São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO FINANCEIRO

Criação de vagas abaixo do esperado não vai estancar processo de elevação da taxa nos EUA, avaliam analistas

Fed deve subir juro, apesar de freio no emprego


MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar da brusca desaceleração na criação de empregos nos Estados Unidos, as taxas de juros devem continuar a subir no país, segundo analistas.
A maioria dos economistas mantém a expectativa de elevação de 0,25 ponto percentual da taxa básica, atualmente em 1,25%, na reunião de amanhã.
Parte do mercado, porém, passou a acreditar em que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) vá elevar os juros básicos em só três das cinco reuniões marcadas até o fim do ano.
A taxa projetada para dezembro foi abaixo de 2%, na sexta-feira, pela primeira vez desde abril.
A trajetória de elevação dos juros não deverá ser interrompida na próxima reunião porque os investimentos e a confiança empresarial continuam em alta.
"O Fed sinalizou que a trajetória é de aumento dos juros. Quão rápido? É a única pergunta. Não acredito que o Fed não eleve os juros. A ata da última reunião deixou claro que a taxa básica subirá. Deve terminar o ano em 1,75% ou em 2%", diz Vitória Saddi, professora de economia do Ibmec.
Além disso, a alta do barril de petróleo e dos metais pressiona os custos das empresas.
Para alguns analistas, o Fed poderá não elevar os juros em setembro se a desaceleração da economia norte-americana se acentuar e a inflação recuar.
"A economia está bem mais fraca do que parece", diz Paulo Tenani, economista do UBS. Segundo ele, já se esperava essa desaceleração em julho, mas não tão forte quanto veio.
"A dúvida agora é se a queda de atividade é transitória ou não. A economia pode acelerar de novo e provocar aumento de preços mais para a frente", diz Tenani.
Economistas estão divididos em relação à desaceleração da economia norte-americana.
Enquanto alguns afirmam que ela vai desaquecer mais, para outros a inflação vai seguir puxada pela demanda. Para outros, ainda, a interrupção da alta viria em outubro porque o Fed não costuma elevar as taxas de juros perto de eleições. E ainda há quem afirme que os juros só vão parar de subir em dezembro.

Brasil
Para o Brasil, o efeito da desaceleração dos EUA é positivo, segundo Tenani.
"O desaquecimento da economia prejudica mais o mercado de bens e, portanto, é pior para a Ásia, o México e o Canadá do que para o Brasil, que é uma economia relativamente fechada. Nossa vulnerabilidade está mais na conta de capitais."
Para Tenani, ao derrubar os juros, cria-se um efeito positivo na conta de capitais, que "é o que nos machuca mais. Isso é mais importante do que reflexos para o comércio entre os dois países".
Os juros americanos de prazo mais longo, os mais apropriados para medir a liquidez para o Brasil, estão em queda. A taxa de juros dos papéis de dez anos do Tesouro dos EUA estava na sexta em 4,20% (há um mês, em 4,50%).
Para Saddi, a desaceleração nos EUA é negativa para o Brasil. "O mundo cresce menos. Cai o PIB dos EUA, cai o do Brasil", diz ela, que não vê possibilidade de desaquecimento nos EUA, "a menos que estoure outra bomba".
Para Saddi, até dezembro, como reflexo da alta dos juros, não deverá haver novas emissões de títulos. "O dinheiro alocado para vir já veio. Não vai haver mais captação externa, soberana ou privada. E o Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central brasileiro] terá dificuldade em cortar a taxa básica de juros até lá."


Texto Anterior: Critérios para calcular a carga têm diferenças
Próximo Texto: Vizinho em crise: Argentina suspende revisões com o FMI
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.