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OPINIÃO ECONÔMICA
"Bloco do Bem"
BENJAMIN STEINBRUCH
Há uns três anos, escrevi neste espaço sobre a falta que
faz ao país um "Partido do Emprego e da Produção", que batizei com a sigla PEP. Achava e
ainda acho que um país do tamanho do Brasil deveria ter um
grupo de pessoas, na área política, cuja principal preocupação
-para não dizer obsessão- fosse a defesa de medidas para promover o desenvolvimento da economia.
Digo isso, porque, nos últimos
dias, finalmente, acendeu-se
uma luz de racionalidade no
meio da crise política. Pessoas de
todos os partidos, da oposição e
da situação, deram-se conta de
que "o Congresso precisa voltar a
legislar, e o governo, voltar a governar", como disse o presidente
da CNI (Confederação Nacional
da Indústria), Armando Monteiro.
Pretende-se com essa iniciativa
garantir o que se chamou de
agenda mínima para que os
avanços continuem na área econômica, apesar do ambiente pesado da apuração e de punição
de culpados nos casos de corrupção.
Há uma série de ações que não
podem ser abandonadas por
causa da crise. O governo não pode, por exemplo, deixar de lado
as discussões sobre a retomada
do investimento público, principalmente em infra-estrutura, vital para criar as condições para a
continuidade do crescimento da
produção. As PPPs (Parcerias
Público-Privadas), cuja legislação já foi aprovada no Congresso, precisam ser iniciadas.
Já é agosto, e o Congresso, que
não teve recesso em julho, mas
praticamente só cuidou de CPIs,
tem a responsabilidade de dar
continuidade a projetos como os
das agências reguladoras, do
marco regulatório do setor de saneamento, da segunda parte da
reforma tributária e da reforma
política, ainda que limitada à indispensável imposição de maiores obrigações de fidelidade partidária. Coisas como essas, que
parecem firulas, são na verdade
muito importantes para criar
condições para a seqüência do
crescimento da economia e do
emprego no país.
É uma pena que o país fique
paralisado à espera do lento desenrolar das CPIs. É preciso ter
em conta que, enquanto isso se
dá, no Brasil real, 54 milhões de
pessoas, cerca de 32% da população, vivem na miséria, com renda familiar inferior a meio salário mínimo por mês. Outros 22
milhões de brasileiros vivem na
indigência, com menos de um
quarto de salário mínimo.
Esses brasileiros -a maior
parte deles provavelmente nunca
ouviu falar em Comissões Parlamentares de Inquérito- esperam que o governo e a sociedade
possam lhes abrir alguma perspectiva de emprego com remuneração digna. É nisso que se pensa
quando se fala em agenda mínima, que poderia ser apoiada por
um "Bloco do Bem", formado por
políticos de todos os partidos, que
certamente seriam membros natos do PEP.
Existem naturais dificuldades
para a construção de coalizões
no Congresso Nacional. Infelizmente, alguns políticos continuam a se pautar pelo lema do
"quanto pior, melhor". Acham
que crises políticas e desastres
econômicos podem abrir espaço
para a realização de seus objetivos de poder. Esses não merecem
respeito da opinião pública. Só
têm direito a consideração aqueles que pensam em primeiro lugar nos interesses públicos e que,
em momentos como este, quando
a estabilidade econômica está
em jogo, esquecem até possíveis
rusgas pessoais para pensar no
país.
Apesar de todo o clima de conflito, há certamente mais de três
centenas de parlamentares, de
todos os partidos, capazes de integrar esse "Bloco do Bem" no
Congresso. Não vejo uma única
razão para que eles não se unam.
Benjamin Steinbruch, 51, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho
de administração da empresa e primeiro
vice-presidente da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo).
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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