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LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Tempo de crescer
ALOIZIO MERCADANTE
Desde a crise da dívida externa, foram poucos os momentos em que a economia brasileira mostrou um dinamismo
elevado e superior ao da economia mundial. Durante a década
de 70, tínhamos crescido a uma
taxa anual de 8,8%, muito acima da média mundial (4,43%).
Mas daí para frente, até 2003,
nossa trajetória foi tendencialmente declinante, interrompida
por ciclos curtos de expansão nos
triênios 84/86 e 93/95.
Esse período caracterizou-se
por um grande dinamismo do
comércio internacional, que
aproveitamos relativamente
bem nos anos 70 e em parte dos
anos 80, mas não na década de
90, quando a média anual de
crescimento de nossas exportações caiu a 3,40% anuais, diminuindo nossa participação no total mundial.
A partir de 2003, restabeleceu-se o dinamismo das exportações,
com crescimento médio de 26,4%
ao ano, bem acima dos 7,37% registrados pelas exportações mundiais. E em 2004 a economia brasileira voltou a crescer bastante
acima da média dos últimos dez
anos, reabrindo o debate sobre
as possibilidades de aceleração e
sustentação do ritmo de crescimento do PIB (Produto Interno
Bruto).
Consolidar um novo padrão de
crescimento do mercado interno
com inserção internacional dinâmica é fundamental para expandir o emprego e a renda. Isso
não se conseguirá engessando a
economia com políticas monetárias desnecessariamente rígidas
adotando como teto do produto
potencial 3,5% de crescimento
do PIB. Com essa taxa e um crescimento demográfico de 1,1%
anuais, chegaríamos a 2022 com
uma renda per capita de US$
12.290 (paridade de poder de
compra), com aumento de apenas 53% em 18 anos.
Enquanto isso, o Chile, mantendo a média do período 1990/
2003 (5,6% anuais de crescimento do PIB) e um crescimento demográfico similar ao nosso, teria
em 2022 uma renda per capita
de US$ 23.591; a Coréia, mantendo sua média de 5,5% anuais e
com 0,4% de aumento da população, chegaria naquele mesmo
ano a US$ 49.943; e a Espanha,
com sua população praticamente estabilizada e crescimento médio de 2,8%, alcançaria US$
40.496.
A situação econômica hoje é
propícia à aceleração do crescimento. O quadro internacional
continua positivo, a inflação está
sob controle, estamos gerando
superávits comerciais recordes, o
risco-país caiu abaixo de 380
pontos e a dívida pública interna
foi estabilizada e desdolarizada.
Temos condições e potencialidades para crescer muito mais
do que 3,5% ao ano e ampliar o
espaço para a redução do desemprego e a adoção de políticas de
combate à desigualdade social.
Porém, a manutenção de taxas
reais de juros elevadas -indutoras da valorização do real e do
aumento de operações especulativas, potencialmente desestabilizadoras, nos mercados futuros,
que reforçam a tendência à apreciação do câmbio-, ao limitar o
investimento público e privado,
não contribui para o aproveitamento desse cenário favorável,
construído com seriedade e sacrifício pelo atual governo e pela sociedade brasileira.
Aloizio Mercadante, 51, é economista
e professor licenciado da PUC e da Unicamp, senador por São Paulo e líder do
governo no Senado Federal.
Internet: www.mercadante.com.br
E-mail -
mercadante@mercadante.com.br
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