São Paulo, sábado, 09 de janeiro de 2010

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EUA surpreendem e voltam a fechar vagas

Cortes atingem 85 mil postos de trabalho em dezembro, ante estimativa de 10 mil demissões; desemprego segue em 10%

Resultado interrompe a melhora dos últimos meses; demitidos estão em média há 29 semanas parados, maior período desde 1948

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Contrariando a maioria das previsões, a economia norte-americana voltou a perder um número expressivo de postos de trabalho em dezembro.
Foram 85 mil demissões no último mês de 2009. O fato reforça a expectativa de que a recuperação da maior economia do mundo poderá ser não apenas lenta, mas com fraca melhora no mercado de trabalho.
Com o resultado do mês passado, a taxa de desemprego nos EUA permaneceu igual à de novembro, em 10%.
A notícia veio acompanhada de relatório do Fed (o banco central dos EUA) mostrando que o crédito disponível para o consumo no país diminuiu em volume recorde de US$ 17,5 bilhões em novembro, totalizando US$ 2,46 trilhões. Em outubro, a queda havia sido bem menor, de US$ 4,2 bilhões.
Há dez meses consecutivos o crédito diminui nos EUA. É o mais longo ciclo de baixa desde 1943, quando essas estatísticas começaram a ser compiladas.
Os dados dos mercados de trabalho e crédito nos EUA são preocupantes porque cerca de dois terços do crescimento econômico do país depende do consumo das famílias.
Além de temer o desemprego e ter menos financiamentos disponíveis, os norte-americanos também poupam mais.
No relatório do Departamento do Trabalho sobre o desemprego, porém, a boa notícia é que os números de novembro foram revisados para cima.
Ao contrário do previsto, foram criadas naquele mês 4.000 vagas, ante anúncio preliminar de 11 mil cortes.
Novembro foi o primeiro mês desde dezembro de 2007 (marco do início da recessão) em que o saldo das contratações superou o de demissões.
Mas o resultado de dezembro interrompeu a tendência dos últimos meses em que o total de demissões vinha diminuindo de maneira constante. A maioria dos analistas esperava um saldo negativo de cerca de 10 mil cortes apenas.
Mas o corte em dezembro é expressivamente menor do que o registrado há um ano, no auge da crise. No início de 2008, o saldo negativo girava em torno de 700 mil cortes por mês.
A maioria das áreas mais dinâmicas da economia norte-americana nos anos recentes voltou a cortar vagas. Mas outros setores dependentes de recursos públicos, como saúde e educação, ajudaram a conter uma redução ainda maior.
Em dezembro, a área de construção civil perdeu 53 mil empregos. A indústria, 27 mil. A despeito de um aumento de cerca de 3% nas vendas do comércio em dezembro (ante o mesmo mês de 2008), esse setor cortou 10 mil vagas no mês.

Adversidades
Para quem está desempregado, o mercado de trabalho nos EUA nunca esteve tão adverso.
Os trabalhadores demitidos estão em média fora do mercado por cerca de 29 semanas, o maior período desde 1948, quando o governo iniciou esses registros. Aproximadamente 4 de cada 10 desempregados estão fora do mercado por seis meses ou mais.
De modo geral, uma série de indicadores recentes (e contraditórios) nos EUA ainda deixa muitas dúvidas sobre a sustentabilidade da recuperação.
A grande incógnita é se a economia está evoluindo apenas por conta de gastos estatais bilionários ou se o setor privado de fato começa a reagir com mais força. Os dados de ontem não foram muito animadores para a segunda hipótese.


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