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Para Fazenda, crescimento deve
ocorrer sem surto inflacionário
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard
Appy, afirmou ontem que o Brasil
tem hoje condições muito melhores do que teve no passado para
um crescimento sustentável, sem
surtos inflacionários.
Em seminário no Instituto de
Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro),
Appy disse que a perspectiva de
crescimento sustentável pode levar as empresas a buscarem eficiência em favor do consumidor.
Segundo ele, em vez de tentarem
recompor as margens de lucros
com aumento de preços, as empresas tendem a valorizar, num
cenário estável, preços competitivos para a conquista de uma
maior participação no mercado.
"Acho que existe espaço no Brasil para um ambiente de maior
concorrência entre as empresas,
puxada pela perspectiva de crescimento. A concorrência pode levar
as empresas a buscarem eficiência
em favor do consumidor", afirmou Appy.
Segundo o secretário-executivo,
a situação está mais favorável ao
crescimento sustentável do que
no governo anterior. Essa situação é clara, disse, quando se analisa a situação das contas externas.
Para que esse crescimento aconteça, Appy disse que o governo
não pode abrir mão do tripé inflação baixa, rigor fiscal e contas externas sólidas.
O economista Edmar Bacha,
que participou do seminário, concorda com Appy quando ele disse
que o desafio é crescer sem gerar
inflação. Bacha apresentou um
estudo que mostra que o grau de
não-utilização da capacidade instalada no Brasil aumentou a partir
da década de 80. Entre 1940 e
1980, a média de não-utilização
dessa capacidade foi de 3%. Nos
últimos 20 anos, essa porcentagem aumentou para 9%.
"Ocupar a capacidade instalada
é o grande gargalo. Como antes a
gente ocupava 97% em média e
hoje ocupa 91%? Isso é um grande
mistério. Eu estou convencido de
que não é por falta de demanda.
Ao tentar utilizar mais a capacidade, a inflação se acelera de uma
forma que não se acelerava antes.
Isso é um enigma", disse Bacha.
Para ele, uma das hipóteses para
explicar esse enigma tem a ver
com o histórico de calotes que
marcou a economia brasileira nos
últimos 20 anos. "Os empresários
passaram a exigir uma taxa de remuneração do capital mais elevada. Isso faz com que a inflação se
acelere e, quando o governo tenta
controlar a inflação, a capacidade
usada diminui", afirmou.
A solução para esse "gargalo",
disse Bacha, passa por reformas
institucionais e gestos que restabeleçam a confiança. "Demos calote durante uma década inteira.
Aprendemos que não podemos
dar mais", disse.
Já o economista argentino Roberto Frenkel, diretor do Banco
da Província de Buenos Aires,
afirmou ontem que o Brasil ainda
não conseguiu sair da "armadilha" do endividamento externo.
"Ainda há uma situação de endividamento e dúvidas sobre a rolagem da dívida que fazem com
que o risco-país ainda esteja muito alto. Por essa razão, os juros
ainda têm que ser necessariamente altos, o que faz com que a economia tenha mais dificuldade para crescer", afirmou Frenkel.
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