|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMÉRCIO MUNDIAL
Depois de encontro em Washington, chanceler brasileiro diz que teve de reconhecer as "dificuldades" dos EUA
Brasil desiste de negociar subsídios na Alca
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O Brasil admitiu ontem pela primeira vez retirar das negociações
da Alca (Área de Livre Comércio
das Américas) políticas de subsídios agrícolas dos EUA.
A negociação dos subsídios
americanos -que barateiam os
produtos agrícolas do país- era
considerada fundamental pelo
Brasil para prosseguir nas negociações do bloco de 34 países, previsto para vigorar em 2005.
"Depois de ouvirmos mil vezes
os norte-americanos dizerem que
não aceitam negociar subsídios
na Alca, tivemos de reconhecer
suas dificuldades", disse o chanceler brasileiro, Celso Amorim,
depois de participar de reunião de
quase duas horas e meia com Robert Zoellick, representante de comércio dos EUA.
Zoellick, que até então vinha
criticando a posição brasileira na
Alca, considerou a reunião de ontem "construtiva e muito útil", segundo sua assessoria.
Em troca da retirada dos subsídios agrícolas, segundo Amorim,
o Brasil quer negociar com os
EUA um maior acesso de seus
produtos ao mercado americano
e também retirar da Alca os pontos que considera "sensíveis".
Essa lista inclui a fixação no
acordo de regras para investimentos, compras governamentais e propriedade intelectual.
Assim, tanto os subsídios agrícolas norte-americanos quanto os
pontos "sensíveis" para o Brasil
voltariam a ser negociados na
OMC (Organização Mundial de
Comércio).
Outros pontos da negociação na
Alca poderiam, segundo Amorim, ser abordados via acordos bilaterais ou mesmo multilaterais.
A nova proposta permitiria aos
34 países envolvidos no processo
da Alca negociar suas posições
como acharem melhor.
Recuo
Indagado se o Brasil estaria recuando de sua posição ao aceitar a
exigência norte-americana na
questão dos subsídios, Amorim
afirmou que o "reconhecimento
das dificuldades" dos Estados
Unidos é "uma forma de avançar
nas negociações" e preservar "os
pontos de constrangimento dos
dois países".
O chanceler brasileiro afirmou
que as negociações para um
maior acesso do Brasil ao mercado americano ainda estão em fase
inicial. "Teríamos agora que fazer
pedidos adicionais."
Amorim disse ainda que a proposta brasileira representa o conjunto do Mercosul e que o Brasil
deverá continuar as negociações
sempre em bloco.
"Creio que demos um passo
adiante. Mas, se você perguntar:
"Avançamos?" Não sei, pois já tive
essa sensação outras vezes e não
deu certo", disse Amorim.
O chanceler brasileiro e Zoellick
voltam a se reunir hoje à tarde nas
cercanias de Washington, desta
vez com mais 13 países interessados em participar da Alca.
As reuniões de ontem e de hoje
visam "aparar as arestas" entre
Brasil e EUA, principalmente, para a próxima reunião ministerial
da Alca em Miami, em nove dias.
Amorim afirmou que o objetivo
do Brasil e dos EUA -os dois
presidentes do processo de negociação da Alca- é apresentar um
documento ao final da reunião de
Miami que "permita a continuidade das negociações".
Depois de encontrar-se com
Zoellick, Amorim reuniu-se por
alguns minutos com o secretário
de Estado norte-americano, Colin
Powell.
O convite para o encontro partiu do próprio Powell. O objetivo,
segundo a Folha apurou, seria
melhorar as relações dos EUA
com o Brasil, que vinham se mostrando favoráveis até o acirramento, nos últimos meses, do
processo de negociação da Alca,
com criticas fortes de lado a lado.
Texto Anterior: AGU vê violação de direitos humanos Próximo Texto: Concentração: Bradesco compra a financeira Zogbi por R$ 650 mi Índice
|