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São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2003

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CEM DIAS

Lessa descarta refinanciamento de dívida da AES

"Virei um hortelão com tantos pepinos", diz presidente do BNDES

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa, desabafou ontem de forma bem-humorada dos problemas que vem enfrentando nos primeiros cem dias do governo Lula.
"Quero dizer que a cadeira que assumi há cerca de cem dias não é muito confortável. Inclusive, eu diria quase ter-me convertido em um hortelão [aquele que trata de horta], tal a quantidade de pepinos que venho colhendo. Uma safra muito abundante de problemas", disse, na abertura de seminário sobre o projeto Mãe Canguru, de assistência a recém-nascidos prematuros.
Logo depois da cerimônia, Lessa foi provocado por jornalistas a falar sobre o maior dos pepinos que colheu na horta do BNDES, a dívida de US$ 1,131 bilhão que a empresa AES tem com o banco estatal por conta de financiamentos para a compra de ações da Eletropaulo.
A multinacional, com sede nos Estados Unidos, já acumula uma inadimplência de US$ 415 milhões. "Por favor, não me venham falar de energia elétrica", pediu, sem sucesso.

Créditos a receber
Questionado sobre uma suposta intenção da AES de pagar US$ 85 milhões -valor da parcela vencida desde o dia 31 de janeiro- como forma de abrir espaço para uma renegociação de prazos do restante do débito, Lessa, mesmo afirmando desconhecer qualquer proposta, foi ácido:
"O BNDES tem créditos a receber com a empresa e nós queremos receber nossos créditos. Esses créditos não se resumem a US$ 85 milhões, não. Ao que eu saiba, tem mais US$ 330 milhões [vencidos no dia 28 de fevereiro". Nós queremos receber o que está vencido (...) Não tem sentido ficar falando em refinanciamento."
Lessa disse que um banco querer receber o que lhe é devido "faz parte da doutrina bancária universal desde o século 19". Ele afirmou também que não faz sentido justificar a situação dizendo que as empresas do setor elétrico estão com problemas.

Varig
"A Varig tem problemas. E o que a GE [General Electric, empresa norte-americana credora da Varig] fez? Apreendeu os aviões [dois" da Varig. A explicação de que a Varig está com problemas não é suficiente para evitar que seus aviões sejam apreendidos", comparou.
"A vitória tem muitas paternidades. A derrota é órfã. O empresário, quando tem sucesso, não vem correndo nos dizer: "Vou pagar o dobro do que estou devendo porque obtive sucesso". Quando tem insucesso, ele joga a culpa para fora. O jogo é de risco", atacou.

Outro lado
A AES não quis falar sobre suas propostas nas negociações nem sobre as declarações de Lessa. A empresa informou apenas que não se pronuncia sobre negociações em andamento.


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