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CEM DIAS
Lessa descarta refinanciamento de dívida da AES
"Virei um hortelão com tantos pepinos", diz presidente do BNDES
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), Carlos Lessa, desabafou ontem de forma
bem-humorada dos problemas
que vem enfrentando nos primeiros cem dias do governo Lula.
"Quero dizer que a cadeira que
assumi há cerca de cem dias não é
muito confortável. Inclusive, eu
diria quase ter-me convertido em
um hortelão [aquele que trata de
horta], tal a quantidade de pepinos que venho colhendo. Uma safra muito abundante de problemas", disse, na abertura de seminário sobre o projeto Mãe Canguru, de assistência a recém-nascidos prematuros.
Logo depois da cerimônia, Lessa foi provocado por jornalistas a
falar sobre o maior dos pepinos
que colheu na horta do BNDES, a
dívida de US$ 1,131 bilhão que a
empresa AES tem com o banco
estatal por conta de financiamentos para a compra de ações da Eletropaulo.
A multinacional, com sede nos
Estados Unidos, já acumula uma
inadimplência de US$ 415 milhões. "Por favor, não me venham
falar de energia elétrica", pediu,
sem sucesso.
Créditos a receber
Questionado sobre uma suposta intenção da AES de pagar US$
85 milhões -valor da parcela
vencida desde o dia 31 de janeiro- como forma de abrir espaço
para uma renegociação de prazos
do restante do débito, Lessa, mesmo afirmando desconhecer qualquer proposta, foi ácido:
"O BNDES tem créditos a receber com a empresa e nós queremos receber nossos créditos. Esses créditos não se resumem a
US$ 85 milhões, não. Ao que eu
saiba, tem mais US$ 330 milhões
[vencidos no dia 28 de fevereiro".
Nós queremos receber o que está
vencido (...) Não tem sentido ficar
falando em refinanciamento."
Lessa disse que um banco querer receber o que lhe é devido "faz
parte da doutrina bancária universal desde o século 19". Ele afirmou também que não faz sentido
justificar a situação dizendo que
as empresas do setor elétrico estão com problemas.
Varig
"A Varig tem problemas. E o
que a GE [General Electric, empresa norte-americana credora
da Varig] fez? Apreendeu os
aviões [dois" da Varig. A explicação de que a Varig está com problemas não é suficiente para evitar que seus aviões sejam apreendidos", comparou.
"A vitória tem muitas paternidades. A derrota é órfã. O empresário, quando tem sucesso, não
vem correndo nos dizer: "Vou pagar o dobro do que estou devendo
porque obtive sucesso". Quando
tem insucesso, ele joga a culpa para fora. O jogo é de risco", atacou.
Outro lado
A AES não quis falar sobre suas
propostas nas negociações nem
sobre as declarações de Lessa. A
empresa informou apenas que
não se pronuncia sobre negociações em andamento.
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