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CRIAÇÃO & CONSUMO
Apenas um profissional de negócios
AFFONSO SERRA JR.
Tempos atrás, disse uma frase
que acabou criando polêmica
entre os meus pares. Daquelas
dignas de campanha em julgamento no Conar. "Quem atende cliente é a telefonista."
Alguns a criticaram veementemente, outros tantos me
apoiaram em gênero, número e
grau. Acredito piamente, porém, que o número de críticos
deve ter diminuído consideravelmente.
Afinal, no Brasil de hoje, desculpe-me os que ainda chamam assim aos profissionais
desta área das agências de publicidade, quem atende cliente
é telefonista. E quem carrega
envelopes da agência para a
sede de clientes são os mensageiros. E com a comparação,
não há qualquer intenção de
desmerecer, obviamente, o digno trabalho de telefonistas e
mensageiros. Mas apenas uma
intenção de buscar a denominação correta para uma categoria profissional.
O coração das agências é feito
da mistura de homens e mulheres de criação com homens e
mulheres de negócio. Planejadores. Estrategistas. Profissionais pró-ativos, que se antecipam às necessidades dos clientes. E que fazem muito mais do
que levar layouts ao cliente.
Ou pelo menos é o que deveríamos ter na área que muitos
até hoje conhecem como atendimento, em um país de economia estável, competição crescente, busca contínua e cada
vez mais difícil de diferenciais,
e necessidade premente de
construção e fortalecimento de
marcas.
A qualificação desses profissionais não mais é apenas pivô
de discussão meramente teórica entre muitos líderes do setor
(publicitários e anunciantes).
Hoje, esta falha é séria candidata a calcanhar-de-aquiles de
uma agência, o pior ponto nevrálgico de sua relação com os
clientes. É o que mostram pesquisas feitas anualmente sobre
o relacionamento agência-cliente. Nelas, nota-se que
esta continua a ser uma das
áreas vulneráveis -ou adjetivadas abertamente como fracas- na avaliação dos clientes.
Preocupadas com isto, algumas agências vêm investindo
maciçamente no treinamento
de seus profissionais. Inclusive
com imersões -literais- periódicas no negócio do cliente.
Por imersão, entenda-se entrar
numa rota de caminhão, conhecer a distribuição, a política de preço, enfim, todo o negócio de uma empresa. O atendimento do "eu acho" ou "eu
acredito" está liquidado. Ou se
é um executivo tecnicamente
preparado, sabendo o que -e
porque- falar com os clientes,
ou se está fora do negócio.
Propaganda é um negócio caríssimo. Muito caro para ser
intuitivo e mais caro ainda
quando não dá resultado. Nestas horas, infelizmente o que
deveria ser investimento em
propaganda se transforma em
gasto em propaganda. Desperdício. Marketing é um composto de ações e não apenas colocar no ar um comercial imbuído da esperança de ser a chave
do sucesso. Se a distribuição
não estiver correta, se o preço
estiver equivocado, se a embalagem for contra a evolução
dos hábitos do consumidor, o
comercial significará, tão somente, milhares de reais jogados fora.
Pior ainda, um comercial pode gerar interesse por um produto com problemas graves de
posicionamento mercadológico. Aí, então, acabou-se: no impacto contra a demanda crescente, o produto está liquidado. E vai custar muito reposiconá-lo depois.
Por isso, homens de negócios,
executivos de conta, seja lá como venha a se chamar estes
profissionais -nossa realidade
impõe a aposentadoria compulsória do termo "atendimento"-, têm de ter conhecimentos para questionar o preço de um produto, a distribuição, a embalagem.
Como é que um "homem que
atende" pode defender uma
ousada idéia criativa, desconhecendo as necessidades de
marketing da marca, estando
desatualizado sobre as principais tendências de criação, ignorando as ferramentas tecnológicas e, sobretudo, sem ser alguém "antenado" estética e
culturalmente com o mercado
consumidor? Só pode fazê-lo
alguém que rejeita o limitado,
arcaico e improdutivo papel de
carregador de layouts. No que
me toca, só duas pessoas atendem os clientes: Ana e Zelita,
as telefonistas da DM9.
Affonso Serra Jr., 37, sócio-diretor geral de
operações da DM9 Publicidade.
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