|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUA surpreendem e voltam a fechar vagas
Cortes atingem 85 mil postos de trabalho em dezembro, ante estimativa de 10 mil demissões; desemprego segue em 10%
Resultado interrompe a melhora dos últimos meses; demitidos estão em média há 29 semanas parados, maior período desde 1948
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Contrariando a maioria das
previsões, a economia norte-americana voltou a perder um
número expressivo de postos
de trabalho em dezembro.
Foram 85 mil demissões no
último mês de 2009. O fato reforça a expectativa de que a recuperação da maior economia
do mundo poderá ser não apenas lenta, mas com fraca melhora no mercado de trabalho.
Com o resultado do mês passado, a taxa de desemprego nos
EUA permaneceu igual à de novembro, em 10%.
A notícia veio acompanhada
de relatório do Fed (o banco
central dos EUA) mostrando
que o crédito disponível para o
consumo no país diminuiu em
volume recorde de US$ 17,5 bilhões em novembro, totalizando US$ 2,46 trilhões. Em outubro, a queda havia sido bem
menor, de US$ 4,2 bilhões.
Há dez meses consecutivos o
crédito diminui nos EUA. É o
mais longo ciclo de baixa desde
1943, quando essas estatísticas
começaram a ser compiladas.
Os dados dos mercados de
trabalho e crédito nos EUA são
preocupantes porque cerca de
dois terços do crescimento econômico do país depende do
consumo das famílias.
Além de temer o desemprego
e ter menos financiamentos
disponíveis, os norte-americanos também poupam mais.
No relatório do Departamento do Trabalho sobre o desemprego, porém, a boa notícia é
que os números de novembro
foram revisados para cima.
Ao contrário do previsto, foram criadas naquele mês 4.000
vagas, ante anúncio preliminar
de 11 mil cortes.
Novembro foi o primeiro
mês desde dezembro de 2007
(marco do início da recessão)
em que o saldo das contratações superou o de demissões.
Mas o resultado de dezembro
interrompeu a tendência dos
últimos meses em que o total
de demissões vinha diminuindo de maneira constante. A
maioria dos analistas esperava
um saldo negativo de cerca de
10 mil cortes apenas.
Mas o corte em dezembro é
expressivamente menor do que
o registrado há um ano, no auge
da crise. No início de 2008, o
saldo negativo girava em torno
de 700 mil cortes por mês.
A maioria das áreas mais dinâmicas da economia norte-americana nos anos recentes
voltou a cortar vagas. Mas outros setores dependentes de recursos públicos, como saúde e
educação, ajudaram a conter
uma redução ainda maior.
Em dezembro, a área de
construção civil perdeu 53 mil
empregos. A indústria, 27 mil.
A despeito de um aumento de
cerca de 3% nas vendas do comércio em dezembro (ante o
mesmo mês de 2008), esse setor cortou 10 mil vagas no mês.
Adversidades
Para quem está desempregado, o mercado de trabalho nos
EUA nunca esteve tão adverso.
Os trabalhadores demitidos
estão em média fora do mercado por cerca de 29 semanas, o
maior período desde 1948,
quando o governo iniciou esses
registros. Aproximadamente 4
de cada 10 desempregados estão fora do mercado por seis
meses ou mais.
De modo geral, uma série de
indicadores recentes (e contraditórios) nos EUA ainda deixa
muitas dúvidas sobre a sustentabilidade da recuperação.
A grande incógnita é se a economia está evoluindo apenas
por conta de gastos estatais bilionários ou se o setor privado
de fato começa a reagir com
mais força. Os dados de ontem
não foram muito animadores
para a segunda hipótese.
Texto Anterior: Concorrência: SDE pede a condenação de associação de criadores de aves Próximo Texto: Análise: Contração pode trazer surpresas positivas Índice
|