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LUÍS NASSIF
Uma voz contra o arbítrio
O caso Delza Curvello Rocha é o mais grave alerta
até agora formulado contra o poder absurdo concedido a essa
aliança entre uma facção radical
do Ministério Público e a mídia.
Como coordenadora da 5ª Câmara de Coordenação e Revisão,
Delza opinou que não cabia ao
MP deliberar sobre liberações de
verba em relação a um pedido de
sustação de verbas para o TRT.
Com base nesse voto, Luiz
Francisco Fernandes de Souza e
outros procuradores de seu grupo fizeram uma representação
contra ela e contra seu colega
Washington Bolívar de Brito Júnior.
Logo em seguida, a informação
vazou para a imprensa. O "Correio Braziliense" e depois os demais jornais publicaram matérias dizendo que a procuradora e
seu colega que participara da votação estavam "sob suspeita" de
participarem da máfia do TRT.
Aí o grupo radical do MP pegou as cópias dos jornais, com as
matérias fornecidas por eles próprios, colocou dentro de uma capa de processo e assinou um pedido para apurar as denúncias,
fazendo uma representação contra seus colegas.
Reduziu a reportagem a um escrito, grifou o nome de Delza e de
seu colega dizendo que, "diante
da gravidade dos fatos", o MP tinha que apurar. E mandou protocolizar abertamente.
O rapaz do protocolo fez o que
lhe foi pedido, colocou Delza e
Washington como suspeitos e,
como interessados, 16 procuradores que assinaram o documento.
Quando Delza entrou junto à
Justiça para obter a liminar e ter
acesso ao processo, os denunciantes perceberam que, com o
nome de ambos na capa, abria-se espaço para uma ação ordinária contra eles.
Luiz Francisco mandou, então,
a menina do protocolo tirar o
nome dos colegas como suspeitos, colocando no lugar a Secretaria do Tesouro Nacional. Mas
a condenação já estava estampada em todos os jornais.
A reação de Luiz Francisco foi
atribuir a culpa à imprensa.
"A notícia publicada no jornal
"Correio Braziliense", transcrita
pela doutora Delza, não é exata
quando diz que a investigação
seria para apurar o envolvimento de dois subprocuradores na liberação de R$ 12,9 milhões. Não,
o procedimento investigatório
visa apurar como ocorreu a liberação dos quase R$ 13 milhões,
com todas as circunstâncias. O
procedimento tem como finalidade apurar os fatos e não investigar pessoas. Na medida em que
a apuração sobre os fatos (verbos) for feita, surgirão os suspeitos (sujeitos dos verbos)."
Depois de esperar em vão pela
posição do procurador-geral, a
doutora Delza resolveu apelar
para o Conselho de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana. Sua
intenção é que, jogando o caso lá,
a ABI e a OAB entrem na questão e lhe dêem a retaguarda que
não conseguiu junto ao seu procurador-geral.
Na semana passada, recebi dela a seguinte carta com a representação, que reproduzo a seguir:
"Prezado Luís,
(...)O custo que certamente pagarei pela ousadia do documento será elevadíssimo, eu sei.
"Mas prefiro correr todo e
qualquer risco a ter inserido no
ordenamento jurídico nacional
um Ministério Público com tantos poderes e tão pouca consciência das responsabilidades de que
se encontra investido.
"É certo que o Ministério Público não se resume às pessoas
contra as quais representei.
"A turma é grande e boa, mas
está amedrontada -tanto
quanto eu- diante da cobertura que essas ações temerárias
vêm recebendo da mídia, colocando-os como "os salvadores da
pátria" (como se nós outros
-que não nos utilizamos da
mesma "metodologia" por eles
utilizada- fôssemos os "traidores").
"(...)Creio que ambos -imprensa e Ministério Público-
necessitam se sentar e se repensar, pois são duas forças que, juntas, poderão, se assim desejarem,
levar uma nação ao caos.
"(...) Peço que você e a redação
desse conceituado jornal façam
uma reflexão profunda em torno
do papel da imprensa na formação da opinião pública, não permitindo que ela seja manipulada, que seja um instrumento
contra o indivíduo e em consequência contra a própria sociedade.
"Tenho pensado muito sobre
minha instituição -e sei que, da
forma como ela vem se comportando em face do indivíduo, ela
está muito mal.
"Fique certo, Luís, que aqui fora não está nada fácil sobreviver.
"Desculpe-me pelo desabafo.
"Um abraço
"Delza".
E-mail - lnassif@uol.com.br
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