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COMÉRCIO
Fábricas querem saber por quanto o varejo consegue vender o produto
Loja negocia "de trás para a frente"
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Para colocar os lançamentos nas
prateleiras no final do ano, fabricantes passaram a fazer negociações de preço com o varejo "de
trás para a frente". Em vez de levar as tabelas de reajustes embaixo do braço -e conseguir taxas
de aumento- alguns fabricantes
já determinaram os preços dos
lançamentos com base nos valores das mercadorias antigas. E desistiram de fixar agora uma taxa
de reajuste para os produtos que
serão lançados no Natal.
"A idéia é definir com o varejo
por quanto ele consegue vender
bem o produto. E comparar com
o valor comercializado por outras
marcas. É o que se chama de negociar "de trás para a frente'", diz
João Cláudio Guetter, vice-presidente da área de portáteis da Electrolux. A empresa lançou um refrigerador por pouco mais de R$
1.200 -patamar atual de preço
médio das geladeiras da marca.
"Nós sempre tentamos trabalhar dessa forma e, neste momento, abrir essa possibilidade de negociação pode fazer a diferença",
diz Aldo Moino, diretor de marketing da Ericsson. A empresa
venderá dois novos modelos de
celulares por R$ 400 a R$ 600 a
partir de outubro.
Os preços também estão dentro
do oferecido pela empresa às operadoras, que revendem a mercadoria ao consumidor.
Reajuste deve ocorrer
O valor atingido pelos itens negociados dessa forma possivelmente não será o esperado pela
indústria de bens duráveis -que
chegou a apresentar tabelas de aumento de preços de até 30% após
a disparada do dólar.
Mas os fabricantes não pretendem abrir mão de aumentos em
cima dos lançamentos. Normalmente, as conversas para a venda
desses itens acontece no início de
outubro. Nesse caso, as conversas
já ocorreram e como não há espaço para reajustes elevados -pela
questão da demanda retraída-
há a possibilidade de o reajuste ser
jogado para o começo de 2003.
Isso porque nesse período começa uma nova rodada de negociações para os pedidos do ano.
"Nas conversas com o varejo,
trabalhamos com o dólar a R$
3,20. Se continuar nesse patamar
de R$ 3,70 até o final do ano, vamos ter de rever isso porque então há perda", diz Guetter.
O que incomoda os fabricantes
-e não convence o varejo- é
que, mesmo trabalhando dessa
forma (ou seja, procurando definir valores sem uma tabela na
mão), fica difícil colocar lançamentos nas prateleiras sem um
preço novo.
"Não é porque é lançamento
que precisa subir o preço. O produto novo entra em linha de produção numa fábrica com elevada
produtividade e com custos fixos.
Não há razão para subir", diz Valdemir Colleone, superintendente
das Lojas Cem -rede que vendeu
em setembro 8% menos do que
em setembro de 2001.
Os fabricantes discordam. Afirmam que as mercadorias lançadas tendem a ter uma parcela elevada de insumos importados. Dependendo do modelo de refrigerador, por exemplo, 40% do produto tem custo atrelado à moeda
norte-americana. No caso dos celulares, os modelos que chegarão
no Natal terão até 90% das peças
importadas.
"A idéia é segurar o máximo
possível. Acreditamos que até o final do ano dá para manter os preços nos patamares atuais. Depois,
se a cotação da moeda americana
estiver em R$ 3,70, então a história pode mudar", diz Moino.
As dificuldades do varejo e da
indústria para driblar a alta do dólar existem desde meados do ano,
quando as redes foram pressionadas pelos fabricantes com novas
tabelas de preços. A princípio, foram aceitos aumentos em conta-gotas -de 2% a 3% a cada mês-
no caso da linha de imagem e som
(TV e videocassete) e linha branca
(freezers e geladeiras).
Como a demanda não cresceu
desde então, há uma tentativa de
achar novos modelos de negociação entre as partes.
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