta permitiria aos 34 países envolvidos no processo da Alca negociar suas posições como acharem melhor.

Recuo
Indagado se o Brasil estaria recuando de sua posição ao aceitar a exigência norte-americana na questão dos subsídios, Amorim afirmou que o "reconhecimento das dificuldades" dos Estados Unidos é "uma forma de avançar nas negociações" e preservar "os pontos de constrangimento dos dois países".
O chanceler brasileiro afirmou que as negociações para um maior acesso do Brasil ao mercado americano ainda estão em fase inicial. "Teríamos agora que fazer pedidos adicionais."
Amorim disse ainda que a proposta brasileira representa o conjunto do Mercosul e que o Brasil deverá continuar as negociações sempre em bloco.
"Creio que demos um passo adiante. Mas, se você perguntar: "Avançamos?" Não sei, pois já tive essa sensação outras vezes e não deu certo", disse Amorim.
O chanceler brasileiro e Zoellick voltam a se reunir hoje à tarde nas cercanias de Washington, desta vez com mais 13 países interessados em participar da Alca.
As reuniões de ontem e de hoje visam "aparar as arestas" entre Brasil e EUA, principalmente, para a próxima reunião ministerial da Alca em Miami, em nove dias.
Amorim afirmou que o objetivo do Brasil e dos EUA -os dois presidentes do processo de negociação da Alca- é apresentar um documento ao final da reunião de Miami que "permita a continuidade das negociações".
Depois de encontrar-se com Zoellick, Amorim reuniu-se por alguns minutos com o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell.
O convite para o encontro partiu do próprio Powell. O objetivo, segundo a Folha apurou, seria melhorar as relações dos EUA com o Brasil, que vinham se mostrando favoráveis até o acirramento, nos últimos meses, do processo de negociação da Alca, com criticas fortes de lado a lado.


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