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ANO DO DRAGÃO
Itens com maior peso no IPCA têm preços administrados e respondem por 43,6% dos 6,85% de janeiro a julho
Governo provoca quase metade da inflação
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
Sete dos dez itens que tiveram
maior peso na composição do
IPCA (Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo) de 6,85%
acumulado de janeiro a julho deste ano têm preços administrados
ou monitorados pelo governo, de
acordo com levantamento feito
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). O IPCA é
o índice oficial de inflação.
A inflação oficial de 0,20% apurada em julho, com alta de 0,35
ponto percentual sobre a de junho (deflação de 0,15%), também
foi basicamente gerada por preços administrados: as tarifas de
telefonia fixa e de energia elétrica.
"Isso só serve para mostrar o
quão insana é a dose de política
monetária que está sendo aplicada no Brasil", disse o economista
Fernando Pinto Ferreira, sócio-diretor da consultoria Global Invest. Segundo ele, a retração da
demanda por produtos provocada pela alta dos juros "serve para
compensar os preços administrados que têm o benefício de reajustes contratuais".
Ele quer dizer que o consumo
de produtos que têm preços livres, a maior parte dos itens de
uso da população, não precisaria
ser tão contido pela aplicação de
juros elevados se o BC (Banco
Central) tivesse alguma fórmula
de separar os preços indexados
dos demais.
"Não estou pregando quebra de
contratos. Acho é que esses itens
precisavam ter um tratamento diferenciado", disse. Para Ferreira,
uma solução possível seria uma
taxa de inflação expurgada dos
preços administrados.
Ele vem há meses criticando a
política monetária do governo
por considerar que, para cuidar
de uma inflação provocada, principalmente, por preços controlados, o governo não precisaria elevar tanto os juros (chegaram a
26,5% e estão agora em 24,5%)
nem mantê-los altos por tanto
tempo (a taxa básica ficou em
26,5% de fevereiro a junho).
Sete itens geram 43,6%
O levantamento do IBGE mostrou que dez itens responderam
por 3,48 pontos percentuais, ou
mais da metade do IPCA acumulado de janeiro a julho. Os sete
itens do grupo que têm preços administrados ou monitorados responderam por 2,99 pontos na
composição dos 6,85% acumulados no período, ou 43,6% do total.
As tarifas de ônibus urbanos deram a maior contribuição para o
aumento de preços acumulados
no ano. Com alta de 17,11%, elas
sozinhas tiveram peso de 0,79
ponto percentual no índice acumulado. As tarifas de energia elétrica vieram logo em seguida, com
alta de 16,27% e peso de 0,67 ponto no IPCA acumulado.
Os demais preços não-livres que
integram a lista dos dez maiores
vilões da inflação acumulada no
ano são os da telefonia fixa, dos
remédios, das mensalidades escolares, dos ônibus interurbanos e
das taxas de água e esgoto.
Embora não sejam sujeitos a índices de reajustes predeterminados, os remédios têm seus preços
monitorados e aumentos negociados entre o governo e as empresas do setor. As mensalidades
escolares estão sujeitas a regras
que só permitem um reajuste por
ano, salvo cláusula contratual.
Em julho, caso não tivesse ocorrido o reajuste das tarifas telefônicas, que contribuíram com 0,27
ponto para a composição do índice, teria havido nova deflação, de
0,07%. E, se não tivesse havido
também o aumento das tarifas de
energia elétrica, a deflação teria sido de 0,16%, ligeiramente maior
que a de junho.
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