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COMÉRCIO MUNDIAL
Chanceler diz que é preciso "mais diálogo" dentro do governo, mas defende a postura do Itamaraty
Para Amorim, houve "falha de comunicação"
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As divergências internas do governo em relação à Alca (Área de
Livre Comércio das Américas),
explicitadas pelos ministros Roberto Rodrigues (Agricultura) e
Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), são resultados de falha
na comunicação interna do governo, disse o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim.
"[É preciso] melhorar o nível de
comunicação interna", afirmou,
ao comentar as principais conclusões da reunião de ontem com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros Furlan, Antonio
Palocci Filho (Fazenda) José Dirceu (Casa Civil) e Jaques Wagner
(Trabalho) e o assessor especial
da Presidência, Marco Aurélio
Garcia.
Apesar do discurso conciliatório de Amorim, a Folha apurou
com diplomatas brasileiros que o
Itamaraty avalia que sua obrigação não é defender os interesses
de um ou de outro ministério nas
negociações, mas apresentar uma
política de governo, que leve em
conta as mais diversas opiniões,
inclusive as contrárias à Alca.
Amorim deixou claro que cabe
ao Itamaraty "coordenar as negociações". E disse que nem sempre
é possível consultar seus pares sobre estratégias de negociação.
"Todos elogiaram a atuação do
Itamaraty em Cancún. O Itamaraty, no entanto, nunca consultou
outro ministério sobre a criação
do G20", disse o ministro.
Cancún foi a última reunião da
OMC (Organização Mundial do
Comércio), na qual o Brasil liderou a formação de um grupo de
países em desenvolvimento para
pressionar os países ricos a flexibilizar as negociações agrícolas.
Amorim, embora reconheça a
necessidade de maior diálogo
com seus pares, defendeu a posição do Itamaraty na reunião.
"Não havia nada de essencialmente novo na proposta que o
Mercosul fez na reunião."
Segundo ele, o Brasil e seus parceiros no Mercosul apresentaram
uma proposta baseada em decisões que haviam sido tomadas em
reuniões ministeriais no Brasil e
que tinham o aval do presidente
Lula. "Era de pleno conhecimento
dos ministros", disse ele.
Segundo Amorim, o presidente
demonstrou preocupação com o
impacto da disputa pública dos
seus ministros na imagem externa do país. Seria prejudicial para o
país nas negociações passar a
idéia de que existem diferenças
internas sobre como deve ser conduzido o processo negociador.
"Nós todos temos telefone. É
muito fácil", ironizou Amorim,
ao comentar a necessidade de
manter um diálogo mais intenso
com outros ministros.
Segundo diplomatas do Itamaraty, o governo brasileiro nunca
tratou de forma tão transparente
e democrática o debate interno
sobre a Alca. A reunião da semana
passada foi a primeira na qual
participaram como delegados oficiais do Brasil representantes sindicais, de ONGs e de ministérios,
como o do Desenvolvimento
Agrário, que não eram incluídos
nas negociações.
Com relação às críticas de que o
Brasil estaria isolado nas negociações da Alca por ser intransigente
-Rodrigues fez comentários
nesse sentido há dois dias-,
Amorim foi categórico: "Essa
idéia de isolamento ou é um certo
complexo de perseguição ou uma
tática para desacreditar a posição
brasileira".
A declaração não foi feita como
resposta a Rodrigues. Quando
questionado sobre as afirmações
do seu colega, Amorim indicou
que não havia problemas entre os
dois. O ministro da Agricultura
não participou da reunião ontem
porque estava no Uruguai.
Bastidores
Os setores defensores da Alca,
como o Ministério do Desenvolvimento, não estão nada satisfeitos com a atuação do secretário-geral do Itamaraty, embaixador
Samuel Pinheiro Guimarães, nas
negociações.
Guimarães ficou conhecido ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), quando foi exonerado, em 2001, da direção do Ipri (Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais)
por criticar abertamente a participação do Brasil na Alca. Guimarães estava viajando ontem e não
foi encontrado.
Para alguns integrantes do governo, Guimarães tenta centralizar as discussões internas sobre a
Alca e não permite aos ministérios mais favoráveis ao acordo defenderem suas posições. Ele é cotado para substituir o atual embaixador brasileiro em Buenos
Aires, José Botafogo Gonçalves.
Colaborou Sílvia Mugnatto,
da Sucursal de Brasília
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