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São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Itens com maior peso no IPCA têm preços administrados e respondem por 43,6% dos 6,85% de janeiro a julho

Governo provoca quase metade da inflação

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Sete dos dez itens que tiveram maior peso na composição do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 6,85% acumulado de janeiro a julho deste ano têm preços administrados ou monitorados pelo governo, de acordo com levantamento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O IPCA é o índice oficial de inflação.
A inflação oficial de 0,20% apurada em julho, com alta de 0,35 ponto percentual sobre a de junho (deflação de 0,15%), também foi basicamente gerada por preços administrados: as tarifas de telefonia fixa e de energia elétrica.
"Isso só serve para mostrar o quão insana é a dose de política monetária que está sendo aplicada no Brasil", disse o economista Fernando Pinto Ferreira, sócio-diretor da consultoria Global Invest. Segundo ele, a retração da demanda por produtos provocada pela alta dos juros "serve para compensar os preços administrados que têm o benefício de reajustes contratuais".
Ele quer dizer que o consumo de produtos que têm preços livres, a maior parte dos itens de uso da população, não precisaria ser tão contido pela aplicação de juros elevados se o BC (Banco Central) tivesse alguma fórmula de separar os preços indexados dos demais.
"Não estou pregando quebra de contratos. Acho é que esses itens precisavam ter um tratamento diferenciado", disse. Para Ferreira, uma solução possível seria uma taxa de inflação expurgada dos preços administrados.
Ele vem há meses criticando a política monetária do governo por considerar que, para cuidar de uma inflação provocada, principalmente, por preços controlados, o governo não precisaria elevar tanto os juros (chegaram a 26,5% e estão agora em 24,5%) nem mantê-los altos por tanto tempo (a taxa básica ficou em 26,5% de fevereiro a junho).

Sete itens geram 43,6%
O levantamento do IBGE mostrou que dez itens responderam por 3,48 pontos percentuais, ou mais da metade do IPCA acumulado de janeiro a julho. Os sete itens do grupo que têm preços administrados ou monitorados responderam por 2,99 pontos na composição dos 6,85% acumulados no período, ou 43,6% do total.
As tarifas de ônibus urbanos deram a maior contribuição para o aumento de preços acumulados no ano. Com alta de 17,11%, elas sozinhas tiveram peso de 0,79 ponto percentual no índice acumulado. As tarifas de energia elétrica vieram logo em seguida, com alta de 16,27% e peso de 0,67 ponto no IPCA acumulado.
Os demais preços não-livres que integram a lista dos dez maiores vilões da inflação acumulada no ano são os da telefonia fixa, dos remédios, das mensalidades escolares, dos ônibus interurbanos e das taxas de água e esgoto.
Embora não sejam sujeitos a índices de reajustes predeterminados, os remédios têm seus preços monitorados e aumentos negociados entre o governo e as empresas do setor. As mensalidades escolares estão sujeitas a regras que só permitem um reajuste por ano, salvo cláusula contratual.
Em julho, caso não tivesse ocorrido o reajuste das tarifas telefônicas, que contribuíram com 0,27 ponto para a composição do índice, teria havido nova deflação, de 0,07%. E, se não tivesse havido também o aumento das tarifas de energia elétrica, a deflação teria sido de 0,16%, ligeiramente maior que a de junho.


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