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Poupança pode fechar o ano com captação positiva
Bancos esperam entrada líquida de R$ 1,3 bilhão, invertendo o fluxo negativo
Depois de seis anos perdendo recursos com a migração de investidores para os fundos, a caderneta volta a ser atrativa
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A caderneta de poupança poderá encerrar este ano com
captação líquida positiva (aplicações superiores aos resgates), após seis anos no vermelho. Até o final de novembro a
captação era negativa em R$ 1,3
bilhão. "Esperamos virar esse
resultado até o fim do ano, chegando a R$ 1,3 bilhão ou a R$ 1,4
bilhão positivo", diz Osvaldo
Correa Fonseca, diretor-geral
da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito
Imobiliário e Poupança).
Desde setembro, o fluxo de
recursos para a poupança vem
se mantendo positivo e foi recorde em novembro com a entrada da primeira metade do
13º salário, que voltará a turbinar a captação neste mês. Esse
movimento coincide, também,
com o período em que os fundos de curto prazo, de renda fixa e DI, destinados ao pequeno
investidor, renderam menos
que a caderneta.
Levantamento do site Fortuna com 107 fundos populares
dessas categorias mostra que
nos últimos três meses (setembro a novembro) o ganho líquido do investidor -descontado
o Imposto de Renda e a taxa de
administração- foi de 1,83%,
enquanto a poupança pagou
1,98%. Sobre a poupança não
incide IR nem taxa dos bancos.
O Fortuna considera como
fundos "populares" aqueles
que exigem aplicação mínima
inicial de até R$ 5.000, abertos
ao público em geral e oferecidos pelas grandes redes bancárias. Neste ano, segundo o levantamento, R$ 2,3 bilhões saíram desses fundos, até o final
de novembro. Eles caminharam na contramão do conjunto
do setor, que captou R$ 58 bilhões no ano.
Também contrariam o movimento geral dos fundos de varejo, que captaram R$ 17 bilhões líquidos no ano. "Para onde está indo o dinheiro do pequeno investidor? Pode ser para consumo, para a poupança
ou para outras aplicações", sugere Marcelo D'Agosto, sócio
do Fortuna.
No acumulado em 12 meses
até novembro, esses fundos de
varejo ainda estão rendendo
mais do que a poupança
-9,80% contra 8,41% da caderneta. Mas o investidor já começa a fazer as contas e questionar
a vantagem cada vez menor dos
fundos.
Mudanças
A queda da Selic, de 19,75%
ao ano em setembro de 2005
para os atuais 13,25%, vai obrigar o governo e o mercado financeiro a fazer ajustes nos
rendimentos das aplicações
dos pequenos investidores.
"O governo vai ter de mexer
no cálculo da TR, que é parte da
remuneração da poupança, e os
bancos vão ter de reduzir as taxas de administração dos fundos de investimento", diz o matemático José Dutra Vieira Sobrinho.
Segundo ele, para reequilibrar o mercado de aplicações,
será preciso também reduzir o
IR que incide sobre os fundos
de investimento. "Se nada for
feito, e a poupança continuar
ganhando atratividade, os bancos terão um problema nas
mãos: o que fazer do volume excedente de recursos da poupança?" indaga Dutra.
O Banco Central exige que
65% do total captado seja aplicado em crédito imobiliário.
"Se o volume de dinheiro aumentar muito, os bancos não
conseguirão cumprir essa exigência, e os recursos serão recolhidos ao Banco Central", observa Dutra. Nesse caso, o Banco Central paga 80% da TR aos
bancos. "Eles vão perder dinheiro", acrescenta Dutra.
TR já mudou
Para Fonseca, mesmo que a
Selic continue caindo no próximo ano não será necessário
mudar a forma de cálculo do
rendimento das cadernetas.
"Em abril, o governo desvinculou a TR da Selic e atrelou-a à
TBF [Taxa Básica Financeira]",
afirma ele. A medida ainda não
teve impacto, mas deverá mostrar a que veio a médio e longo
prazos.
Para determinar o valor da
TR, o BC estabelece um redutor que levava em conta o patamar da Selic, que é a taxa básica
paga pelo governo. Já a TBF é
uma taxa de mercado, que reflete a média das aplicações feitas com papéis emitidos por
instituições financeiras (CDB).
Em outros países, as taxas do
governo são sempre menores
que as do mercado. "Aqui elas
estão invertidas. A mudança
feita pelo BC vai permitir que a
Selic continue caindo até que,
no futuro, fique menor que a
TBF", diz Fonseca. Ou seja,
nesse processo, a TBF ajustará
para baixo a TR e o rendimento
da poupança.
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