UOL


São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para Fazenda, crescimento deve ocorrer sem surto inflacionário

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, afirmou ontem que o Brasil tem hoje condições muito melhores do que teve no passado para um crescimento sustentável, sem surtos inflacionários.
Em seminário no Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Appy disse que a perspectiva de crescimento sustentável pode levar as empresas a buscarem eficiência em favor do consumidor. Segundo ele, em vez de tentarem recompor as margens de lucros com aumento de preços, as empresas tendem a valorizar, num cenário estável, preços competitivos para a conquista de uma maior participação no mercado.
"Acho que existe espaço no Brasil para um ambiente de maior concorrência entre as empresas, puxada pela perspectiva de crescimento. A concorrência pode levar as empresas a buscarem eficiência em favor do consumidor", afirmou Appy.
Segundo o secretário-executivo, a situação está mais favorável ao crescimento sustentável do que no governo anterior. Essa situação é clara, disse, quando se analisa a situação das contas externas.
Para que esse crescimento aconteça, Appy disse que o governo não pode abrir mão do tripé inflação baixa, rigor fiscal e contas externas sólidas.
O economista Edmar Bacha, que participou do seminário, concorda com Appy quando ele disse que o desafio é crescer sem gerar inflação. Bacha apresentou um estudo que mostra que o grau de não-utilização da capacidade instalada no Brasil aumentou a partir da década de 80. Entre 1940 e 1980, a média de não-utilização dessa capacidade foi de 3%. Nos últimos 20 anos, essa porcentagem aumentou para 9%.
"Ocupar a capacidade instalada é o grande gargalo. Como antes a gente ocupava 97% em média e hoje ocupa 91%? Isso é um grande mistério. Eu estou convencido de que não é por falta de demanda. Ao tentar utilizar mais a capacidade, a inflação se acelera de uma forma que não se acelerava antes. Isso é um enigma", disse Bacha.
Para ele, uma das hipóteses para explicar esse enigma tem a ver com o histórico de calotes que marcou a economia brasileira nos últimos 20 anos. "Os empresários passaram a exigir uma taxa de remuneração do capital mais elevada. Isso faz com que a inflação se acelere e, quando o governo tenta controlar a inflação, a capacidade usada diminui", afirmou.
A solução para esse "gargalo", disse Bacha, passa por reformas institucionais e gestos que restabeleçam a confiança. "Demos calote durante uma década inteira. Aprendemos que não podemos dar mais", disse.
Já o economista argentino Roberto Frenkel, diretor do Banco da Província de Buenos Aires, afirmou ontem que o Brasil ainda não conseguiu sair da "armadilha" do endividamento externo.
"Ainda há uma situação de endividamento e dúvidas sobre a rolagem da dívida que fazem com que o risco-país ainda esteja muito alto. Por essa razão, os juros ainda têm que ser necessariamente altos, o que faz com que a economia tenha mais dificuldade para crescer", afirmou Frenkel.


Texto Anterior: Política monetária: Palocci sinaliza ao FMI relaxamento no juro
Próximo Texto: Mercado reduz mais expectativa para o PIB
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.