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OPINIÃO ECONÔMICA
O que esperar da economia em 2001
LUIS CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O s olhos dos analistas econômicos já estão voltados
para o ano de 2001. E também os
dos que acompanham a cena política brasileira. No próximo ano
o cenário político será definido
conforme a situação da economia
e das propostas dos potenciais
candidatos à corrida presidencial
de 2002. Tenho defendido a tese
de que a sociedade brasileira vai
escolher seus próximos governantes em razão de seus projetos para
alcançar o crescimento econômico sustentado. Isso será possível,
pois os anos FHC consolidaram,
como valores marcantes de nossa
sociedade, a estabilidade de preços, a responsabilidade fiscal e a
democracia representativa. Não
se discutirão mais essas questões,
pois elas serão comuns a todos os
candidatos com chance de sucesso. O que esperar da economia
brasileira no próximo ano é, portanto, uma informação básica
para todos.
Vou tentar refletir um pouco sobre essa questão com os leitores. O
primeiro ponto que me parece
importante nesse exercício é a
construção de um cenário externo, envolvendo os Estados Unidos, a Europa e a Ásia. Para um
país como o Brasil, que se abre cada vez mais ao exterior, o futuro
desses mercados é fundamental
para avaliar o dinamismo de sua
economia. Não só pelo lado do comércio exterior, principalmente
de nossas exportações, mas também pela dinâmica financeira de
nossa relação com os mercados
internacionais de capitais. O Brasil tem hoje uma dependência importante em relação aos movimentos de capitais, de empréstimos e de risco, para equilibrar
sua balança de pagamentos. Sem
esses recursos, podemos entrar em
dificuldades financeiras, que afetarão o funcionamento do lado
real de nossa economia.
O mundo central, principalmente os Estados Unidos, está encerrando um dos mais longos períodos -ciclos, como gostam de
chamar os economistas- de crescimento econômico de nossa história. Esse ciclo não só foi muito
longo, mais de dez anos, mas, na
sua fase final, caracterizou-se por
um crescimento extremamente
acelerado. O PIB da maior economia do planeta cresceu a taxas
superiores a 5% ao ano por vários
anos. Outra marca desse período
de bonança econômica e financeira foi a ocorrência de uma intensa mudança tecnológica, que
levou a uma verdadeira revolução na forma de produzir e distribuir bens e serviços, principalmente no setor industrial. Com isso, houve aumento da produtividade das economias no mundo
desenvolvido, permitindo a queda expressiva dos chamados níveis estruturais de desemprego.
Os Estados Unidos, por exemplo,
quebraram o tabu de que, abaixo
de uma taxa de desemprego de
5%, a inflação apareceria. Ela
chegou a 3,9% da população que
efetivamente procura trabalho
sem que a estabilidade dos preços
fosse quebrada. Na França de hoje, em razão da pressão sobre o
mercado de trabalho, está em definição um programa do governo
socialista para punir os franceses
que preferem viver do seguro desemprego em vez de buscar um
emprego no setor privado.
Mas esse período róseo chegou
ao fim e teremos de enfrentar a
desaceleração da atividade em
âmbito mundial. Ela está começando nos Estados Unidos, mas
vai, ao longo de 2001, atingir os
demais países. Discute-se apenas
a intensidade dessa desaceleração. Nesse novo cenário, o comércio mundial vai ser menor, e nossas exportações, principalmente
as de bens industriais, vão sofrer.
Do lado positivo de nossa balança
comercial, temos o cenário esperado para o mercado de petróleo.
A redução do dinamismo nas economias centrais vai reduzir a
pressão sobre os preços desse produto, e o Brasil poderá economizar cerca de US$ 1 bilhão em importações.
Mas o que mais me preocupa é o
lado financeiro dessa equação. Já
existe uma tensão muito grande
nos mercados internacionais de
crédito, com o aparecimento de
um fosso imenso entre os bons e os
maus riscos. Para os primeiros teremos redução dos juros cobrados
e aumento da oferta de crédito;
para os ativos de pior qualidade,
como os papéis brasileiros, aumento expressivo do chamado
"spread" de risco, além de disponibilidade muito menor de recursos. É o que se chama de "fuga para a qualidade". Nessa situação,
será muito mais caro e mais difícil financiar nosso déficit, estimado para 2001 em algo perto de
US$ 26 bilhões. Além da rolagem
de dívidas que vencem, da ordem
de US$ 35 bilhões.
Mesmo o volume de investimentos diretos, que vêm financiando em grande parte nosso déficit em conta corrente, deve reduzir-se, afetado pelas dificuldades
nos mercados internacionais de
crédito. Quando uma multinacional faz investimentos no Brasil,
para participar de uma privatização, por exemplo, esses recursos
vêm de um lançamento de títulos
pela matriz ou pela filial brasileira. Com o mercado internacional
extremamente nervoso devido ao
elevado endividamento das empresas internacionais neste fim de
ciclo, qualquer endividamento
adicional para comprar ativos em
mercados de maior risco, como o
Brasil pode detonar uma reação
irracional dos investidores. Isso já
aconteceu no caso do fracasso recente da privatização da Cesp e
deve continuar ao longo do próximo ano. As matrizes das empresas interessadas na aquisição da
estatal paulista decidiram ficar
fora do leilão com medo de que os
mercados de crédito internacionais punissem seus papéis em
mãos dos investidores.
Esse cenário externo menos favorável vai provocar o aparecimento de pelo menos quatro fatores negativos sobre o nosso crescimento. O primeiro será uma menor arrecadação, pelo governo federal, de recursos na venda de
seus ativos. Neles estão incluídas
as licenças de exploração das novas gerações de celulares que irão
a leilão em 2001 e que estão no
Orçamento federal como recursos
correntes. Em segundo lugar, em
razão da redução dos ingressos de
recursos externos para investimentos, teremos aumento no volume de recursos que terão de ser
tomados nos mercados de crédito,
pressionando os "spreads" dos
papéis brasileiros. Em terceiro lugar, graças à percepção, pelos
mercados, de um maior risco financeiro e uma volatilidade
maior no mercado de câmbio.
Com isso, o apetite das empresas
privadas por empréstimos em dólares deve diminuir, aumentando
a pressão sobre os recursos em
reais.
Finalmente, em razão desse
ambiente financeiro mais tenso,
deveremos ter uma pressão maior
sobre os juros internos. Se o Banco
Central não acomodar a oferta de
crédito bancário interno, pela redução forte do nível atual do
compulsório bancário, poderemos ter uma elevação importante
do custo financeiro das empresas
e dos consumidores. O principal
motor da recuperação de nossa
produção industrial tem sido a
expansão do crédito ao consumidor, que aumentou mais de 50%
neste ano. Maiores juros e maior
cautela dos bancos na expansão
de seus ativos vão afetar o crescimento de nossa indústria de bens
de consumo.
O que não está claro ainda é a
intensidade da deterioração do
cenário externo. Devemos esperar
mais algum tempo para ter um
desenho mais claro desse quadro.
O único ponto positivo e mais
tranquilo para 2001 será o comportamento da inflação, que deve
convergir para os 4% buscados
pelo Banco Central.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 58,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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