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São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

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BASTIDORES

Argumentos técnicos contiveram pressão política

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A novela do depósito compulsório dentro do governo teve fim ontem. A queda já vinha sendo estudada, mas a ala política do governo pressionou para que fosse acelerada. E já estava irritada com o que classificava de "demora" do presidente do BC, Henrique Meirelles, em dar um refresco para a economia.
A primeira investida mais incisiva da área política ocorreu na semana passada, quando o ministro José Dirceu (Casa Civil) pediu ao ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) medidas para reativar a economia, diante da crescente tensão social no país, com invasões de sem-terra e sem-teto.
Dirceu ouviu de Palocci que, além da queda de juros, o BC em breve iria reduzir o compulsório, o que contribuiria para diminuir os juros cobrados dos consumidores. De posse da informação, Dirceu usou-a para reduzir a insatisfação da bancada petista, que poderia comprometer a votação da reforma da Previdência, considerada fundamental pelo governo para acalmar o mercado.
Em encontro no sábado passado, Dirceu, em conversa reservada com deputados petistas, repassou a novidade que havia sido transmitida por Palocci: o BC concluía estudos para reduzir o compulsório. Palocci teria dito também que a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para os carros já estava acertada (de fato, a Fazenda anunciou a diminuição do imposto na terça-feira).
No início da semana, o BC confirmou que a medida estava em estudos. Mas não se comprometeu com datas. O BC havia decidido cortar o compulsório fazia vários dias. O ministro Palocci tinha conhecimento da medida. Faltava apenas decidir a hora certa.
A pressão dos bancos para a redução aumentara muito desde que o Planalto anunciara, dois meses atrás, o direcionamento de depósitos à vista para o microcrédito. A medida aumentará o custo do dinheiro para os bancos, pois a taxa máxima que poderão cobrar nessa modalidade de crédito será de 2%. Em contrapartida, pediram a redução do compulsório.
Na semana passada, o BC já tinha a expectativa de cortar o compulsório. No entanto houve uma deterioração nas expectativas do mercado financeiro entre quinta-feira e sexta, o que acendeu a luz amarela para o BC. Os juros no mercado futuro haviam subido. Um corte no compulsório poderia ser interpretado como tentativa do BC de forçar os juros para baixo artificialmente, o que poderia provocar mais turbulência.
Além disso, dois fatores jogavam contra o governo. O dólar havia subido, e a expectativa do mercado era que, se a reforma da Previdência não fosse aprovada, a moeda continuaria em alta.
Somado a isso, os bancos têm operado com muita sobra de dinheiro em caixa (alta liquidez). Com um corte no compulsório, a disponibilidade de recursos aumentaria ainda mais. Assim, as instituições financeiras poderiam partir para comprar dólar, o que poderia pressionar demasiadamente a cotação da moeda.
A expectativa da equipe econômica, assim como a do mercado, é que as boas notícias para estimular a economia devem incluir uma nova redução dos juros, hoje em 24,5% ao ano, na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), nos próximos dias 19 e 20.


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