São Paulo, domingo, 09 de abril de 2000


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FAST FOOD
Donos de lojas acusam McDonald's de cobrar aluguéis extorsivos e promover "canibalização" da rede
Big Mac perde "sabor" para franqueados

Divulgação
O franqueado Adelino Marinho, de Natal, que quer indenização


ISABEL CLEMENTE
da Sucursal do Rio

A maior franquia de lanchonetes fast food do mundo, considerada um dos melhores negócios do ramo, está sendo processada por franqueados brasileiros endividados. A norte-americana McDonald's é acusada de inviabilizar o negócio.
Desde o final de fevereiro, pelo menos dez ações de várias partes do país (Rio, São Paulo, Natal, Blumenau e Mato Grosso) chegaram à Justiça acusando de extorsivo o valor do aluguel cobrado pelo McDonald's.
Mais ações estão no prelo. Uma chegará à Justiça nos próximos dias, acusando a rede de "canibalização" -quando o franqueador abre lojas muito próximas de um franqueado já estabelecido. Vítimas têm recorrido frequentemente à Justiça dos EUA, onde o mercado está saturado.
Pelo aluguel, o McDonald's cobra de 16% a 21% da receita das lojas, enquanto paga algo entre 3% e 5% sobre as vendas, para o dono do recinto ou o administrador (caso de shoppings).
O McDonald's discorda das acusações. Diz que essa cobrança é legal e afirma que os franqueados insatisfeitos são uma minoria (quase 5% dos 150). "O sistema de franquias aqui é o mesmo no mundo inteiro", afirma o vice-presidente do McDonald's no Brasil Jadir de Araújo.
Dona de uma marca espalhada por 930 pontos-de-venda no país, dos quais 464 são restaurantes, o McDonald's fatura mais de R$ 1 bilhão -cifra que ainda cresce.
De 1994 para cá, o número de franqueados saltou de 31 para 150 e a proporção de lojas próprias, de 35% para 50%, devendo chegar a 65% em três anos.
O norte-americano John Rowell, 57, no país desde os anos 60 e dono de dois restaurantes em São Paulo, viu de perto essa expansão. Desde que abriu sua primeira loja, em 94, um drive-thru no bairro da Mooca, ganhou cinco concorrentes McDonald's, todos drive-thru, a menos de 4 km do seu ponto. Ele diz que suas vendas despencaram 35% desde 1997, melhor ano do restaurante. O McDonald's discorda do cálculo e afirma que o impacto foi menor.
O contrato de franquia não garante exclusividade territorial, mas Rowell alega que sua "área de influência", estimada pelo McDonald's no estudo de implantação do negócio, encolheu.
"Entra-se um pouco de boa-fé, mas vi que a boa-fé estava minguando quando eles abriram um drive-thru a pouco mais de 1 km do meu", disse.
Sem outra fonte de renda e com um investimento de R$ 1 milhão, o que inclui compras de máquinas, Rowell diz que reduzir o aluguel "é questão de sobrevivência". Ele e os demais franqueados que estão na Justiça são alvos de ações de despejo.
"Que o empresário tenha encargos pesados ou perca mercado, faz parte, mas perder receita por culpa do McDonald's é que não dá", diz o advogado Marcelo Ferro, do escritório jurídico que já tem nove ações contra a rede.
O franqueado de Natal, dono de sete pontos McDonald's (dois restaurantes), quer indenizações altas para sair do negócio. Seus problemas começaram quando assumiu, no final de 98, o segundo restaurante da cidade, oferecido a ele pelo McDonald's. "Era pegar ou largar. Se não fosse eu, seria outro", afirma o paulista Adelino Marinho, 32.
A receita do primeiro restaurante foi sendo reinvestida no segundo, diz Marinho, "e onerou de tal forma o negócio que tive de suspender o aluguel".
A polêmica do McDonald's no país ganhou até um página na Internet (www.mcdonalds-problems-in-Brazil.com).



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