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BASTIDORES
Argumentos técnicos contiveram pressão política
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A novela do depósito
compulsório dentro do governo teve fim ontem. A queda já
vinha sendo estudada, mas a ala
política do governo pressionou
para que fosse acelerada. E já estava irritada com o que classificava
de "demora" do presidente do
BC, Henrique Meirelles, em dar
um refresco para a economia.
A primeira investida mais incisiva da área política ocorreu na semana passada, quando o ministro
José Dirceu (Casa Civil) pediu ao
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) medidas para reativar a
economia, diante da crescente
tensão social no país, com invasões de sem-terra e sem-teto.
Dirceu ouviu de Palocci que,
além da queda de juros, o BC em
breve iria reduzir o compulsório,
o que contribuiria para diminuir
os juros cobrados dos consumidores. De posse da informação,
Dirceu usou-a para reduzir a insatisfação da bancada petista, que
poderia comprometer a votação
da reforma da Previdência, considerada fundamental pelo governo
para acalmar o mercado.
Em encontro no sábado passado, Dirceu, em conversa reservada com deputados petistas, repassou a novidade que havia sido
transmitida por Palocci: o BC
concluía estudos para reduzir o
compulsório. Palocci teria dito
também que a redução do IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados) para os carros já estava acertada (de fato, a Fazenda
anunciou a diminuição do imposto na terça-feira).
No início da semana, o BC confirmou que a medida estava em
estudos. Mas não se comprometeu com datas. O BC havia decidido cortar o compulsório fazia vários dias. O ministro Palocci tinha
conhecimento da medida. Faltava
apenas decidir a hora certa.
A pressão dos bancos para a redução aumentara muito desde
que o Planalto anunciara, dois
meses atrás, o direcionamento de
depósitos à vista para o microcrédito. A medida aumentará o custo
do dinheiro para os bancos, pois a
taxa máxima que poderão cobrar
nessa modalidade de crédito será
de 2%. Em contrapartida, pediram a redução do compulsório.
Na semana passada, o BC já tinha a expectativa de cortar o compulsório. No entanto houve uma
deterioração nas expectativas do
mercado financeiro entre quinta-feira e sexta, o que acendeu a luz
amarela para o BC. Os juros no
mercado futuro haviam subido.
Um corte no compulsório poderia ser interpretado como tentativa do BC de forçar os juros para
baixo artificialmente, o que poderia provocar mais turbulência.
Além disso, dois fatores jogavam contra o governo. O dólar
havia subido, e a expectativa do
mercado era que, se a reforma da
Previdência não fosse aprovada, a
moeda continuaria em alta.
Somado a isso, os bancos têm
operado com muita sobra de dinheiro em caixa (alta liquidez).
Com um corte no compulsório, a
disponibilidade de recursos aumentaria ainda mais. Assim, as
instituições financeiras poderiam
partir para comprar dólar, o que
poderia pressionar demasiadamente a cotação da moeda.
A expectativa da equipe econômica, assim como a do mercado, é
que as boas notícias para estimular a economia devem incluir uma
nova redução dos juros, hoje em
24,5% ao ano, na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central),
nos próximos dias 19 e 20.
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