São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2006

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Poupança pode fechar o ano com captação positiva

Bancos esperam entrada líquida de R$ 1,3 bilhão, invertendo o fluxo negativo

Depois de seis anos perdendo recursos com a migração de investidores para os fundos, a caderneta volta a ser atrativa


SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A caderneta de poupança poderá encerrar este ano com captação líquida positiva (aplicações superiores aos resgates), após seis anos no vermelho. Até o final de novembro a captação era negativa em R$ 1,3 bilhão. "Esperamos virar esse resultado até o fim do ano, chegando a R$ 1,3 bilhão ou a R$ 1,4 bilhão positivo", diz Osvaldo Correa Fonseca, diretor-geral da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).
Desde setembro, o fluxo de recursos para a poupança vem se mantendo positivo e foi recorde em novembro com a entrada da primeira metade do 13º salário, que voltará a turbinar a captação neste mês. Esse movimento coincide, também, com o período em que os fundos de curto prazo, de renda fixa e DI, destinados ao pequeno investidor, renderam menos que a caderneta.
Levantamento do site Fortuna com 107 fundos populares dessas categorias mostra que nos últimos três meses (setembro a novembro) o ganho líquido do investidor -descontado o Imposto de Renda e a taxa de administração- foi de 1,83%, enquanto a poupança pagou 1,98%. Sobre a poupança não incide IR nem taxa dos bancos.
O Fortuna considera como fundos "populares" aqueles que exigem aplicação mínima inicial de até R$ 5.000, abertos ao público em geral e oferecidos pelas grandes redes bancárias. Neste ano, segundo o levantamento, R$ 2,3 bilhões saíram desses fundos, até o final de novembro. Eles caminharam na contramão do conjunto do setor, que captou R$ 58 bilhões no ano.
Também contrariam o movimento geral dos fundos de varejo, que captaram R$ 17 bilhões líquidos no ano. "Para onde está indo o dinheiro do pequeno investidor? Pode ser para consumo, para a poupança ou para outras aplicações", sugere Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna.
No acumulado em 12 meses até novembro, esses fundos de varejo ainda estão rendendo mais do que a poupança -9,80% contra 8,41% da caderneta. Mas o investidor já começa a fazer as contas e questionar a vantagem cada vez menor dos fundos.

Mudanças
A queda da Selic, de 19,75% ao ano em setembro de 2005 para os atuais 13,25%, vai obrigar o governo e o mercado financeiro a fazer ajustes nos rendimentos das aplicações dos pequenos investidores.
"O governo vai ter de mexer no cálculo da TR, que é parte da remuneração da poupança, e os bancos vão ter de reduzir as taxas de administração dos fundos de investimento", diz o matemático José Dutra Vieira Sobrinho.
Segundo ele, para reequilibrar o mercado de aplicações, será preciso também reduzir o IR que incide sobre os fundos de investimento. "Se nada for feito, e a poupança continuar ganhando atratividade, os bancos terão um problema nas mãos: o que fazer do volume excedente de recursos da poupança?" indaga Dutra.
O Banco Central exige que 65% do total captado seja aplicado em crédito imobiliário. "Se o volume de dinheiro aumentar muito, os bancos não conseguirão cumprir essa exigência, e os recursos serão recolhidos ao Banco Central", observa Dutra. Nesse caso, o Banco Central paga 80% da TR aos bancos. "Eles vão perder dinheiro", acrescenta Dutra.

TR já mudou
Para Fonseca, mesmo que a Selic continue caindo no próximo ano não será necessário mudar a forma de cálculo do rendimento das cadernetas.
"Em abril, o governo desvinculou a TR da Selic e atrelou-a à TBF [Taxa Básica Financeira]", afirma ele. A medida ainda não teve impacto, mas deverá mostrar a que veio a médio e longo prazos.
Para determinar o valor da TR, o BC estabelece um redutor que levava em conta o patamar da Selic, que é a taxa básica paga pelo governo. Já a TBF é uma taxa de mercado, que reflete a média das aplicações feitas com papéis emitidos por instituições financeiras (CDB).
Em outros países, as taxas do governo são sempre menores que as do mercado. "Aqui elas estão invertidas. A mudança feita pelo BC vai permitir que a Selic continue caindo até que, no futuro, fique menor que a TBF", diz Fonseca. Ou seja, nesse processo, a TBF ajustará para baixo a TR e o rendimento da poupança.


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