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LUÍS NASSIF
Inflação e câmbio
Alguns jornalistas sérios indagam: se o Banco
Central desvalorizar o câmbio e
baixar as taxas de juros, como
fica o combate à inflação?
Essa angústia decorre dessa
idéia fixa que tomou conta do
debate econômico, de que se deve esquecer qualquer outra variável da economia, em nome
exclusivo do combate imediato
à inflação. Essa cegueira leva a
políticas que, ao reduzir temporariamente a inflação, abre as
portas para um retorno dela no
futuro, em alto estilo.
O economista fast food do
Banco Central olha o momento
e constata: se desvalorizar o
câmbio agora, poderá ocorrer
nova alta de preços agora. O estrategista olha o momento e
pensa: se não desvalorizar o
câmbio agora, o que poderá
ocorrer com a inflação daqui a
alguns meses?
Repare que, do Plano Real para cá, todos os surtos foram decorrentes da explosão do câmbio. Ou seja, manteve-se o câmbio apreciado por muito tempo
para segurar a inflação do momento, o câmbio explodiu depois, trazendo de volta a inflação.
Aí é importante separar alta
de preços (que ocorre uma vez)
de inflação. Inflação é um processo continuado de alta de preços. Quando ocorre uma desvalorização cambial, a consequência é uma alta de preços,
como ocorreu em 1999 e 2002.
Os contratos indexados são reajustados e os preços dos produtos comercializáveis (exportados ou importados) tornam-se
mais caros que os produtos internos. É esse movimento que
torna as exportações competitivas, permitindo o aumento dos
superávits comerciais.
Se se combate a alta de forma
adequada, ela se esgota em si,
como ocorreu nas últimas desvalorizações. Mas, se o movimento não deixa o câmbio no
nível adequado, mais à frente
ocorre outra crise cambial, com
novos custos a serem pagos pela
sociedade.
Portanto a maneira de criar o
cenário sustentável de equilíbrio de preços é colocar o câmbio em um patamar tal que elimine de vez a possibilidade de
novas desvalorizações. Desvaloriza uma vez em tal nível que
nunca mais a economia precise
depender de capital volátil
-que é aquele que provoca os
choques cambiais.
O governo Luiz Inácio Lula da
Silva conseguiu o presente de
um câmbio que garantiu o
equilíbrio nas contas externas e
uma inflação que, com três meses de juros altos, foi contida. O
Banco Central permitiu que o
câmbio se apreciasse de novo.
Pagou a conta, mas não levou o
bônus.
Agora vai ter que começar de
novo, e esse processo poderá ter
custo menor se bem administrado. Mas é importante que se comece a olhar para a frente, fugindo da síndrome do economista fast food.
Mesmo que signifique um
pouco mais de inflação no momento, a desvalorização cambial é condição essencial para
que não se tenha mais inflação
no futuro.
Câmbio e contas externas
Em 1994, o Banco Central
apreciou o câmbio e criou um
rombo nas contas externas. Em
1999, o câmbio descomprimiu e o
rombo diminuiu. Em 2002, o
câmbio desvalorizou mais ainda
e as contas externas se equilibraram. E o ex-ministro Pedro Malan continua falando que a uma
desvalorização de câmbio corresponde uma inflação que anula os ganhos cambiais. Ele e Mailson da Nóbrega estão lá, cabeça a cabeça.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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