São Paulo, terça-feira, 09 de agosto de 2005

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OPINIÃO ECONÔMICA

"Bloco do Bem"

BENJAMIN STEINBRUCH

Há uns três anos, escrevi neste espaço sobre a falta que faz ao país um "Partido do Emprego e da Produção", que batizei com a sigla PEP. Achava e ainda acho que um país do tamanho do Brasil deveria ter um grupo de pessoas, na área política, cuja principal preocupação -para não dizer obsessão- fosse a defesa de medidas para promover o desenvolvimento da economia.
Digo isso, porque, nos últimos dias, finalmente, acendeu-se uma luz de racionalidade no meio da crise política. Pessoas de todos os partidos, da oposição e da situação, deram-se conta de que "o Congresso precisa voltar a legislar, e o governo, voltar a governar", como disse o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro.
Pretende-se com essa iniciativa garantir o que se chamou de agenda mínima para que os avanços continuem na área econômica, apesar do ambiente pesado da apuração e de punição de culpados nos casos de corrupção.
Há uma série de ações que não podem ser abandonadas por causa da crise. O governo não pode, por exemplo, deixar de lado as discussões sobre a retomada do investimento público, principalmente em infra-estrutura, vital para criar as condições para a continuidade do crescimento da produção. As PPPs (Parcerias Público-Privadas), cuja legislação já foi aprovada no Congresso, precisam ser iniciadas.
Já é agosto, e o Congresso, que não teve recesso em julho, mas praticamente só cuidou de CPIs, tem a responsabilidade de dar continuidade a projetos como os das agências reguladoras, do marco regulatório do setor de saneamento, da segunda parte da reforma tributária e da reforma política, ainda que limitada à indispensável imposição de maiores obrigações de fidelidade partidária. Coisas como essas, que parecem firulas, são na verdade muito importantes para criar condições para a seqüência do crescimento da economia e do emprego no país.
É uma pena que o país fique paralisado à espera do lento desenrolar das CPIs. É preciso ter em conta que, enquanto isso se dá, no Brasil real, 54 milhões de pessoas, cerca de 32% da população, vivem na miséria, com renda familiar inferior a meio salário mínimo por mês. Outros 22 milhões de brasileiros vivem na indigência, com menos de um quarto de salário mínimo.
Esses brasileiros -a maior parte deles provavelmente nunca ouviu falar em Comissões Parlamentares de Inquérito- esperam que o governo e a sociedade possam lhes abrir alguma perspectiva de emprego com remuneração digna. É nisso que se pensa quando se fala em agenda mínima, que poderia ser apoiada por um "Bloco do Bem", formado por políticos de todos os partidos, que certamente seriam membros natos do PEP.
Existem naturais dificuldades para a construção de coalizões no Congresso Nacional. Infelizmente, alguns políticos continuam a se pautar pelo lema do "quanto pior, melhor". Acham que crises políticas e desastres econômicos podem abrir espaço para a realização de seus objetivos de poder. Esses não merecem respeito da opinião pública. Só têm direito a consideração aqueles que pensam em primeiro lugar nos interesses públicos e que, em momentos como este, quando a estabilidade econômica está em jogo, esquecem até possíveis rusgas pessoais para pensar no país.
Apesar de todo o clima de conflito, há certamente mais de três centenas de parlamentares, de todos os partidos, capazes de integrar esse "Bloco do Bem" no Congresso. Não vejo uma única razão para que eles não se unam.


Benjamin Steinbruch, 51, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
E-mail - bvictoria@psi.com.br


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