São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS

Tempo de crescer

ALOIZIO MERCADANTE

Desde a crise da dívida externa, foram poucos os momentos em que a economia brasileira mostrou um dinamismo elevado e superior ao da economia mundial. Durante a década de 70, tínhamos crescido a uma taxa anual de 8,8%, muito acima da média mundial (4,43%). Mas daí para frente, até 2003, nossa trajetória foi tendencialmente declinante, interrompida por ciclos curtos de expansão nos triênios 84/86 e 93/95.
Esse período caracterizou-se por um grande dinamismo do comércio internacional, que aproveitamos relativamente bem nos anos 70 e em parte dos anos 80, mas não na década de 90, quando a média anual de crescimento de nossas exportações caiu a 3,40% anuais, diminuindo nossa participação no total mundial.
A partir de 2003, restabeleceu-se o dinamismo das exportações, com crescimento médio de 26,4% ao ano, bem acima dos 7,37% registrados pelas exportações mundiais. E em 2004 a economia brasileira voltou a crescer bastante acima da média dos últimos dez anos, reabrindo o debate sobre as possibilidades de aceleração e sustentação do ritmo de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto).
Consolidar um novo padrão de crescimento do mercado interno com inserção internacional dinâmica é fundamental para expandir o emprego e a renda. Isso não se conseguirá engessando a economia com políticas monetárias desnecessariamente rígidas adotando como teto do produto potencial 3,5% de crescimento do PIB. Com essa taxa e um crescimento demográfico de 1,1% anuais, chegaríamos a 2022 com uma renda per capita de US$ 12.290 (paridade de poder de compra), com aumento de apenas 53% em 18 anos.
Enquanto isso, o Chile, mantendo a média do período 1990/ 2003 (5,6% anuais de crescimento do PIB) e um crescimento demográfico similar ao nosso, teria em 2022 uma renda per capita de US$ 23.591; a Coréia, mantendo sua média de 5,5% anuais e com 0,4% de aumento da população, chegaria naquele mesmo ano a US$ 49.943; e a Espanha, com sua população praticamente estabilizada e crescimento médio de 2,8%, alcançaria US$ 40.496.
A situação econômica hoje é propícia à aceleração do crescimento. O quadro internacional continua positivo, a inflação está sob controle, estamos gerando superávits comerciais recordes, o risco-país caiu abaixo de 380 pontos e a dívida pública interna foi estabilizada e desdolarizada.
Temos condições e potencialidades para crescer muito mais do que 3,5% ao ano e ampliar o espaço para a redução do desemprego e a adoção de políticas de combate à desigualdade social. Porém, a manutenção de taxas reais de juros elevadas -indutoras da valorização do real e do aumento de operações especulativas, potencialmente desestabilizadoras, nos mercados futuros, que reforçam a tendência à apreciação do câmbio-, ao limitar o investimento público e privado, não contribui para o aproveitamento desse cenário favorável, construído com seriedade e sacrifício pelo atual governo e pela sociedade brasileira.


Aloizio Mercadante, 51, é economista e professor licenciado da PUC e da Unicamp, senador por São Paulo e líder do governo no Senado Federal.
Internet: www.mercadante.com.br
E-mail -
mercadante@mercadante.com.br


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